Música pop tornou-se mais triste nos últimos 50 anos, diz estudo
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Há algumas décadas, hits que falavam de amores intensos e celebrações do cotidiano dominavam o topo das paradas. A música pop era, essencialmente, um espaço de alegria, afeto e escapismo. Hoje, o cenário é outro. Um novo estudo sugere que a trilha sonora do sucesso passou a refletir sentimentos bem menos ensolarados.
Menos alegria, mais estresse
Pesquisadores da Universidade de Viena analisaram mais de 20 mil músicas que estiveram no Billboard Hot 100 entre 1973 e 2023. O que encontraram foi uma mudança gradual, porém consistente, no humor das letras: palavras ligadas a ansiedade, solidão e pressão estão mais presentes; o otimismo vem diminuindo; e o tom emocional está mais negativo e introspectivo.
Além disso, as letras ficaram mais simples e repetitivas. Para medir isso, a equipe usou um método curioso. Quanto mais fácil uma letra era para um algoritmo comprimir, menos variado e sofisticado era o vocabulário.
Um reflexo de mudanças culturais
O fenômeno também aparece no Brasil. Se a MPB já foi marcada por paisagens, encontros e delicadezas emocionais, parte das produções atuais mergulha em conflitos internos, ansiedade e desilusão.
Mesmo assim, os pesquisadores destacam que não estamos diante do “fim” da música feliz. “Nossos achados descrevem padrões estatísticos amplos ao longo de milhares de músicas”, afirma o autor Mauricio Martins. “Isso não significa o desaparecimento de músicas alegres, esperançosas ou sofisticadas”.
Nem todo momento histórico difícil trouxe mais tristeza às paradas. A interpretação dos autores é que, em períodos traumáticos, o público pode buscar na música um descanso emocional, escolhendo canções que se distanciam da dor coletiva.
Música como termômetro social
Os dados acompanham outras tendências do nosso tempo: crescimento dos diagnósticos de ansiedade e depressão, mais exposição emocional nas redes e comunicação cada vez mais rápida e pragmática.
Se a música pop de hoje soa mais direta, mais angustiada e menos elaborada, isso pode revelar muito sobre nós mesmos: a pressão constante, a busca por eficiência e a urgência em expressar o que dói.
A música, como sempre, continua sendo um espelho: mais do que um produto de entretenimento, ela traduz o que estamos sentindo – mesmo quando ainda não sabemos colocar em palavras.
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