Home
Estilo de Vida
Mike Amiri – Construindo uma marca de luxo moderna, do seu próprio jeito
Estilo de Vida

Mike Amiri – Construindo uma marca de luxo moderna, do seu próprio jeito

publisherLogo
ICARO Media Group
14/07/2023 12h00
icon_WhatsApp
icon_Twitter
icon_facebook
icon_email
https://timnews.com.br/system/images/photos/15654368/original/Untitled-1?1689174716
icon_WhatsApp
icon_Twitter
icon_facebook
icon_email
PUBLICIDADE

Por Lisa Briedman Bloch para a Beverly Hills Courier

O ano é 1991. O cenário, a Beverly Hills High School.

Caminhando sem rumo por um corredor largo e vazio, passando pelos armários em direção à aula de matemática, um rapaz de 15 anos, Mike Amiri, deixa sua imaginação guiar seus pensamentos e diminuir o ritmo de seus passos. Ao virar uma esquina, ele bate em alguém.

“Desculpe”, diz Mike, percebendo rapidamente que esse alguém é Lenny Kravitz! A estrela do rock!

Ex-aluno da escola, Kravitz está no auge da fama. “Eu sou Mike,” ele diz, contendo sua empolgação.

“Lenny”

"Eu sei. Adoro sua música. Mas o que você está fazendo aqui? “Pensei em passar por aqui. Ver alguns dos meus antigos professores.”

“Quer que eu ajude?”

"Claro. Você conhece a Sra. McKenzie?”

Mike conduz Lenny. Eles chegam à sala 170.

Lenny espia: "É ela, mesmo." Mike abre a porta.

A sra. McKenzie olha para cima: “Sr. Amiri, você não deveria estar na aula?” Lenny aparece na frente dele. O olhar da Sra. McKenzie se ilumina! A turma vai à loucura. Mike, um fã obstinado do rock 'n roll, fica para trás, extasiado pelo momento, sua aula de matemática a um milhão de quilômetros de distância.

Vinte e seis anos depois, no elegante restaurante do Hotel Costes em Paris, Mike está jantando com sua esposa, Shirin, quando Lenny Kravitz se aproxima.

"Mike…"

“Lenny…” Mike se levanta para cumprimentá-lo.

“Meu stylist acabou de me mandar uma mensagem dizendo que você estava aqui. Eu queria te agradecer pela jaqueta que você me fez. Eu adorei."

“Fico feliz”, diz Mike.

“É icônica.”

"Que bom", Mike comenta, humildemente.

“É ótimo conhecê-lo, finalmente,” diz Lenny. “Nós já nos encontramos antes.”

"Mesmo?"

"Anos atrás. Quando você visitou a Beverly High. “Aquele era você? Que coisa!"

Mike acena que sim.

Nesse momento de acaso e reconhecimento, eles se abraçam.

Mike Amiri e Lenny Kravitz no Hotel Costes, Paris em 2017
@Cortesia da AMIRI


Esbarrar em uma estrela do rock no corredor de sua escola é inacreditável, mesmo que essa escola seja a Beverly Hills High. Mas encontrá-la décadas depois e estar no mesmo nível daquela lenda do rock, isso é extraordinário. Esse encontro casual é um dos muitos sinais ao longo da jornada de Mike, sinalizando que Mike Amiri, o estilista, chegou.

+ Conheça Nicolas Bijan: O Príncipe de Beverly Hills

Em apenas nove curtos anos, Mike construiu uma marca de luxo de indiscutível classe mundial. Sua linha de moda homônima, AMIRI, explodiu tão rápido que sacudiu as casas estabelecidas, quando elas viram o recém-chegado abrir sua loja perto delas na Rodeo Drive, em 2020.

Em 2014, Mike estava costurando peças únicas para shows de músicos como Axl Rose e Justin Bieber no porão de um restaurante tailandês em Hollywood. Logo, ele estava vendendo coleções na meca culta da moda, a Maxfield. Ele foi indicado três vezes (em 2019, 2021 e 2022) para o prestigiado Menswear Designer of the Year Award pelo Council of Fashion Designers of America, ao lado de Tom Ford e Rick Owens.

Hoje são The Weeknd, Usher, Leslie Odom, Jr., Black Coffee, J Balvin e Teyana Taylor que estão vestindo as roupas de Amiri. E seus fãs não se limitam aos palcos. Estrelas do cinema e da televisão como Brad Pitt, Paul Rudd, Rege-Jean Page, Tessa Thompson, Natasha Lyonne, Robert Pattinson, Tyler James Williams e Jared Leto usam AMIRI. O alcance de Mike também se estendeu ao esporte, com atletas como Lionel Messi e Odell Beckham Jr. Na disputa do campeonato de boxe em Las Vegas em 22 de abril deste ano, o boxeador Ryan Garcia usou AMIRI da cabeça aos pés, dentro e fora do ringue.

Além do carro-chefe de Beverly Hills, existem atualmente nove lojas AMIRI independentes em todo o mundo – nos EUA, Japão, Emirados Árabes Unidos e China. Parte da ascensão meteórica também envolve 160 butiques, “shop-in-shops” dentro de varejistas de fama mundial como Neiman Marcus, Saks Fifth Avenue e Bergdorf Goodman nos EUA; Selfridges e Harrods em Londres; Galeries Lafayette em Paris e Joyce em Hong Kong.

Com a expansão para calçados, roupas femininas, roupas infantis, acessórios e produtos de estilo de vida, juntamente com sua loja recém-reformada na Rodeo Drive, a previsão é de que a AMIRI, conforme relatou o Wall Street Journal, faça US$ 320 milhões em vendas em 2023, um aumento de 56% em comparação com o ano passado.

A alma da marca é, em sua essência, o próprio Mike Amiri. Sua interpretação do estilo de vida luxuoso da Califórnia é inegavelmente autêntica, baseada em suas próprias experiências de vida crescendo em Los Angeles, jogando basquete, andando de skate, criando arte de rua e frequentando clubes de rock no Sunset Boulevard.

Enquanto outras marcas de moda tentam replicar a cultura de L.A. com produtos como skates com logotipos ou imagens de campanha apresentando nossas famosas ruas ladeadas por palmeiras como pano de fundo, Amiri é o representante genuíno deste estilo de vida.

Então, como um garoto da Beverly Hills High, sem conexões, sem um fundo fiduciário ilimitado e sem educação em design de moda, chegou até aqui? É uma pergunta frequente de quem quer saber seu “ingrediente secreto”.

Eu decidi encontrar a resposta.

 

Loja da AMIRI na Rodeo Drive
@Roberto García


Pulando por sobre as poças d'água num raro dia chuvoso em Rodeo Drive, cheguei à principal loja da AMIRI e o segurança de terno preto abriu a porta para me deixar entrar. E, como o sombrio Kansas preto e branco de Dorothy virou a ensolarada e colorida Oz, o dia escuro rapidamente se transformou em um brilhante, calmo e convidativo refúgio AMIRI. Mergulhei na decoração da loja, na arte simplista, na música que define o clima e nas roupas estrategicamente penduradas no teto alto. Aqui, as bolsas imitam bolas de basquete chiques, os skates são projetados pelo artista Wes Lang, de Los Angeles, e as bolsas de couro feitas à mão exibem os pontos turísticos da Califórnia.

Logo, Mike Amiri, como o mentor por trás da cortina, emergiu da parte de trás da loja, exibindo um sorriso caloroso, refletindo a luz do sol que ele aparentemente criou. Com um abraço acolhedor, ele me conduziu escada acima em busca de um local mais íntimo para nossa entrevista. No caminho, passamos por um espaço de trabalho estilizado, uma instalação de arte na parede com carretéis de linha em um arco-íris de cores sobre máquinas de costura antigas. Mike contou que os armários na parede estavam cheios de gavetas de acessórios feitos à mão ou joias finas, para aprimorar o design personalizado para a clientela VIP exclusiva da AMIRI.

Na sala ao lado, ele me levou a um ambiente semelhante a uma sala de estar, preparado para nossa entrevista, com duas impressionantes poltronas com motivos do logotipo AMIRI, cercadas por cortinas macias. Eu mal podia esperar para mergulhar, para saber como esse jovem designer invadiu a indústria da moda em tempo recorde e como ele encontrou a mágica que incitou uma comunidade global a abraçar sua aclamada marca de luxo com sede em Los Angeles.

Filho de dois imigrantes judeus persas que possuíam uma loja de antiguidades, Mike cresceu primeiro em Hollywood, depois em Beverly Hills. Filho do meio de três irmãos, Mike passou grande parte de sua infância em um mundo de sonhos.

“Muitas vezes eu criava coisas, aventuras, sozinho, na minha cabeça… Em algum momento, percebi que meu cérebro estava voltado apenas para criar coisas que não existem e para as possibilidades que podem existir. Não era necessariamente sobre roupas. Eram apenas histórias, ou narrativas, ou ver as coisas de maneira um pouco diferente do que as outras pessoas viam.”

Ele também tinha os mesmos interesses de um adolescente comum, como basquete, skate e andar de bicicleta BMX. Em algum momento, Mike ficou cativado pela noção de heróis, passando muitas horas assistindo aos feitos heróicos de personagens de faroestes e filmes de guerra com seu pai, um orgulhoso veterano do Exército dos EUA.

“Adoro a ideia de heróis, não apenas cantores em bandas de rock, mas em qualquer campo. Hoje em dia, sou fascinado por pessoas que se tornam icônicas em suas áreas, aquelas que são obcecadas por ideias independentemente da adversidade.”

Querendo ser cool como os roqueiros de Hollywood, Mike fundiu sua imaginação aguçada a seu desejo de se destacar. No ensino médio, ele fez sua primeira tentativa de ditar tendências com sua própria roupa. Tendo visto os punks na rua com remendos feitos à mão nas roupas, ele pediu à mãe de um amigo para costurar a frente de uma velha camiseta do Mötley Crüe nas costas de sua jaqueta jeans. Por US$ 20, ele criou sua própria peça Mötley Crüe. Logo seus amigos em Beverly Hills o seguiram.

“Eu fui meio que criando esse herói para mim.”

Quando você vasculha as lembranças da adolescência de Mike, uma imagem mais clara emerge, talvez definida por sua busca, às vezes carregada, de um meio de expressão criativa. Um deles era o graffiti, que, enquanto estava no colégio, o colocou em apuros com a lei. Isso o levou a uma conversa com a conselheira da escola. Durante a reunião, Mike relembra a sugestão: “Talvez você apenas precise ver sua obra de arte exposta, então sentirá orgulho disso”.

A frase ficou gravada na mente de Mike.

“Ela realmente mudou minha compreensão de por que isso aconteceu. Realmente fez sentido para o meu cérebro adolescente.” Refletindo hoje, Mike compartilha: “Quando você conecta os pontos de trás para frente, é realmente incrível”.

Um homem da Renascença, Mike aprendeu sozinho a tocar piano e bateria, e a usar programas de produção no computador. Enquanto estava na faculdade, Mike reencontrou seu velho amigo Tiger JK, considerado um dos fundadores do movimento hip-hop na Coreia do Sul.

Tiger JK foi colega de classe de Mike na Beverly Hills High School.

“Eu realmente adorei explorar, criar coisas… E quando eu soube que ele estava interessado em música, eu disse, ‘Bem, eu posso fazer músicas [com ele]’. Eu realmente me apaixonei por isso. Parecia natural para mim. Ele acabou se tornando um grande artista na Coreia e eu ia lá visitá-lo e às vezes e o ajudava a se apresentar.”

No processo, Mike aprendeu a ler e escrever em coreano. O grupo ganhou prêmios no Asian Music Awards, um reconhecimento para grande parte da música que Mike produziu e escreveu.

Mike sabia que este era um desvio e não seu verdadeiro caminho. Mas as lições que aprendeu o prepararam para os próximos capítulos de sua vida.

“Eu entendi como era criar algo. E vi isso criar uma vida própria. Fazer algo do nada… É dizer ‘sim’ para algo sobre o que você tem uma opinião criativa. E não achar que seja inacreditável ou ridículo fazer música em um país estrangeiro ou dizer que você vai construir uma marca de luxo.”

Quando ele voltou da Coréia, Mike se inscreveu na faculdade de direito. “Parecia uma coisa muito responsável a fazer… seguir um caminho seguro.”

Mike escolheu uma escola que tinha um campus a oito quarteirões do coração do distrito da moda em Los Angeles. Enquanto trabalhava para se formar em direito, saciou seu impulso artístico.

Curioso e determinado, Mike mergulhou nas muitas facetas da indústria da moda.

“Eu ia às lojas vintage, abria um blazer e tentava entender por que colocavam enchimento em determinadas áreas. Fui desconstruindo e tentando entender como as coisas são feitas.”

Ele se aproximou de estilistas que criavam peças para diferentes pessoas. Por meio deles, Mike aprendeu os processos de fabricação de um produto acabado. Logo, os estilistas pediram a Mike para ajudar a criar roupas para seus clientes artistas. Ele também foi incluído nos projetos de design de algumas das maiores casas de moda americanas.

Afinal, ele deu o salto e partiu por conta própria, decidindo que quaisquer limitações que enfrentaria seriam vistas como oportunidades. Ele comparou a necessidade de desenvoltura aos dias de banda de garagem de sua juventude, quando as fontes de inspiração e criatividade fluíam mais do que o dinheiro.

“O que sempre falamos dentro do estúdio de design é, vamos fingir que não podemos comprar a melhor lã risca de giz do mundo. Então, como criamos isso? O que torna a Amiri ‘AMIRI’ não é o fato de podermos usar os melhores materiais do mundo. É o fato de conseguirmos trazer algo novo para a conversa, que é uma sensibilidade jovem e criativa.”

Enquanto definia a identidade de sua marca, Mike começou a construir uma impressionante clientela de artistas de Los Angeles, produzindo para eles peças para o palco exclusivas e feitas à mão. Essa experiência o levou a explorar a autêntica vibração da moda rock'n'roll de L.A. Mike pesquisou o uso de materiais tradicionais, manipulando-os e empregando algum artesanato inusitado. Por exemplo, ele levou suéteres de caxemira e jeans para o deserto em Joshua Tree e os detonou com uma espingarda, para dar às peças uma aparência queimada e esfarrapada.

Como um nativo com vasta experiência em viagens, Mike estava bem ciente da forma como Los Angeles é notada pelo mundo, como um lugar onde nascem os sonhos. Ele queria incorporar esse sentimento exclusivo de L.A. como parte da identidade de sua marca.

“Se você não é daqui, isso tem um significado diferente para você, algo um pouco mais romântico. Quando vou para a Itália e as pessoas descobrem que sou de Los Angeles, elas dizem: 'Oh meu Deus, Los Angeles. É o meu sonho.' Acho que isso reafirma que representamos algo. Há um sonho aqui com o qual as pessoas se identificam. Quero dizer, se você olhar para a Califórnia, Hollywood, Beverly Hills, é para cá que as pessoas vêm atrás de algo maior do que elas. Isso representa tanta coisa, oportunidade e otimismo. E eu sempre me pergunto: 'Como é isso nas roupas? Como pode aparecer em um desfile? Qual é a sensação e por quê?'”

Mike queria diferenciar-se das marcas europeias contando uma história que fosse autêntica às suas experiências. Ele postulou: “'Por que não trago um autêntico cool da Califórnia para o mercado? Por que não usamos um tecido tão bom, uma costura tão boa quanto, com o mesmo frescor e abordagem faça-você-mesmo?'”

Mike acertou na mosca.

“Trago a perspectiva de quem é da cidade, que sabe o que é ser da Califórnia. Há uma certa ideia romântica sobre jeans e camiseta na Califórnia. Qual é a sensação? São macios, estão gastos. Sua camiseta pode estar um pouco desbotada pelo sol. Há uma certa paleta de cores associada a isso. Isso permite que as pessoas que estão na Europa, ao comprá-lo, sintam que estão recebendo um pedacinho da Califórnia.”

Mike começou a filtrar tudo através dessa lente californiana e, afinal, tornou-se parte do DNA da marca.

“Eu desconstruo ternos para que fiquem super confortáveis. Quase parece que você está vestindo uma camiseta porque é o clima que temos aqui. Em L.A., você pode ir almoçar às 15h e ainda ir jantar às 19h30 vestindo a mesma coisa. Como você faria isso se estivesse vestindo um terno rígido? Há um certo nível de conforto associado a esse sonho da Califórnia.”

Os jeans AMIRI são um exemplo perfeito da identidade distinta da marca. Numa época em que a maioria dos estilistas evitava os jeans skinny masculinos, acreditando que sua silhueta era muito feminina para fazer sucesso, Mike lançou-se de cabeça no desafio. Usando tecido com infusão de stretch, seus jeans ficaram conhecidos pelo ajuste extremamente confortável, mas super justo. Quando ele os lançou no mercado, os jeans AMIRI rapidamente se tornaram reconhecíveis e extraordinariamente bem-sucedidos.

Mike se concentrou na identidade de sua marca: “O luxo moderno através das lentes da Califórnia”, ele exclama com orgulho, acrescentando: “O plano sempre foi ter uma estética americana”.

Quando estava pronto, Mike abordou a icônica varejista de moda e definidora de tendências, a Maxfield, em West Hollywood. Ele convenceu o proprietário a estocar algumas de suas peças. Ele então passou uma quantidade excessiva de tempo com os vendedores na loja, conhecendo seus novos clientes.

Mike se perguntava: “Quem era esse cara? Um artista? Um atleta? E enquanto eu projetava, imaginava aquela pessoa um pouco mais e colocava minha criatividade nesses heróis. E passou de seis peças para oito peças, para 15 peças, para 20 na prateleira. E não estava vendendo em nenhum outro lugar do mundo. Se você quisesse comprar aquele produto, poderia descobri-lo nas redes sociais ou em Maxfield, ao lado de alguns dos melhores trabalhos do mundo.”

O hype em torno da coleção foi amplamente construído nas mídias sociais. Sabendo disso, Mike utilizou totalmente essas plataformas, que ele considera imensamente responsáveis pelo lançamento de sua marca.

“A mídia social ajuda a democratizar quais talentos podem brilhar. Se você olhar para o mundo da moda tradicional, ou você foi descoberto por uma empresa ou existe um editor que ajudará você a se destacar. Ou você cavou sozinho seu espaço em um showroom de vendas. Você tem de esperar que alguém diga: 'Sim, vou te dar uma chance'.”

Mike chama esses árbitros da moda de “porteiros”. Embora acredite que sejam relevantes, ele não acredita que controlem o processo como antes.

“Eu nunca teria sobrevivido naquele mundo. Para mim, foi mais como 'estou criando esta peça e vou postar uma foto dela. E fique à vontade para falar se você gosta ou não… E se você gostar, pode comprar aqui…'”

Ao interagir com o cliente, Mike encontrou uma rota mais direta para comercializar sua marca. Ele conversou com uma nova geração que podia checar seu post e ver, por exemplo, o que é o dia a dia de um designer. Ao fazer isso, ele criou um relacionamento genuíno com seus clientes, com total transparência. Eles aprenderam sobre a abordagem artística AMIRI, combinando artesanato europeu tradicional, delicado e requintado, e fabricações com uma sensibilidade faça-você-mesmo, inovadora e de garagem.

Depois que as peças da AMIRI se esgotaram na loja, a Maxfield propôs uma experiência de compra pop-up para seus clientes. Mike interpretou a oferta de maneira diferente.

“Não era como uma pequena loja pop-up na minha cabeça. Era minha primeira loja de varejo. E eu ia tratá-la como tal… Este é o meu teste para Rodeo Drive.”

Um espaço exclusivo da AMIRI, a loja estava repleta, de bolsas a chapéus, calças e casacos. O objetivo era montar um look completo com a AMIRI. Mas o dinheiro estava apertado. Mike teve de montar uma operação enxuta, com apenas algumas pessoas, incluindo ele próprio, trabalhando em seus projetos e no desenvolvimento e produção dos produtos. Apesar da jovem marca nunca ter feito isso antes, vendeu quase US$ 300 mil em mercadorias em apenas três horas.

“Foi realmente orgânico… mas um processo meticuloso do começo ao fim. O produto era tão detalhado e cheio de ideias, e demorou uma eternidade para ser feito. Quando chegou às prateleiras, era um tanto incontestável.”

Para Mike, quando se trata do produto acabado, o todo não é maior do que a soma de suas partes: o todo é a soma de muitas grandes partes.

“Para completar um produto perfeito, nunca é 50 mais 50. É um mais um, mais um, até chegar a 100, cada pequeno elemento, desde a cor, ao caimento, à fabricação, ao comprimento… Todas essas coisas fazem o todo. Mas nunca é, 'Oh, isso parece ótimo porque eles estão usando um tipo especial de linha…' Cada elemento conta.” Mais tarde, ele afirmou: “Se algo é inegavelmente bom, como você pode dizer, não?”

Mike também acredita que a exclusividade é a chave do sucesso no mercado de luxo. Outra base é a incorporação de disciplina seletiva. No início, ele exerceu “contenção para não vender para muita gente”. A Maxfield, conhecida por ser uma butique ultraexclusiva, vendeu AMIRI por um ano e meio antes de Mike passar a vender para outro varejista.

A Barneys Beverly Hills começou, como a Maxfield, com apenas algumas peças AMIRI. E, como a Maxfield, a Barneys vendeu tudo rapidamente. Mike repôs o pequeno estoque, entendendo que a escassez faz parte da fórmula de sucesso. As novas peças esgotaram-se rapidamente, de novo. O ciclo continuou e cresceu lentamente, com Mike continuando a fazer suas visitas regulares de reconhecimento aos vendedores locais para conhecer sua base de clientes em constante expansão. Por fim, a AMIRI se tornou uma das cinco marcas mais vendidas de toda a empresa Barneys.

“Meu caminho é diferente do de muitos designers, que vendiam o que precisavam vender para quem quisesse comprar.”

Russ Patrick, vice-presidente sênior e gerente geral de Mercadorias para Homens, Presentes & Casa e Crianças da Neiman Marcus, comentou: “Mike destilou sua educação em Los Angeles em um visual distinto que ressoa fortemente com nosso cliente Neiman Marcus. Iniciamos nossa parceria há quase cinco anos lançando a coleção em nossa loja em Beverly Hills, com uma “shop-in-shop” inovadora e acolhedora. Muitos anos depois, o desejo de nossos clientes pelo AMIRI continua a crescer e sua presença em nosso portfólio de lojas também. O sucesso de Mike como designer americano, em escala global, foi impressionante e rápido para uma marca relativamente nova. Ele demonstrou uma capacidade de concentração incrível, expandindo a presença e variedade da marca de maneira cuidadosa e meticulosa, consolidando seu lugar como uma marca influente no espaço do luxo”.

A localização da linha de produtos é outro componente vital na construção de uma marca de luxo, acredita Mike. Diga-me com quem andas que te direi quem és.

“Meus designs têm de estar com os dos meus colegas. Eu preciso sentar ao lado de Gucci. Preciso sentar ao lado de Christian Dior. E alguns diziam [referindo-se à marca]: 'Você tem 2 anos de idade.' E na minha cabeça, eu dizia: 'Não há diferença entre a minha arte e esta arte.' E alguns compradores deixaram passar e se arrependeram, e outros compradores como a Barneys, por exemplo, disseram: 'Farei negócio com você.'”

Como as qualidades que admira em seus heróis, Mike possui força em sua convicção. Determinado a vencer assumindo o controle do processo e do destino da empresa, Mike pôde escolher onde a AMIRI seria vendida.

“Tudo o que fiz na Barneys, fiz na Selfridges, fiz em Paris, fiz em Tóquio e fiz em todas as lojas de departamentos dizendo: 'Não vou vender a menos que seja em um contexto de luxo, porque é desse calibre.' E fazendo isso ao redor do mundo, pouco a pouco, a marca criou uma comunidade que era global… O incrível é que não serei o último a fazer isso. Eu acho que isso vai ser uma espécie de roteiro.”

Ele acredita que muito outros designers, não do mundo do design tradicional, vão surgir e abrir lojas em ruas de prestígio ao redor do mundo, como a Rodeo Drive.

 

Final do desfile AMIRI Outono-Inverno 2023 no Le Carreau du Temple em Paris em 19 de janeiro de 2023
@Kristen Pelou Photography


O empresário e conhecedor internacional de moda Renzo Rosso, fundador e presidente do grupo de moda OTB (Only the Brave), com sede na Itália, com empresas como Maison Margiela, Jil Sander, Marni, Diesel e uma participação minoritária na AMIRI, afirma: “A AMIRI é algo exclusivo. Mike é um gênio absoluto e conseguiu criar uma marca que tem alma, uma voz distinta e se destaca entre todas as outras. O projeto que Mike tinha em mente e o que ele queria fazer foram os fatores que me levaram a acreditar no projeto e investir nele.”

Mike tem uma paixão avassaladora por sua marca, mas não é o único amor em sua vida.

Casado há 14 anos com sua linda esposa Shirin, ele é o orgulhoso pai de três filhos, a filha Kayla e os filhos Ryan e Jordan. Ter de conciliar os negócios com a vida familiar o obrigou a fazer algumas escolhas difíceis, até mesmo sacrifícios, para passar o tempo com os filhos.

“Acho que no começo, quando você está construindo algo tão grandioso, precisa ficar obcecado por ele. É um de seus filhos, também. Acho que não há como fazer algo tão grande se você não estiver completamente obcecado. Quando eram mais jovens, eles me lembravam das coisas que perdi. Mas depois que o trabalho fundamental foi feito na empresa, consegui equilibrar meu tempo de forma muito, muito melhor. E também incluí-los no meu mundo. Não é mais um assunto delicado. Eles quase nunca trazem isso à tona. Eles têm orgulho de saber que fui capaz de fazer algo muito raro e incomum.”

Rosso acrescentou: “Mike e eu também temos um forte vínculo pessoal e tentamos passar algum tempo de lazer juntos, com nossas famílias, durante o ano. Compartilhamos nossas perspectivas, ideias e experiências, e sinto que esses são momentos muito significativos para nós dois. Acredito firmemente que a família é uma fonte de inspiração e energia positiva para Mike; este é um dos valores mais importantes para ele e contribui para sua extraordinária criatividade e paixão.”

Após a reverência de Mike no desfile AMIRI Spring-Summer 2023 Paris no Jardin des Plantes, seus filhos, junto com Shirin, pularam de suas cadeiras e correram espontaneamente para o pai para parabenizá-lo.

“O que mais ouvi das pessoas: 'Meu momento favorito em qualquer desfile de moda foi ver seu filho pular da cadeira e vir te abraçar.' Ouvi isso muitas vezes. É muito bom que o sacrifício tenha sido deles e meu. E a celebração é deles e minha.”

Para Shirin também, ela faz parte da AMIRI desde o início.

“Sempre digo às pessoas para se cercarem de quem se reafirma como eles próprios se veem. Quando começamos a construir [a marca]”, continua Mike, “nossos amigos eram todos profissionais, com carreiras profissionais. Eu era um artista. Nunca me senti um pequeno artista. Eu sempre senti que era mais do que era naquela época. Shirin me fez sentir assim. Nunca houve uma diferença entre antes e agora. Mesmo não tendo nem um centésimo do que temos agora.”

O escopo aspiracional da AMIRI continuou a se ampliar, graças à engenhosidade e visão de futuro de Mike. Atualmente, a empresa cria seus designs no espaço chique, descontraído e luxuoso da Califórnia e não apenas para homens. Abrindo caminhos e ganhando prêmios, Mike levou sua empresa para os calçados, moda feminina, óculos, moda infantil e acessórios de estilo de vida, incluindo artigos de couro e bolsas.

Onde Mike encontra inspiração?

“Quando comecei a fazer peças, e eram peças de palco para cantores, os líderes das bandas, havia algo de heróico neles que queria conectar às roupas. Se foi moldada de uma certa maneira, onde se moveu de uma certa maneira, onde brilhou de uma certa maneira. E acho que ao pegar essa sensibilidade e trazê-la para o nível da rua, você não precisa ser um astro do rock para criar esse sentimento de exclusividade, a confiança que alguém pode obter com as roupas. E então, quando estou desenhando personagens agora, quando estou pensando em desfiles, sempre digo: 'Quem é meu herói nesta temporada? Onde ele vai? Em que época ele vive? Como faço para que esse toque volte para os dias de hoje? Como ele seria hoje?” Quando faço roupas esportivas ou agasalhos, olho para Michael Jordan. Eu olho para a arrogância que ele carregava. Eu olho para o comprimento de seus shorts ou para o fato de que suas camisetas cortadas se projetavam uma polegada além de seus ombros e como isso criava uma forte silhueta de ombro.”

Da mesma forma, Mike descreve a “mulher AMIRI” como uma heroína, sua própria heroína. Ele pensa no herói masculino e na heroína feminina como a mesma pessoa.

“Ela carrega aquele mesmo brilho intenso que eu quero que o cara tenha no palco. Ela tem confiança, feminilidade, mas tem força suficiente para usar coisas que são tradicionalmente silhuetas masculinas”.

Mike desenha muita alfaiataria para mulheres, como ternos oversized, mantendo os mesmos princípios de facilidade, conforto e luxo.

“Eu simplesmente amo a aparência de uma mulher quando ela se fortalece com algo não tradicional. Há uma certa força nisso. E foi quando comecei a abrir lojas e notar as mulheres que vinham com os clientes homens, que pegavam um blazer e vestiam. E eu fico tipo, ‘Oh, ela usaria isso. Isso era dela.'”

Ele também descreve a mulher AMIRI como confiante, irreverente e sem esforço. Com a conclusão de duas coleções femininas completas, incluindo calçados e acessórios femininos, Mike acredita que está no caminho certo.

Mas será que os calçados femininos vão igualar o sucesso da divisão de calçados masculinos? No total, o calçado AMIRI hoje representa quase 20% de todo o negócio. Mais uma vez, Mike não desenvolveu a divisão de calçados tradicionalmente, contratando um influenciador esportivo para comercializar o produto. Em vez disso, Mike traçou seu próprio caminho.

“Assim como nossos tênis de cano baixo esqueleto, eles parecem ter uma silhueta esportiva casual. Mas quando você toca, o couro é um verdadeiro couro de luxo e o forro é um luxo. E então o interior do sapato faz parecer que você está pisando em travesseiros. Quase parece os detalhes de uma bolsa. E a arte [deles] foi realmente criada a partir de coisas que fizemos como skatistas, quando você escrevia e desenhava ossos em seus tênis. Então, vai ter a sensibilidade juvenil dos ossos, mas a execução de uma casa de luxo.”

Mais uma vez, Mike segue sua fórmula autêntica e criativa, mantendo-se dentro dos limites da identidade da marca.

“Existe algo especial em usar mais a criatividade do que a capacidade. No segundo em que você perde a magia que tinha quando estava sozinho em uma garagem ou porão, o brilho começa a diminuir.”

Para manter o ritmo, Mike está aberto a colaborações. Isso fica evidente em sua parceria única com o artista americano contemporâneo Wes Lang, para as coleções de moda masculina e estilo de vida outono-inverno 2022 da AMIRI. Mike foi atraído pelo pedigree de Lang. Tendo estabelecido seu primeiro espaço de trabalho no Chateau Marmont, Lang construiu um nome global para si mesmo e compartilha a abordagem inovadora de Mike. Sua colaboração é pensada como uma exploração da herança estética da cidade, refletindo a interseção dos mundos do rock, do skate, do luxo, do artesanato, da arte e do glamour – que define Los Angeles.

Mike procura criar um burburinho com suas colaborações, para criar algo de duas mentes que não existiria de outra forma. Ele espera fazer muito mais no futuro.

De todas as realizações de Mike, ele está mais orgulhoso de seus esforços para retribuir.

“Tenho plena consciência e fico maravilhado todos os dias por podermos fazer o que fazemos. Mas o propósito tem de ser mais do que construir algo realmente grande para você.”

Assim, criou o Prêmio AMIRI. É um prêmio de US$ 100 mil para o designer empreendedor vencedor, que recebe orientação de toda a empresa para o ajudar a entender as armadilhas do design de uma marca. O prêmio oferece total transparência da infraestrutura executada com sucesso pela AMIRI. Mais importante ainda, permite que um designer jovem e talentoso crie e execute um plano de negócios.

“O grande propósito da AMIRI não é ser o designer independente que criou um império de luxo. É ser um designer independente que ajudou a desencadear um monte de outros designers independentes a criar uma nova geração de impérios. Acho que isso é o que mais me emociona.”

Promover empatia é significativo para Mike. Em janeiro passado, ele decidiu chamar a atenção para as injustiças sociais que ocorrem no país natal de sua família, o Irã. Após seu desfile na Paris Fashion Week, ele apareceu no final da passarela na frente dos fashionistas mais influentes do mundo, vestindo uma camiseta preta que dizia em letras garrafais: “Mulher, Vida, Liberdade”. Parecia adequado porque a plataforma era moda, e a questão da injustiça social foi deflagrada por causa das roupas tradicionais.

“Senti a responsabilidade de usar essa oportunidade para lançar luz e conscientização, para que qualquer foto minha que circular vai fazer uma declaração que educa as pessoas sobre o que está acontecendo, ou diz às pessoas 'Eu entendo você; estou ciente.' Talvez, em parte, não tenhamos o poder para mudar as coisas fisicamente, mas temos o poder de criar consciência e reconhecimento.”

Então, o que vem agora?

“Estou apenas sonhando alto. Eu sempre pensei que você pensa grande até fazer acontecer, então você percebe que há algo realmente maior que está na sua frente, e você vai em frente, o que parece impossível, mas você faz acontecer e então você sonha ainda mais alto…”

Mike é bem versado em sonhar. Ele fez isso a vida toda.

“Você tem de sonhar porque o objetivo final não é a recompensa. A recompensa é a jornada ao longo do caminho, e assim que você pensa que chegou a algum lugar, isso significa que sua jornada parou. Então, para mim, é sempre outra coisa, porque estou obcecado em criar esse caminho e essa jornada, e não quero que haja uma linha de chegada.”

Provavelmente nunca haverá uma linha de chegada para a AMIRI.

No final de nossa entrevista, Mike me levou de volta à loja, ainda respondendo a perguntas sobre suas peças expostas. Eu o ouvi descrever com orgulho o acabamento de cada item que via, apontando cada detalhe requintado e a sensação de frescor da Califórnia que conotava.

Quando abri a porta da frente e fui instantaneamente transportada de volta para a escuridão em preto e branco do dia, fiquei maravilhada com o mundo que Mike criou.

O que é surpreendente é que nasceu da imaginação sem limites de um adolescente intrépido, que assombrou os clubes de rock de Hollywood e os corredores de Beverly Hills High, e acabou nas passarelas da Semana de Moda de Paris.

Sua ascensão ao topo foi pouco ortodoxa. Ele rejeitou as trajetórias de carreira padrão ditadas pela elite da indústria da moda, contornando os caprichos de editores e compradores, e optou por apelar diretamente para as massas. Seu sucesso monumental em conquistar seu próprio espaço, em seus próprios termos, dentro do mercado de varejo de luxo, fez dele um visionário único. E, no processo, ele criou um roteiro para outros aspirantes a jovens designers de todo o mundo seguirem.

Mike transformou um sonho, em um porão na Sunset Boulevard, em uma marca internacional de luxo com uma vitrine reluzente na Rodeo Drive. Ele fez do jeito dele. E, se você perguntar, ele vai te dizer que está apenas começando.

Leia o artigo original aqui.

icon_WhatsApp
icon_Twitter
icon_facebook
icon_email
PUBLICIDADE
Confira também