O dia em que uma participante revelou que o pai era pedófilo em game show
Aventuras Na História
O game-show ‘Nada Além da Verdade’, transmitido pelo SBT entre os anos de 2008 e 2010, chamou a atenção do público brasileiro ao sabatinar grandes personalidades brasileiras, como artistas, comunicadores e até políticos, com o uso de um polígrafo nos participantes para atestar a veracidade das respostas.
Exibido no Brasil, o programa, na verdade, tratava-se da importação de um formato estrangeiro, chamado ‘The Moment of Truth’ (‘O Momento da Verdade’, em tradução livre). Em ambos, a dinâmica ocorria ainda antes da gravação em estúdio, com um examinador de polígrafo responsável por um questionário e apontando inconsistências nas respostas sensoriais, para selecionar as mais questionáveis ou antiéticas para irem ao ar.
21 dessas perguntas são escolhidas para serem respondidas pelo competidor no set, com a família ou amigos próximos do participante os observando no estúdio enquanto eles revelam verdades inquietantes de suas vidas, valendo, na versão norte-americana, US$ 500 mil no ano de 2008.
Embora responder a mais perguntas proporcionasse a possibilidade de ganhos financeiros maiores, isso também significava tornar as perguntas consideravelmente mais íntimas, levando os participantes a se questionarem se as consequências valiam a pena.
Diante do desafio, a participante Melanie Williams aceitou participar e foi selecionada para o 10º episódio da 2ª temporada. No entanto, seu passado obscuro, investigado quando enviou sua história para a produção, revisitou um aspecto perturbador de sua vida.
Melanie nasceu em uma comunidade polígama, onde seus pais praticavam a troca de casais com outras famílias e grupos sociais. Esse fato curioso foi suficiente para gerar uma série de perguntas sobre ela e seus pais no programa.
A revelação
Apesar da tensão, Melanie conseguiu chegar à pergunta final, que valia o prêmio máximo do programa. Na presença de seus familiares na plateia, o apresentador Mark L. Walberg a questionou diretamente: "Você acredita que seu pai, já adulto, teve relações sexuais com uma menor de idade?".
Em lágrimas, ela diz que sim e ganha o prêmio máximo, mesclando a comemoração da plateia com a cara de decepção dos parentes. A situação, visivelmente desconfortável, aumenta com o choro intenso da participante.
"É uma pergunta complicada porque a coisa toda não era ele fazendo isso, eram os homens dizendo a ele o que fazer, eles lhe deram uma esposa e ele a pegou", explicou ela. "Você intensifica e toma esposas nesta sociedade e ele fez e se sente muito culpado por isso."
O pai dela também falou sobre o episódio após a chocante revelação em rede nacional: "A esposa número dois tinha 17 anos... Ela tinha acabado de sair do ensino médio", disse ele. "O pai dela perguntou se eu queria casar com ela e tinha tudo organizado e essa era a religião em que eu acreditava, então eu fiz."
A família, por sua vez, tenta abraçá-la, sem sucesso. A jovem saiu com o prêmio, mas somente no ano de 2011 que decidiu expor o motivo da revelação.
Por trás da resposta
Em um blog, ela explicou o lado obscuro dos encontros poligâmicos familiares, no qual caracterizou como seitas, acrescentando que muitas relações eram arranjadas. Ela também relatou que sofreu com isso durante a adolescência e o pai fazia pouco caso, visto aproveitar filhas de outros adeptos.
Meu pai nunca irá para a cadeia porque em Utah um crime expira após 10 anos. Eu obviamente não queria que meu pai fosse para a cadeia, daí todo o choro. No entanto, acredito que os homens devem esperar até que uma menina tenha 18 anos para se casar”, escreveu Melanie em 2011.
Contudo, consultou o pai sobre o convite do programa e chegou a ser estimulada a participar, acrescentando que não fez apenas pelo dinheiro, mas foi até o fim, pois, “queria aumentar a conscientização sobre o que acontece nessas comunidades polígamas".
Em 2020, ela participou do podcast Checkered Tablecloth Talks, detalhando que a família tinha relação com a FLDS (Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), que posteriormente se tornou conhecida com a revelação e prisão de crimes sexuais contra garotas de 12 a 15 anos por seu líder, Warren Jeffs, retratado na série 'Rezar e Obedecer', da Netflix.