Neurocientista explica o que é a ETC, seus sintomas e formas de prevenção
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Popularmente conhecida como demência pugilística, a encefalopatia traumática crônica (ETC) é um dos maiores fantasmas dos atletas de esportes de combate. Trata-se de uma doença neurodegenerativa ocasionada por repetidos golpes na cabeça e que causa danos na coordenação motora e na memória. Apesar de alguns sintomas serem identificados em vida, o diagnóstico conclusivo só pode ser confirmado em autópsia, ou seja, após a morte.
Neurocientista, o Dr. José Nasser explicou que entre os principais sintomas de ETC estão a perda de memória, dores de cabeça, comportamento impulsivo, mudança de personalidade e dificuldades de equilíbrio e movimento.
"Os sintomas de ETC podem não aparecer até muitos anos depois que uma pessoa experimenta o trauma cerebral. Alguns dos sintomas são semelhantes aos de outras condições cerebrais degenerativas, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson", detalhou o médico.
"Mudanças de personalidade associadas ao ETC como depressão e agressão, podem ser difíceis para algumas pessoas lidarem. Esses sentimentos às vezes levam a complicações, incluindo acidentes, abuso de drogas e álcool, e suicídio", complementou.
Há uma semana, a ex-esposa do da lenda do MMA e Hall da Fama do UFC Chuck Liddell afirmou que o ex-lutador 52 anos vem apresentando um comportamento típico de quem sofre de encefalopatia traumática crônica, entre elas depressão e fugas através de álcool e drogas.
"Ele foi nocauteado muitas vezes e tem ETC. Ele não consegue se lembrar das coisas e fica preso na fala. Ele vai ter demência ou Alzheimer. Ele tem uma terrível apneia do sono", declarou Heidi Northcott em audiência que tratou sobre o divórcio do casal, conforme relatou o site americano "The Blast".
Dr. Nasser confirma que existe a possibilidade do veterano ter desenvolvido a doença. Vale lembrar que, apenas em lutas oficiais, Liddell foi nocauteado sete vezes; isso sem contar os golpes que tomou e não resultou em final de luta e as pancadas que recebeu em treinamentos.
"Impactos repetitivos na cabeça podem danificar fibras que atravessam o cérebro e ferir as próprias células cerebrais. Isso pode estar associado ao acúmulo de uma proteína conhecida como tau, que pode ter um papel na morte celular. A perda dessas células pode interferir na função cerebral saudável, causando alterações neurológicas que incluem perda de memória, depressão, agressividade e problemas de equilíbrio e movimento", destacou.
De acordo com o médico, diminuir a quantidade de impactos na cabeça é a melhor forma de evitar o desenvolvimento do ETC.
"Você pode diminuir o risco de ETC reduzindo o número de vezes que leva uma pancada na cabeça. Cuidar adequadamente do trauma cerebral quando ocorre também pode ajudar a prevenir a condição. Para os atletas, isso significa sair do jogo após uma lesão na cabeça, descansar e seguir as diretrizes recomendadas antes de retornar a um jogo, no caso do futebol", afirma.
O resguardo após um nocaute sofrido, no qual as Comissões Atlética impõem suspensões médicas de até seis meses até o lutador poder voltar a lutar, é uma das formas de prevenir a doença. Nos últimos anos, alguns lutadores diminuíram a quantidade ou até mesmo excluíram os sparrings (treinos para valer, como se fosse uma luta real) na rotina como forma de se preservar.
Aos que já sofrem os sintomas, há maneiras de amenizar os impactos na rotina, como lembra o Dr. Nasser.
"Muitas pessoas que mostram sinais de ETC vivem vidas saudáveis e satisfatórias. Exercícios regulares e boa nutrição podem ajudar a gerenciar sintomas, incluindo dor e estresse. As pessoas podem usar muitas estratégias para lidar com sintomas comportamentais associados ao ETC. Estes incluem o seguinte:
• Estabeleça uma rotina diária: criar uma estrutura diária ajuda a vida a se sentir mais estável;
• Faça anotações: escrever coisas ajuda a combater problemas de memória.
• Gerencie sentimentos: métodos de relaxamento, como respiração profunda, ajudam a controlar as emoções.
• Peça ajuda: compartilhar desafios com amigos e familiares pode ajudar a aliviar a carga. Às vezes, aconselhamento profissional pode ser muito útil no gerenciamento de sintomas", sugere o médico.