Caminho de Peabiru: Conheça a fascinante rota indígena
Aventuras Na História
O Caminho de Peabiru, que cortava a América do Sul do Oceano Atlântico ao Pacífico — mas do qual hoje restam poucos vestígios — teve diferentes significados ao longo do tempo. Para os antigos guaranis poderiam chegar num local mitológico. No entanto, com a chegada dos colonizadores, a rota passou a ser enxergada como uma via em direção aos tesouros do continente.
Ao longo dos séculos, grande parte da trilha original desapareceu, seja pela ação da natureza ou avanço da modernidade. Recentemente, entretanto, essa curiosa rota começou a fascinar as pessoas. Entenda como!
Um europeu no caminho
O navegador português Aleixo Garcia, como destaca uma matéria da BBC, foi o primeiro europeu conhecido por percorrer toda a extensão do caminho.
Após naufragar no litoral de Santa Catarina em 1516, ele e outros navegadores receberam apoio dos indígenas guaranis. Mais tarde, inspirado por histórias sobre um caminho rico, Garcia liderou 2 mil guaranis aos Andes.
Rosana Bond, pesquisadora brasileira, afirma em seu livro "A Saga de Aleixo Garcia: o Descobridor do Império Inca" que ele fora o europeu pioneiro em visitar o império inca em 1524, ou seja, uma década antes do conquistador espanhol Francisco Pizarro.
Poucos vestígios
As trilhas que se estendiam do Brasil eram ligadas à rede de estradas incas e pré-incas pelos Andes, mas o Caminho de Peabiru quase não conta com vestígios.
Algumas teorias sugerem uma datação por volta de 400 ou 500 d.C., enquanto outras remontam a até 10 mil anos atrás, associando-a a caçadores-coletores paleoindígenas.
Como aponta o portal BBC, as teorias não apenas discordam quanto à época de criação, como também divergem quanto ao trajeto exato da rota. Entretanto, as histórias persistem na cidade de Peabiru. O governo e grupos elaboraram trilhas com base no Caminho de Peabiru.
Essas trilhas fazem parte de um ambicioso plano turístico do Paraná, lançado em 2022, que visa mapear um trecho provável do Caminho com extensão de até 1.550 quilômetros para ciclismo e caminhada. A rota atravessa o estado desde o litoral, passando por 86 municípios, até alcançar a fronteira com o Paraguai.
Consenso entre os historiadores
Apesar das muitas incertezas que envolvem o tema, há um consenso entre os historiadores de que o principal trajeto da rede conectava o litoral leste e oeste da América do Sul.
Originadas nos pontos costeiros do Brasil, onde hoje estão localizados os Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, as trilhas convergiam no Paraná.
A partir desse ponto, continuavam por território que hoje compõe o Paraguai, rumo à região de Potosí, na Bolívia, conhecida por sua riqueza em prata.
Ao alcançar o lago Titicaca, atualmente na fronteira entre Bolívia e Peru, o caminho se estendia até Cusco, a capital do império inca, descendo dali em direção ao litoral peruano e ao norte do Chile.
Movimento do Sol
Conforme afirma Bond na série literária "História do Caminho de Peabiru", de 2021, de maneira geral, pode-se afirmar que o roteiro "longo" de Peabiru acompanhava o movimento aparente do Sol, do nascente ao poente.
Para a autora, a rede de caminhos pode ter sido elaborada e utilizada por diferentes indígenas. O desejo fundamental, no entanto, era a vontade de conectar o Atlântico ao Pacífico.
Ela ressalta que, independentemente de quantos e quais povos construíram os trechos, o relevante era que, em determinado momento, a estrada passou a ser vista como um caminho homogêneo e específico, representando na terra o movimento do Sol no céu.
No entanto, para os colonizadores europeus, como o navegador português Aleixo Garcia, o caminho serviria como direção às riquezas dos incas nas expedições pelo Novo Mundo. Infelizmente, esses episódios acabaram morte em massa das populações indígenas da América do Sul devido a conflitos, ausência de comida e, principalmente, doenças.
Nos séculos seguintes, diversas ondas de exploradores, catequizadores jesuítas, bandeirantes, comerciantes e colonizadores também utilizaram o Caminho de Peabiru para adentrar o interior do continente, muitas vezes modificando o curso da trilha.