Vitória de 'Ainda Estou Aqui' é muito mais simbólica do que parece

Aventuras Na História






O Brasil finalmente conquistou seu primeiro Oscar, e não poderia ser por um filme mais simbólico.
Ainda Estou Aqui, que narra a tragédia de uma família despedaçada pela Ditadura Militar, rompeu barreiras e levou ao palco do maior prêmio do cinema uma história que há muito tempo precisa ser lembrada.
Se vencer o Oscar já seria um feito histórico para o país, fazê-lo com um filme que denuncia um dos períodos mais sombrios da nossa história é uma mensagem poderosa. Nenhuma vitória poderia carregar um significado mais profundo.
EUA e as ditaduras
O prêmio também é uma denúncia sobre o apoio dos EUA às ditaduras latino-americanas. No Brasil, termos como Operação Brother Sam, Operação Condor, Lincoln Gordon e Escola das Américas ainda não fazem parte do senso comum, mas deveriam, pois eles explicam por que nosso país é como é.
Muitos enxergam o período entre 64 e 85 como um fato isolado, mas não foi. A ditadura militar brasileira fez parte de uma estratégia global durante a Guerra Fria. O apoio dos Estados Unidos ao golpe de 1964 foi decisivo.
A Operação Brother Sam garantiu suporte militar caso os golpistas precisassem, enquanto Lincoln Gordon, embaixador americano, articulava a queda de João Goulart. Nos anos seguintes, o Brasil se tornou peça fundamental da Operação Condor, colaborando com outras ditaduras sul-americanas para perseguir, sequestrar e matar opositores.
Um filme que tem como pano de fundo tudo isso foi a nossa primeira vitória no Oscar. Que simbólico. Que roteiro que a vida fez.
O cinema tem o poder de transformar números e relatórios frios em vida. Memória. Ainda Estou Aqui ajuda a dar significado ao sofrimento daqueles que desapareceram ou foram torturados, mas também a dar um sentido ao sofrimento dos familiares dessas pessoas, como o filme retrata de forma excepcional.
Ao conquistar um Oscar, esse filme não só coloca o Brasil no mapa da indústria, mas também insere nossa história no debate global.
A vitória é uma lembrança clara: a memória não pode ser apagada, e a justiça não pode ser esquecida. De alguma forma, os que se foram ainda estão aqui e hoje também estão sendo apresentados a milhões de pessoas ao redor do mundo.


