Por que os divórcios após os 50 anos estão aumentando?
Bons Fluidos

Em 2023, o Brasil registrou 360.787 divórcios. Em 77.725 deles, as mulheres tinham mais de 50 anos – 21,54% do total, contra 17,16% uma década antes. O fenômeno tem nome em inglês: gray divorce (ou divórcio grisalho, em tradução), e retrata um movimento global. Casais maduros, com filhos criados e vida profissional consolidada, repensam projetos e encerram uniões que já não fazem sentido.
O que é o “divórcio grisalho”?
Trata-se da separação entre pessoas com 50 anos ou mais. Longe de ser uma “crise de meia-idade”, costuma vir após reflexões profundas sobre qualidade de vida, autonomia, afetos e futuro. Em muitos casos, há décadas de convivência, patrimônio compartilhado e redes familiares entrelaçadas – e justamente por isso a decisão pede cuidado emocional, jurídico e financeiro.
Por que está crescendo
- Longevidade maior: mais anos pela frente significam novos ciclos e menor tolerância a relações insatisfatórias;
- Mudanças sociais: expectativas sobre casamento e papéis de gênero mudaram; relações hoje valorizam parceria, respeito e projeto de vida;
- Reconfiguração da família: com os filhos independentes, a dinâmica do casal fica mais evidente – e, às vezes, a desconexão aparece;
- Tendência global: estudos em países como EUA, Coreia (onde se fala em divórcio no crepúsculo) e Japão mostram alta em separações na maturidade.
Impactos emocionais: perdas, ganhos e redescobertas
Separar-se após os 50 pode trazer luto, solidão e medo do recomeço. Ao mesmo tempo, abre espaço para autoestima, liberdade e novos projetos. É comum que a decisão não seja repentina: muitas histórias terminam depois de anos de afastamento emocional. A terapia individual e/ou de família ajuda a elaborar o ciclo e a criar rotas de cuidado.
O efeito sobre filhos crescidos existe e é subestimado. Mesmo na vida adulta, eles podem sentir raiva, surpresa, tristeza prolongada e ficarem “no meio” dos pais. Grupos de apoio e limites claros entre gerações são aliados importantes.
Como atravessar o divórcio após os 50 com mais saúde
- Aceite e reflita: nomeie sentimentos, reconheça a história vivida e desenhe o próximo capítulo;
- Peça ajuda: psicoterapia, círculos de apoio e orientação jurídica especializada dão segurança e contorno;
- Planeje as finanças: mapa de receitas, despesas, patrimônio, previdência e metas de curto/médio/longo prazo;
- Refaça redes: fortaleça amizades, família escolhida e atividades coletivas (grupos, cursos, voluntariado);
- Cultive projetos e prazer: hobbies, viagens, estudos, trabalho, novas afetividades: vida que segue, e floresce.
O “divórcio grisalho” não é só sobre terminar um casamento; é sobre reconfigurar a vida. Recomeçar aos 50, 60 ou 70 pode significar mais coerência entre desejos e cotidiano. Com amparo emocional, planejamento jurídico-financeiro e uma boa rede, a separação deixa de ser apenas ruptura e vira porta de entrada para uma maturidade mais autêntica.
