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Brasileiro atropelado por Michael Jackson relembra acidente: "Foi uma coisa freak show"
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Brasileiro atropelado por Michael Jackson relembra acidente: "Foi uma coisa freak show"

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Hollywood Forever TV
25/07/2023 23h00
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©Crédito: Márcio de Paula/Arquivo Pessoal
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Sabe aquele momento em que a sua vida muda completamente de um dia para o outro? Para Márcio Alberto de Paula, isso aconteceu em 1993, no dia em que ele foi atropelado pela comitiva de ninguém menos que Michael Jackson. Dali em diante, o jornalista de 45 anos precisou lidar com a fama instantânea, o assédio da mídia, os ferimentos terríveis causados pelo acidente e muito hate. No entanto, o episódio que poderia ter sido traumático foi ressignificado e também proporcionou coisas maravilhosas, incluindo um encontro marcante com o Rei do Pop.


O DIA DO ACIDENTE

No dia 13 de outubro de 1993, Michael Jackson desembarcava no Brasil com a turnê Dangerous para realizar duas grandes apresentações marcadas para os dias 15 e 17 do mesmo mês, no Estádio do Morumbi. Assim que chegou em São Paulo, o astro fez sua primeira parada no parque de diversões Playcenter, acompanhado de filhos de amigos americanos.

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Crédito: Divulgação

No dia seguinte, cogitando visitar o setor infantil do Hospital Darcy Vargas, Michael decidiu ir até à fábrica de brinquedos Estrela, localizada em Guarulhos, para comprar presentes para as crianças. Porém, as coisas não saíram como o esperado. A convite dos colegas da época, Márcio, que morava próximo à fábrica, resolveu ir até o local para tentar ver o cantor, foi então que o acidente aconteceu.

“Esse dia foi horrível. Tanto eu quanto a minha família estávamos em luto, porque no dia 12 de outubro a minha avó materna havia falecido. Então no dia 13 eu fiquei o tempo todo em casa e no dia 14, que foi o dia que meus amigos foram até a minha casa para me dar um abraço, aconteceu esse acidente”, contou em entrevista exclusiva ao HFTV.

Eles foram me dar um abraço e falar: ‘A propósito, o Michael Jackson está lá na Estrela. Vamos dar um pulo lá? Vai ser até bom para você se distrair. Eu falei: ‘Meu Deus, tá’. Foi tudo muito corrido, tudo muito rápido, a molecada toda correu para lá”.

Acompanhado da irmã, Márcio, que tinha 15 anos na época, sentiu “uma sensação muito ruim” ao observar a enorme quantidade de fãs, imprensa e policiais em frente à fábrica. Então, para se afastar da multidão, ele decidiu ficar encostado em um carro da polícia. De acordo com o jornalista, não havia seguranças o suficiente no local, pois os funcionários da Estrela sabiam que Michael estaria lá e acabaram levando parentes. Quando o Rei do Pop e sua comitiva perceberam que dentro da fábrica estava tão cheio quanto fora, resolveram cancelar a missão.

Os carros deram meia volta, nesse momento eu estava lá parado no capô do carro da polícia, e quando os portões da fábrica se abriram, aquela multidão ficou alvoroçada e os carros começaram a perder o controle, e foram desviando das pessoas, porque as pessoas se jogavam em frente aos carros. E nisso, os veículos dele foram batendo na viatura que eu estava encostado. Então, na verdade, eu fui prensado pelo carro da comitiva dele”.

Márcio não foi o único atingido, outras pessoas se machucaram, inclusive sua irmã mais nova, que sofreu queimaduras pelo corpo. No entanto, o caso dele foi o mais grave. “Eu sofri muitos ferimentos, tive uma fratura exposta do fêmur e precisei ser operado às pressas. Da cintura para baixo eu me machuquei todo”, contou.

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Crédito: Divulgação/Folha de S. Paulo

A VISITA DE MICHAEL JACKSON NO HOSPITAL

A visita de Michael foi uma grande surpresa para o jovem de 15 anos, que não soube de nada até o momento em que viu o Rei do Pop bem na sua frente. Segundo Márcio, no dia do encontro, funcionários do hospital entraram no quarto e chamaram seus pais para uma reunião privada, algo que o deixou aflito.

Meus pais voltaram após uns 40 minutos. Voltaram brancos que nem folha de papel, e eu falei: ‘O que houve?’, porque eu automaticamente imaginei que era algo relacionado a minha saúde. Pensei, ‘meu Deus, eu vou morrer’”.

Os pais de Márcio conseguiram enganar o menino e manteram a notícia da visita de Michael Jackson em segredo. Enquanto isso, uma força tarefa foi se organizando no hospital para receber o astro. Além da limpeza, a segurança do local também foi reforçada. “Todos os pacientes tiveram que ficar reclusos nos seus quartos, cada quarto tinha um segurança na porta, ninguém podia colocar nem a cabeça para fora”, contou. 

Antes de entrar no quarto, Michael Jackson se encontrou com alguns médicos para se informar sobre o estado de saúde de Márcio. Em seguida, foi até o local onde o menino repousava para surpreendê-lo.

“Ele entrou com uma equipe de reportagem. Foi uma algazarra, uma barulheira. Ele chegou, segurou o meu rosto… ele virava o meu rosto para câmera porque eu ficava olhando para ele. Eu não acreditava”, relembrou. “Ai ele foi cumprimentar os meus pais. Ele foi muito educado, muito gentil”.

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Crédito: Márcio de Paula/Arquivo Pessoal

Após fazer fotos, o Rei do Pop pediu para que todos da equipe de reportagem saíssem, ficando no quarto apenas a família de Márcio, três meninos que acompanhavam o cantor e uma tradutora.

O jornalista se lembra de ter ficado impressionado com a voz de Jackson. “Conforme ele começava a falar, eu pensava, ‘meu Deus, eu não estou acreditando nisso’. Parecia que eu estava ouvindo um álbum dele. Eu não acreditava que era real.”

Aquela voz única, inigualável, aquele timbre dele falando ali baixinho… Então ele tirou os óculos, ficou a vontade, brincou, deu uma voltinha ali, fez um passinho de dança para tentar descontrair a situação porque tanto eu quanto a minha família, nós ficamos petrificados.”

Para Márcio, a visita de Michael foi um “divisor de águas” em sua vida. “As pessoas ficaram tão empolgadas que esqueceram até de pentear meu cabelo, eu apareci com um cabelo pavoroso, com uma cara pavorosa na foto, é uma mágoa que eu tenho até hoje de todos os envolvidos”, brincou.


SUCESSO INSTANTÂNEO E ASSÉDIO DA MÍDIA

Após cinco dias internado, Márcio de Paula deixou o hospital para se recuperar em casa, onde ficou três meses de cama. O cuidado que recebeu da família foi fundamental para não deixá-lo com nenhuma sequela, no entanto, o pós-acidente se tornou um verdadeiro pesadelo devido ao sucesso instantâneo e o assédio da mídia.

Foi pavoroso, foi algo horrível. As pessoas foram muito maldosas, muito cruéis. Enquanto eu estava na minha casa, estava tudo certo, eu ainda não tinha tido contato com o mundo real, não havia passado por nenhuma situação de exposição. Mas quando achei que a minha vida ia voltar ao normal, eu entendi que ela tinha virado um inferno.”

Márcio, que não era fã de Michael Jackson na época do acidente, passou a ser visto por muitos como “interesseiro”, além disso, os jornais da época diziam que ele havia se jogado na frente do carro de propósito para ficar próximo de seu “ídolo”.

“Eu não tinha dimensão da carreira e da proporção do Michael Jackson, porque eu nunca tinha parado para observar ele. Algumas músicas eu conhecia, eu tinha o álbum ‘Bad’, mas eu não tinha a real dimensão da importância dele para o pop. Então, na época, quando eu sofri o acidente, eu gostava, mas eu não era fã. Eu fui movido pela curiosidade”, explicou. “Eu não tinha a idolatria que eu via muita gente ter. Eu ainda estava conectado com Xuxa, o meu universo musical estava direcionado para um outro rumo.”

“Os jornais diziam: ‘fã se joga na frente do carro para ficar próximo ao ídolo’, e não foi o que aconteceu”, afirmou Márcio. “Eu também fui visto como uma pessoa que queria extorquir o Michael Jackson, meus pais foram vistos dessa forma também”.

A situação ficou ainda pior quando começaram a relacionar a acusação de abuso sexual infantil contra o cantor com o encontro de Michael e Márcio no hospital. “Meses depois, quando achei que as coisas poderiam melhorar, só piorou, porque 1993 e 1994 foi o auge do primeiro processo do Michael Jackson sobre abuso sexual. Então eu com 15 anos, ele indo me visitar, ele ficando comigo no quarto, isso foi todo o combustível que alimentou a ideia de gente desmiolada.”

De atropelado pelo Michael Jackson eu virei o menino abusado pelo Michael Jackson. Eu não sei dizer qual parte foi mais pavorosa, de eu ser um extorquista ou de eu ter sido abusado”.

Além das notícias falsas que dominavam os jornais, Márcio também precisou lidar com os comentários maldosos que ouvia no dia a dia. Entre eles, o jornalista, que passou a ser chamado de “Michael” no colégio, se lembra de um episódio marcante que aconteceu durante uma aula de inglês, na época em que Jackson havia se casado com Lisa Marie Presley.

“Eu estava conversando e a professora de inglês parou e quis fazer graça para a turma, uma turma com 40 adolescentes. Ela virou para mim e disse: ‘Michael, porque você não para de falar? Fica tranquilo, sossega, o Michael Jackson já casou, você não tem mais chances’. Eu ouvi aquilo de uma professora, eu fiquei sem reação’”, revelou.

O hate já existia naquela época. Se eu ia para algum lugar que tinha muitas pessoas, eu estava lá no meu canto e alguém gritava: ‘Olha lá o menino que foi abusado pelo Michael’. Era uma situação pavorosa, então eu parei de sair, parei de ir para a escola, parei a vida.”

Hoje, 30 anos depois do ocorrido, Márcio se considera um sobrevivente, no entanto, ainda sofre hate de alguns fãs do cantor. “Hoje eu falo disso com alívio, porque eu sobrevivi a esse assédio negativo da mídia, sobrevivi a essa ação de fama instantânea que não bateu bem na cabeça das pessoas. Até hoje eu tenho um certo hate de alguns fãs do Michael Jackson, porque em pleno 2023 eles ainda acham que fui um oportunista”.


O ENCONTRO COM LATOYA JACKSON

Em 1994, LaToya Jackson, irmã de Michael, estava brigada com o cantor por validar as suspeitas de abuso sexual infantil. A artista veio ao Brasil para se apresentar naquela época e, com a intenção de gerar um conteúdo polêmico, o extinto jornal Notícias Populares resolveu providenciar um encontro entre Márcio e a cantora, que já havia ouvido falar sobre o acidente.

No entanto, o que ninguém esperava era que o show seria bizarro. Ao chegar no local da apresentação, Márcio se deparou com um lugar praticamente vazio, com somente um rapaz na frente do palco. “No total não tinha dez pessoas no show. De público mesmo estava eu e o rapaz, o resto do pessoal era de staff, da equipe do jornal, do Palace [casa de show]. Achei que ela iria cancelar o show, e aí pensei, ‘ou não deu o horário e as pessoas ainda vão chegar, ou realmente alguma coisa errada aconteceu’”.

Segundo o jornalista, da metade do show em diante, a equipe da organização do evento resolveu chamar as pessoas que passavam na rua para entrar. “Entrou mais ou menos umas duas ou três pessoas, moradores de rua, e eles se divertiram para caramba”, relembrou. “Eu também me diverti, foi um show legal. Ela era muito parecida com o Michael na época.”

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Crédito: Márcio de Paula/Arquivo Pessoal

Após o término da estranha - mas divertida - apresentação, a equipe que acompanhava o jovem o levou para o camarim de LaToya, apresentando o rapaz como “o menino atropelado” e buscando mais uma declaração polêmica da cantora. No entanto, isso não aconteceu.

“Vendo que ela não deu nenhuma declaração polêmica, eles [o jornal] só colocaram que eu fiquei cara a cara com ela”, explicou. “Quando ela me viu ela não esboçou reação nenhuma. Ela deu um sorriso, o fotógrafo tirou uma foto, ela me deu um beijo no rosto e eu falei: ‘Muito obrigado, adorei o show, foi um prazer conhecê-la.”


INDENIZAÇÃO? 

Diferente do que muita gente pensa e do que foi divulgado pela produtora que promovia o show do Rei do Pop na época, Márcio nunca recebeu uma indenização pelo ocorrido. “Eu não recebi nenhuma indenização, o que tive foi a minha cirurgia paga e a minha internação”, contou. “Eu fiquei de cama por três meses, depois tive que fazer fisioterapia, tomar os remédios, ir com frequência a médicos… Tudo isso foi custeado pelos meus pais”.

“Meu pai foi procurado por um advogado criminalista. Com o aval do meu pai, que assinou um termo, esse advogado entrou com uma ação para que o meu pai pudesse reaver todos os custos gastos com o meu tratamento, mas sem sucesso, eu não ganhei essa causa”, explicou o jornalista. “Mas eu tive muita saúde, e Deus permitiu que minha família cuidasse de mim da melhor maneira com os melhores recursos”.

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Crédito: Divulgação

AS INFLUÊNCIAS POSITIVAS DO ACIDENTE

Apesar dos momentos de horror, o acidente proporcionou coisas maravilhosas e o influenciou até mesmo a se formar na área da Comunicação. “Eu sou jornalista hoje graças ao acidente. Por muito tempo da minha vida convivi com a imprensa dentro da minha casa, eu conheci muito profissional interessante, respeitoso, que fez eu criar uma admiração pela área.”

E a escolha da profissão que Márcio decidiu seguir não foi a única vantagem do atropelamento. Ele também recebeu diversos presentes relacionados ao cantor e, por ter sido inserido no universo de Michael, pode conhecer mais sobre a carreira do astro.

“Eu fui inserido no universo do Michael Jackson, e todo mundo me dava tudo do Michael, então eu tinha todos os álbuns dele, todas as revistas, livros, coisas raras, importadas...”, contou. Segundo o jornalista, com o passar do tempo ele resolveu doar os presentes para fãs do artista.

Conhecer toda a carreira e discografia do Michael foi maravilhoso para mim. Eu comecei a gostar muito das músicas dele, a observar realmente ele como artista, como ídolo, e aí que fui ter dimensão de quem era de fato o Michael Jackson.”

Hoje, Márcio de Paula afirma que conseguiu ressignificar o acidente e relembra a história com “muito carinho”. “Tirando todo o horror, porque foi uma coisa freak show, eu passaria por tudo de novo. Eu não sou só o menino atropelado pelo Michael Jackson, eu virei muita coisa, consegui muita coisa. Eu conheci pessoas maravilhosas, fiz amizades incríveis e fui para lugares muito interessantes.”

“Então, se eu dissesse que não passaria por tudo isso de novo, eu seria um bobo. A única coisa que eu privaria seria os meus pais, financeiramente, todo estresse, o susto… mas é uma grande história para contar”, admitiu.

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Crédito: Márcio de Paula/Arquivo Pessoal

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