O Resgate do Soldado Ryan: Como o filme afetou os veteranos da vida real?
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Hoje em dia, são vários os cineastas que servem, no geral, como referências cinematográficas. Alguns apreciam a composição e uso de câmera de Stanley Kubrick, outros os diálogos complexos de Tarantino, ou mesmo os crimes das histórias de Scorsese. E outro nome que nunca pode ser deixado de lado é o de Steven Spielberg.
O cineasta estadunidense é conhecido por dirigir uma série de filmes de sucesso — alguns inclusive pioneiros em subgênero — e que marcaram época, como 'Tubarão' (1975), 'Jurassic Park' (1993), 'A Lista de Schindler' (1993)... Porém, provavelmente aquela que é considerada sua obra-prima cinematográfica é 'O Resgatedo Soldado Ryan' (1998).
Ainda hoje, o filme é visto como uma das mais célebres produções de cinema de guerra, com uma narrativa ocorrida em meio à Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Nele, acompanhamos quando "o capitão John Miller [Tom Hanks] leva seus homens para trás das linhas inimigas para encontrar o soldado James Ryan [Matt Damon], cujos três irmãos foram mortos em combate. Cercados pela brutal realidade da guerra, cada homem embarca em uma jornada pessoal e descobre sua própria força para triunfar sobre um futuro incerto com honra, decência e coragem".
Produção do filme
Detalhes curiosos sondam 'O Resgate do Soldado Ryan' desde sua produção. Segundo a Collider, o roteiro surgiu a partir da obra não-ficcional 'Dia D: 6 de junho de 1944: A Batalha Climática da Segunda Guerra Mundial' (na tradução para o português), escrita por Stephen Ambrose. Outro fator é que a história é inspirada em um acontecimento real além da guerra: a dos irmãos Niland.
+ 'O Resgate do Soldado Ryan': Existe uma história real por trás do filme?
Porém, certamente um dos fatores que mais diferenciam 'O Resgate do Soldado Ryan' de muitos outros filmes do gênero é o fato de que, mesmo uma produção estadunidense, não conta com todo o patriotismo e romantização da guerra já vistos na história do cinema hollywoodiano. Em vez disso, adota uma maior ênfase no realismo e nas atrocidades humanas cometidas na guerra.
Isso se deve principalmente ao fato de que, enquanto entrevistava veteranos de guerra para moldar sua perspectiva sobre os acontecimentos, Spielberg sentiu-se muito tocado com os relatos, feitos por homens que imploravam que a história fosse contada de maneira honesta, retratando o real horror desse conflito. Inicialmente, o diretor planejava um filme mais centrado na política e nas relações-públicas.
Além do mais, a decisão de filmar 'O Resgate do Soldado Ryan' com cores — diferente do que foi feito em 'A Lista de Schindler' — faz com que a obra apresentasse ainda mais realismo, tornando a violência muito mais real e visceral. Inicialmente, vale dizer, Spielberg planejava filmar na Normandia, onde ocorreu o Dia D, mas como as praias eram marcos históricos protegidos, isso foi realizado na Irlanda.
Dia D
Uma cena inesquecível em 'O Resgate do Soldado Ryan' é a brutal passagem do fatídico Dia D, quando as tropas estadunidenses desembarcaram na Praia de Omaha, em Normandia, na França. Nela, a câmera parece ser um recorte em primeira pessoa de um soldado quando mostra, ainda antes do tiroteio, soldados nervosos, enjoados e tremendo nas embarcações, com expressões angustiadas.
A filmagem é marcada por um dos melhores usos de câmera de Spielberg, quando se torna mais que um meio para retratar um acontecimento, como também provoca empatia — tornando-se assim mais um instrumento de sentir do que de ver. E de fato, quem mais sentiu o impacto da cena foram os verdadeiros veteranos.
Verdadeiros soldados
Segundo a Collider, a cena do desembarque na Praia de Omaha construída por Spielberg foi tão precisa que, em 1998, o Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA precisou até mesmo criar uma linha gratuita para oferecer ajuda a veteranos sobreviventes que tiveram reações negativas às imagens. Foram muitos os registros de pessoas com transtorno de estresse pós-traumático após o evento.
Na época, a CBS News conversou com alguns desses veteranos, um dos quais inclusive relatou que "assistir ao filme era como estar de volta à batalha". Outros ainda diziam que a cena dificultou noites de sono, e que se sentiam gratos por existir a tela da TV bloqueando a saraivada de tiros retratada.
Para o bem ou para o mal, fato é que 'O Resgate do Soldado Ryan' consagrou-se como uma das obras-primas de guerra já feitas por Hollywood, e Spielberg teve sucesso — talvez até demais — em sua missão de fazer um retrato fiel e brutal da guerra.