O que fazer após um conhecido ser diagnosticado com câncer? Especialistas respondem
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A descoberta de um diagnóstico de câncer impacta não somente o paciente como seus entes queridos. Nesse momento, no entanto, é importante que os familiares trabalhem o emocional para se tornarem a rede de apoio, que fornece um ombro amigo, bem como motivação. Mas, afinal, qual a melhor a forma de ajudar e quais comportamentos ou falas é necessário evitar?
Especialistas explicam como agir após o câncer
Segundo a fisioterapeuta especialista em câncer de mama, Mariana Fernandes, que já enfrentou a condição duas vezes, o primeiro passo para auxiliar um conhecido é preparar o psicológico. Isso porque é importante demonstrar força, a fim de evitar que o paciente, mesmo fragilizado, assuma a posição de apoio em vez do familiar.
Durante o Caras Talks Outubro Rosa, a criadora da comunidade ‘Anjo Rosa’, conhecida por mulheres com o diagnóstico, narrou um episódio, logo após a descoberta da doença, em que precisou ajudar uma amiga. “Quando eu recebi o diagnóstico, uma colega me encontrou na porta da escola das minhas filhas, me abraçou e começou a chorar muito. Naquele momento, eu tive que dar força para ela. Eu falava: ‘Calma, eu não vou morrer’. E ela: ‘Eu sei, mas é muito triste”. Mas isso não é maldade, mas é falta de conhecimento”, afirmou.
Por isso, Fernandes também aconselha os entes queridos a se informarem sobre o câncer. Ela recomenda, por exemplo, buscar informações no site Oncoguia, que disponibiliza gratuitamente artigos explicativos e de qualidade. “Entender um pouco sobre o tratamento ajuda a oferecer apoio sem julgar, sem dar ‘dicas milagrosas’ e sem espalhar medo”. disse em uma publicação nas redes socias.
Outra dica da profissional e paciente é adotar uma escuta ativa. De acordo com Mariana, muitas vezes, esse amigo não está buscando soluções, mas apenas alguém para ouvi-lo. “É o que mais ajuda. É você estar ao lado da pessoa e estar realmente presente. Não é aquela coisa de: ‘Eu preciso estar presente fisicamente tempo todo”. Até porque quando a gente está em tratamento, gostamos de ficar um tempo quietinha. Então, o principal é mostrar pra pessoa que você a ama“, explicou.
Ajuda prática
Além disso, na opinião de Fernandes, é importante aderir a uma ajuda profunda e não superficial. A especialista explica que a segunda, que não auxilia o paciente efetivamente, é aquela em que o conhecido se mostra disponível. No entanto, dificilmente, toma a iniciativa de contribuir de alguma forma.
“A superficial é quando a gente fala assim: ‘Olha, qualquer coisa me liga, tá bom?’. É o comum, fazemos isso com frequência. E a gente sabe que, se precisar, pode ligar. Mas o que é uma ajuda profunda, de verdade? Por exemplo: eu tenho duas filhas, e sabia que, na semana em que estaria em quimioterapia, não conseguiria buscá-las na escola. Essa alteração na rotina é muito difícil. Não é só a doença. Então, tente dizer: ‘Eu levo elas para a aula’ ou até: ‘Posso deixar comida para você, tudo prontinho’, ou ainda: ‘Eu vou com você na quimioterapia’”, esclareceu.
E a ajuda prática, conforme ressalta a oncologista Marina Sahade, começa dentro do lar, com os filhos e com o parceiro. Ela destaca, por exemplo, que, quando o paciente inicia uma dieta diferenciada, a fim de melhorar a qualidade de vida durante o tratamento, os familiares também devem seguir a nova alimentação. “A rede de apoio precisa participar da comida. Não dá para ser saudável em uma casa que todo mundo come porcaria. E isso é muito difícil”, apontou.
Permanecer mesmo após o tratamento
Segundo a profissional, além da participação nas mudanças alimentares, é indicado acompanhar o paciente às consultas, momentos em que há muitas informações novas e penosas de processar por si só. Ademais, ela reforça a necessidade de a rede de apoio se manter presente depois dos tratamentos.
“Muita gente desaparece no pós-tratamento, que é o momento emocionalmente mais difícil. É o período em que cai a ficha: você atravessou a tormenta e, de repente, está sozinha, sem o seu cabelo, com o corpo diferente e com todo mundo sumido. É quando as pacientes mais se deprimem. Por isso, o mais importante é continuar insistindo em ser rede de apoio, mesmo depois que tudo já passou”, orientou.