Por que mudar é tão difícil? Neurociência explica resistência por trás das mudanças
Bons Fluidos
Quando enfrentamos momentos difíceis e lidamos com a dificuldade de aceitar e se adaptar às mudanças, nada é por acaso. Neste caso, há uma correlação direta com a neurociência. Nossos cérebros são altamente adaptáveis e moldáveis, e a neuroplasticidade é o conceito que nos mostra essa capacidade de mudar.
No entanto, é importante compreender que o cérebro possui uma tendência natural para a familiaridade e a estabilidade. Isso significa que resistimos naturalmente às mudanças, pois o cérebro busca segurança e conforto naquilo que já é conhecido. Essa resistência é uma resposta do sistema límbico, responsável pelas emoções e pelo processamento das experiências passadas, que muitas vezes nos leva a sentir angústia diante de mudanças significativas em nossas vidas.
Além disso, a forma como processamos as informações e experiências também está relacionada à atividade do córtex pré-frontal, área do cérebro envolvida na tomada de decisões, no planejamento e na regulação emocional. Em momentos de dificuldade e mudança, pode ocorrer um desequilíbrio na ativação dessa região cerebral, levando a uma sensação de desconforto, angústia e dificuldade em compreender e lidar com mudanças.
Como aceitar as mudanças?
A neuroplasticidade do cérebro nos oferece a capacidade de reprogramar nossos padrões de pensamento e comportamento. Assim, podemos treinar a mente para se adaptar a novas situações e desenvolver resiliência diante das adversidades.
Ao praticar a autocompaixão, o autocuidado e a gratidão, estimulamos a produção de neurotransmissores relacionados ao bem-estar, como a serotonina e a dopamina, e fortalecemos as conexões neurais necessárias para enfrentar e superar os momentos difíceis.
Por isso, buscar apoio emocional e estabelecer conexões significativas com outras pessoas também causam impacto direto na neuroquímica do cérebro, gerando a liberação de oxitocina, conhecida como o “hormônio do amor”. É ela que promove a sensação de segurança, conexão e bem-estar, reduz a angústia emocional e fortalece a nossa resiliência diante das mudanças.
Portanto, ao compreender a relação entre a dificuldade de lidar com mudanças e a neurociência, podemos adotar estratégias eficazes para enfrentar esses momentos difíceis. Com a prática de técnicas que promovam a regulação emocional, a ressignificação dos pensamentos e a busca por apoio social, podemos remodelar nosso cérebro e criar um espaço interno propício para a aceitação, o crescimento pessoal e adaptação às mudanças que a vida nos apresenta.
Essa compreensão da neurociência nos mostra que a plasticidade cerebral nos acompanha ao longo de toda a vida. Isso significa que mesmo diante de situações desafiadoras, sempre há a possibilidade de aprender, crescer e desenvolver novas habilidades.
Quando nos deparamos com mudanças significativas, nosso cérebro passa por um processo de reorganização neural. Novas conexões são formadas, enquanto outras podem enfraquecer ou desaparecer. Esse processo é fundamental para nos adaptarmos às novas circunstâncias e desenvolvermos novas maneiras de lidar com os desafios.
Ao entendermos que a dificuldade de enfrentar mudanças está enraizada em nossa biologia cerebral, podemos adotar estratégias que aproveitam essa plasticidade para nos ajudar a superar esses momentos.
Dicas práticas
Aqui estão algumas abordagens baseadas na neurociência:
• Pratique a conscientização plena (mindfulness): a atenção plena nos ajuda a direcionar a consciência para o presente, reduzindo a ruminação sobre o passado ou a ansiedade em relação ao futuro. Essa prática fortalece as conexões neurais associadas à autorregulação emocional e à resiliência.
• Cultive a positividade: focar em aspectos positivos da vida e praticar a gratidão promove a liberação de neurotransmissores que estimulam emoções positivas. Essa prática fortalece as conexões neurais relacionadas à felicidade e ao bem-estar, ajudando-nos a enfrentar os desafios a partir de uma perspectiva mais otimista.
• Desenvolva a resiliência: a resiliência é a capacidade de se recuperar e se adaptar após adversidades. Ela pode ser cultivada por meio do desenvolvimento de habilidades como flexibilidade cognitiva, regulação emocional e busca de apoio social. Ao praticar essas habilidades, fortalecemos conexões neurais envolvidas na resiliência.
• Busque o equilíbrio entre desafio e recompensa: nosso cérebro é motivado por desafios que oferecem uma recompensa. Ao definir metas desafiadoras e estabelecer recompensas positivas ao alcançá-las, ativamos o sistema de recompensa do cérebro, fortalecendo as conexões neurais associadas à motivação e à superação de obstáculos.
• Cuide do seu cérebro: manter um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada, exercícios físicos regulares, sono adequado e redução do estresse, contribui para a saúde cerebral. Essas práticas promovem o bom funcionamento dos neurotransmissores e facilitam a adaptação às mudanças.
Lembre-se de que, embora a dificuldade em lidar com mudanças seja natural, nosso cérebro possui a capacidade de se adaptar e criar novos caminhos. Ao utilizar estratégias baseadas na neurociência, podemos fortalecer nossa resiliência, encontrar oportunidades de crescimento pessoal e superar os momentos difíceis com mais confiança e clareza.
Abrace a mudança como uma oportunidade de transformação e permita que seu cérebro te guie rumo a uma nova versão de si. Lembre-se de que as mudanças são parte essencial da vida e, apesar dos desafios que possam surgir, elas oferecem a oportunidade de crescimento e expansão.
Indicação de pensadores
No mais, quero ainda mencionar alguns dos pensadores que contribuíram para nossa compreensão sobre como enfrentar momentos difíceis e promover a resiliência.
1. Viktor Frankl: o autor de “Em Busca de Sentido” enfatiza a importância de encontrar um propósito e significado na vida, mesmo em meio a circunstâncias desafiadoras.
2. Brené Brown: com seu trabalho sobre vulnerabilidade e coragem, Brown nos lembra da importância de aceitar nossa própria imperfeição e cultivar a autenticidade como forma de lidar com adversidades.
3. Carl Jung: o renomado psicólogo suíço aborda a importância de explorar e integrar as partes sombrias de nós mesmos, buscando o equilíbrio e a wholeness como uma forma de enfrentar os desafios internos e externos.
4. Elizabeth Gilbert: a autora de “Comer, Rezar, Amar” nos encoraja a buscar a coragem para seguir nosso próprio caminho, ouvir nossa intuição e abraçar as mudanças necessárias para alcançar uma vida mais autêntica.
Esses pensadores oferecem perspectivas valiosas sobre como enfrentar momentos difíceis e encontrar o equilíbrio emocional em meio às mudanças. Suas obras e ensinamentos podem fornecer orientação e inspiração durante os períodos de desafios pessoais.
Lembre-se de que você não está sozinho em sua jornada. Muitas pessoas passam por momentos difíceis e encontram força para superá-los. Tenha confiança em sua capacidade de adaptação, aproveite o apoio de sua rede de suporte e esteja aberto para o crescimento e transformação pessoal.
Compreender a interseção entre a neurociência e a superação de dificuldades nos permite aproveitar ao máximo o potencial de nosso cérebro e enfrentar as adversidades com resiliência, coragem e esperança.