Napoleão disparou contra as Pirâmides do Egito? Entenda a polêmica do filme
Aventuras Na História
Um dos maiores comandantes de todos os tempos, Napoleão Bonaparte é uma figura emblemática da história mundial. Estrategista e ambicioso, foi responsável por redesenhar o mapa da Europa, mas pereceu diante da sua fome por conquista. Sua vida continua sendo alvo de estudo e sua trajetória permanece difundida em livros, séries e filmes, como Napoleão, dirigido por Ridley Scott, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 23.
O longa, estrelado por Joaquin Phoenix, recebeu consultoria histórica do professor Michael Broers, da Universidade de Oxford; um dos principais especialistas acadêmicos sobre o tema: "Todos nos sentávamos à mesa e todos davam a sua opinião", disse ao portal TimeOut.
[Ridley Scott] parava de vez em quando, apontava para mim e dizia: 'Ok, diga-me o que realmente aconteceu'. Isso não quer dizer que ele iria aderir, mas ele quer saber", explica.
Apesar da consultoria com Broers, Napoleão vem recebendo diversas críticas em relação à veracidade dos fatos retratados nas telonas. A equipe do site Aventuras na História já assistiu ao filme e esclarece uma das principais polêmicas do longa: afinal, Napoleão disparou contras as Pirâmides do Egito?
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Críticas e polêmicas
Uma das cenas que mais nos chamou a atenção foi sobre a retratação da expedição militar de Napoleão ao Egito, iniciada em julho de 1798. Apesar da passagem não apresentar explicações sobre o episódio, chama a atenção por mostrar as tropas napoleônicas atirando contra pirâmides.
Conforme o próprio Michael Broers reconhece: "Não! Isso definitivamente não aconteceu durante a campanha de Napoleão no Egito". Entretanto, o especialista salienta que existem algumas evidências de que os soldados franceses possam ter disparado contra o nariz da Esfinge.
Eu questionei ao [Ridley]: 'Vamos, atire no topo das pirâmides?'. Mas ele respondeu: 'Bem, você riu, não foi?'. Aprendi que não estávamos fazendo um documentário, mas sim um filme", explicou.
Ao The Times, Scott também falou sobre a cena fantasiosa: "Não sei se ele fez isso mesmo, mas era um jeito rápido de mostrar que ele conquistou o Egito". Mas, afinal, o que Napoleão foi fazer no Egito?
Missão napoleônica
Um dos militares de maior prestígio em seu país, Napoleão Bonaparte — e a França — ainda tinha um inimigo a ser batido: a Grã-Bretanha, que gozava de um forte poder naval; algo que o preocupava.
Na tentativa de enfraquecer o Império Britânico, Napoleão organizou uma expedição militar ao Egito, iniciada em julho de 1798. Seu objetivo era acabar com o meio dos ingleses de fazer negócios comerciais com a Índia. Para isso, precisaria estabelecer a França no Oriente Médio.
Embora tenha conquistado Malta e derrotado os exércitos otomanos no país, o francês sofreu um duro golpe durante a Batalha do Nilo, quando foi superado pelo almirante Nelson. Além disso, sua tropa também foi atingida por um surto de peste bubônica. Mas isso não significa que a expedição foi um total fracasso.
Importante ressaltar que, semanas antes do início da expedição, Bonaparte foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências. Sua admiração pela área de estudo lhe fez levar 167 cientistas (entre naturalistas, matemáticos, químicos e outros) para o Egito. O grupo foi responsável por uma série de publicações científicas (o Description de l'Égypte) e achados inestimáveis, como a Pedra de Roseta.
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Em agosto de 1799, o fragmento polido de uma pedra entalhada foi encontrado próximo à cidade de Roseta. Nele continha glifos cunhados, de forma separada, em três diferentes línguas: demótico, grego e hieróglifos.
A pedra, com cerca de 112 centímetros de altura por 75 de largura, teve seus escritos reproduzidos e enviados para tradução. Em abril de 1802, o Reverendo Stephen Weston traduziu a parte grega; meses depois o demótico foi decifrado pelo francês Antoine-Isaac Silvestre de Sacy e o sueco Johan David Åkerblad.
No entanto, os hieróglifos se tornaram um mistério por mais de duas décadas. O francês Jean-François Champollion só conseguiu compreendê-los em 1822. "A pedra mais famosa do mundo", como é chamada, está em exibição no Museu Britânico, em Londres, desde 1802.
Pós-Egito
Por fim, o longa de Ridley Scott conta que Napoleão deixou o Egito ao saber das traições de sua esposa, Josefina de Beauharnais. Mas, o militar também recebeu notícias sobre a situação da França, que no final dos anos 1790 vivia um período de instabilidade e crise econômica impulsionada por uma série de derrotas na Guerra da Segunda Coalizão.
O Diretório — regime político que comandava o país — também sofria uma onda de críticas, sendo taxado não só de ineficaz, como também de impopular e corrupto. O país passou a ser tomado por uma vontade de que uma liderança autoritária controlasse a nação e colocasse as rédeas no lugar.
Saudado como herói em seu retorno à França, Bonaparte aproveitou deste momento para articular um Golpe de Estado e derrubar o Diretório. Por meio de alianças políticas, em 9 de novembro de 1799, realizou o Golpe do 18 de Brumário — nome dado a um dos meses no calendário revolucionário francês que pretendia substituir o gregoriano. A data também marca o fim da Revolução Francesa.