O impostor: Frédéric Bourdin, o homem que assumiu diversas identidades

Em meio às inúmeras produções audiovisuais feitas todos os anos, um gênero que possui uma base de adoradores bem forte atualmente é o de documentário. Esse formato, por sua vez, é principalmente caracterizado por retratar, de maneira simples, acontecimentos reais, em um modelo quase jornalístico.

Um documentário bastante notório é 'O Impostor', lançado em julho de 2012 e dirigido por Bart Layton. Ele conta a história de um homem francês que viria a ficar conhecido como "O Camaleão", depois se passar por diversas vezes por outras pessoas — mas sua lenda começaria depois de fingir ser Nicholas Barclay, um garoto do Texas, nos Estados Unidos, que desapareceu em 1996, aos 13 anos.

O desaparecimento de Barclay

Conforme narrado no documentário, Nicholas Barclay desapareceu no dia 13 de junho de 1994, na cidade de San Antonio, Texas, após uma partida de basquete. Na época, a polícia passou a suspeitar que o garoto tivesse sido sequestrado ou mesmo morto; porém, nenhum corpo foi encontrado, e as buscas foram canceladas.

Três anos se passaram sem que a família Barclay recebesse qualquer notícia do garoto, até que, de repente, eles foram contatados por autoridades da Espanha, que alegaram ter encontrado Nicholas. Como resultado, a família partiu para reencontrar o garoto, mas quando chegaram, perceberam que aquele que foram encontrar era diferente: aquele que devia ser loiro e ter olhos azuis, tinha cabelos que mais pareciam oxigenados, olhos castanhos e sotaque francês.

Uma série de testes foram feitos, e toda uma investigação, relatada no documentário, acabou por revelar que aquele garoto realmente não era Nicholas. Na verdade, ele se chamava Frédéric Pierre Bourdin, e era seis anos mais velho que o jovem desaparecido — ou seja, enquanto a família buscava alguém que deveria ter cerca de 16 anos, ele já tinha mais de 20.

Frédéric Bourdin

Bourdin nasceu no dia 13 de junho de 1974 na comuna francesa de Nanterre, próximo aos subúrbios ocidentais de Paris. No entanto, ele nunca foi criado pelos pais — a mãe o abandonou para se casar com o pai do garoto, um argelino chamado Kaci. Ao crescer com os avós na cidade de Nantes, decidiu fugir em direção a Paris, ainda na adolescência.

Segundo o site The Scotsman, Bourdin afirmou em entrevistas posteriores que nunca soube exatamente o porquê de ter fingido — e o caso de Barclay não foi único — ser outras pessoas, mas que sempre buscou o "amor e carinho", além da atenção que nunca recebera durante a infância. 

Após se declarar culpado de fraude de passaporte e perjúrio no caso de Nicholas Barclay, Bourdin foi condenado a seis anos de prisão. Atrás das grades, ele continuou com seu costume de se passar por outras pessoas, e manteve a história que criou com Barclay.

O camaleão

Fora da prisão nos Estados Unidos, Bourdin retornou à França, onde continuou a se passar por pessoas desaparecidas. Em 2003, na comuna de Grenoble, assumiu a identidade de Léo Balley, um menino de 14 anos que estava desaparecido desde 1996 — porém, exames de DNA desmentiram-no mais uma vez.

Um ano depois, ele fingiu ser Rubén Sánchez Espinoza, um adolescente espanhol cuja mãe faleceu em ataques a bomba em Madrid. Quando a verdade foi descoberta, o impostor fora enviado de volta para a França.

Em 2005, assumiu a identidade de outro órfão espanhol, Francisco Hernandes-Fernandez, e chegou até mesmo a frequentar o Collège Jean Monnet, em Pau, França, durante um mês.

Nessa época, alegou que os pais morreram em um acidente de carro, vestiu-se como um adolescente, mudou seu estilo de andar — até que funcionários da escola escutaram sobre Bourdin em um programa de TV. Naquele mesmo ano, ele seria preso novamente pela posse e uso da identidade de Léo Balley anos antes.

Hoje em dia

Em 2007, Frédéric Bourdin se casou com uma mulher francesa chamada Isabelle, depois de um ano de namoro. Acredita-se que eles tiveram cinco filhos, até que o impostor publicou em seu Facebook, anos depois, que Isabelle o havia deixado para viver com outro homem. Hoje, não se sabe exatamente do paradeiro de Bourdin, mas em artigo no The Daily Mirror certa vez ele relatou que "nunca mais se passaria por ninguém".

Já o caso de Nicholas, por sua vez, permaneceu sem conclusão até hoje. Investigações policiais suspeitaram que Jason, seu irmão mais velho, tenha sido o responsável pela morte e ocultação de cadáver de Nicholas; mas o caso nunca teve desfecho, visto que Jason morreu em 1998, devido a uma overdose de cocaína, droga da qual desenvolveu dependência depois do desaparecimento do irmão. Com sua morte, as investigações foram paralisadas.

Ainda assim, alguns investigadores acreditam que Nicholas pode ter simplesmente fugido de casa quando jovem, e que poderia estar vivendo até hoje na região de San Antonio.