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Rota do Blues nos EUA – uma viagem regada a boa música, campos de algodão e panquecas da vovó
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Rota do Blues nos EUA – uma viagem regada a boa música, campos de algodão e panquecas da vovó

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Rota De Férias
10/12/2021 19h42
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A Rota do Blues nos EUA é algo que existe mais no imaginário dos viajantes do que um destino propriamente dito, demarcado ou algo do gênero. Para muitos, ela vai de Nashville, no Tennessee, até New Orleans, na Louisiana, com direito a um pit stop em Memphis.

Mas é no Delta do Mississipi, no meio do caminho, que o trajeto ganha ares de rota para valer, com referências, lugares históricos e atrações relacionadas a alguns dos maiores gênios do blues. Afinal, foi lá, em meio a plantações de algodão, que o ritmo nasceu.

Fiz este trajeto a bordo de um jipão e posso dizer que é sensacional, uma viagem e tanto. Conto aqui todos os detalhes para quem planeja conhecer a Rota do Blues.

New Orleans, na Rota do Blues nos EUA | Paulo Basso Jr.

Rota do Blues – mapa

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Os principais destinos da Rota do Blues nos EUA são:

  • Nashville
  • Memphis
  • Tunica
  • Clarksdale
  • Cleveland
  • Indianola
  • New Orleans

Quem quiser pode fazer um desvio entre Memphis e o Delta do Mississipi para visitar Tupelo, a cidade onde Elvis Presley nasceu. Outra dica para ampliar a viagem é usar Clarksdale de base e visitar os arredores, como Greenville e Greenwood.

Dicas para viajar pela Rota do Blues

A melhor maneira de fazer a Rota do Blues dos EUA é de carro ou de moto. Isso porque as estradas são boas e há muitas paradas pelo caminho. Além disso, muitas cidades do roteiro não contam com aeroportos nas proximidades.

O ideal é fixar algumas cidades como base, entre elas Nashville, Memphis, Clarcksdale e New Orleans, e explorar os arredores sem pressa, sobretudo na região do Delta do Mississipi. Veja aqui como alugar um carro de um dos parceiros do Rota de Férias para viajar mais tranquilo.

Quanto tempo é necessário?

Para ver a Rota do Blues meio que por cima, considere ficar dois dias em Nashville, dois em Memphis, três no Delta do Mississipi e mais dois em New Orleans. Como é preciso considerar ainda os deslocamentos, caso possa ficar ao menos três dias em cada uma dessas bases, nem pense duas vezes: a viagem será ainda melhor.

A história do blues

Um banho de história na Rota do Blues nos EUA | Paulo Basso Jr.

Quem deseja saber como surgiu o blues precisa voltar no tempo, ao menos, até meados do século 17. Nessa época, nas plantações do sul dos EUA, principalmente as de algodão do Mississipi, os escravos negros já costumavam cantar músicas relacionadas à fé (spirituals) e ao cotidiano na lavoura enquanto trabalhavam.

Com notas baixas tocadas em instrumentos de cordas, letras simples embaladas por uma melodia lamuriosa e versos repetitivos, o ritmo foi transmitido oralmente até que W. C. Handy, que se autodenomina o pai do blues, colocou no papel algumas composições e gravou suas primeiras canções. Ele teria se inspirado ao ver um homem tocando violão com um canivete.

Anos depois, já na década de 1920, Charley Patton tornou-se o primeiro artista popular do ritmo. À época, ele vivia na Dockery Farms, plantação de algodão em Cleveland, no Delta do Mississipi. Ali mesmo ele teria ensinado Son House, Tommy Johnson, Howlin Wolf e Robert Johnson, entre outros nomes que se tornariam fenômenos do gênero, a tocar violão.

Com o tempo, o blues se tornou símbolo das pessoas negras nos EUA e motivo de reuniões festivas. A partir da década de 1940, quando muitas pessoas do sul se mudaram para o norte do país em busca de oportunidades de trabalho, evoluiu ainda mais. Em Chicago, sobretudo, o ritmo foi impulsionado com a guitarra de nomes como Muddy Waters e o baixo de Willie Dixon.

Delta Blues Museum, em Clarksdale | Paulo Basso Jr.

Ao mesmo tempo, os acordes de B.B. King atraiam cada vez mais a atenção da população mais abastada dos EUA, tornando o ritmo popular em todo o país. A partir da metade do século 20, músicos como Elvis Presley, Chuck Berry, bem como bandas como The Beatles e Rolling Stones, entre outros talentos, transformariam o blues em rock and roll e mudariam para sempre a história da música.

Tudo isso você aprende nas paradas da Rota do Blues nos EUA, principalmente em destinos como o Museu do Blues de Clarksdale. E conhecer a história do ritmo é só uma das partes divertidas de viajar pela região.

Guia completo da Rota do Blues nos EUA

O trajeto pode ser feito entre Nashville, mais ao norte, e New Orleans, ao sul dos EUA, ou vice-versa, não importa. Nesse caminho, listei aqui as principais paradas da Rota do Blues.

TENNESSEE

As principais atrações no Tennessee para os fãs de blues são as cidades de Nashville e Memphis. Cerca de três horas de carro as separam. Ambas valem, ao menos, dois pernoites.

Nashville

Honky tonk na Broadway, em Nashville Paulo Basso Jr.

Berço do country nos EUA, Nashville, a capital do Tennessee, transpira diversão dia e noite, o que faz dela uma espécie de Las Vegas dos sul do país. Sem cassinos, é verdade, mas com semelhante concentração de despedidas de solteiros por metro quadrado, bem como uma galera de todas as idades disposta a aproveitar a vida como se não houvesse amanhã.

Ali, é possível ver como o blues e o country se uniram a ponto de atrair nomes como Elvis Presley, que começou a carreira em Memphis, mas gravou a maior parte de suas músicas em Nashville.

O que fazer em Nashville

Uma rua repleta de bares (chamados por lá de honky tonks), chamada Broadway, é o coração de Nashville. Ali, a farra é garantida dia e noite. O local conta com diversos bares e fica pertinho de atrações como o Johnny Cash Museum, que eu adoro.

Country Music Hall of Fame | Paulo Basso Jr.

Para quem está na rota da música, é imperdível passar pelo Country Music Hall of Fame e o RCA Studio B. O tour em ambos os lugares é feito de uma vez só.

No primeiro, dá para descobrir toda a história do country. O segundo, por sua vez, gravou a maior parte dos álbuns de Elvis Presley e também de muitos nomes do blues.

Uma vez em Nashville, ainda vale a pena conhecer o Ryman Auditorium, templo sagrado para artistas de vários gêneros  musicais. Coloque na agenda também a casa de shows Grand Ole Opry House.

Ryman Auditorium | Paulo Basso Jr.

Acesse o link para conferir uma lista completa com o que fazer em Nashville e veja também 15 atrações que fazem da cidade do Tennessee uma das mais divertidas dos EUA. Aproveite e confira minha seleção com 10 opções para comer em Nashville, uma melhor que a outra.

Onde ficar em Nashville

O Bobby Hotel fica perto das principais atrações de Nashville e é uma boa para quem busca luxo. Em SoBro, o The Westin Nashville também esbanja conforto e sofisticação.

Para quem quer gastar menos e, mesmo assim, ficar bem instalado, minha dica é o Fairfield Inn & Suites. Ele está em The Gulch, uma área cheia de atrações moderninhas e que fica próxima aos principais pontos turísticos de Nashville.

Memphis

Graceland | Paulo Basso Jr.

Memphis é uma das minhas cidades preferidas nos EUA e, se você gosta de blues e rock, provavelmente será uma das suas, também. O local transpira diversão, sobretudo nos arredores da Beale St., rua repleta de bares e locais para curtir um bom som.

É em Memphis que B.B. King cresceu como músico. Ali também está o Sun Studio, onde o primeiro rock da história foi gravado. Não à toa, o local foi celeiro de nomes como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e Carl Perkins. Só para citar alguns

O maior ponto turístico de Memphis, porém, é Graceland, a casa do Rei do Rock. Aqui, você confere um guia completo para explorar a cidade.

O que fazer em Memphis

Para os fãs de música, o tour em Memphis pode começar pela Sun Studio, o lugar em que Elvis Presley gravou a primeira música e seus primeiros sucessos. Ali também foi gravado o primeiro rock da história, chamado Rocket 88. A música de Ike Turner, Jackie Brenston e Delta Cats é de 1951.

Sun Studio | Paulo Basso Jr.

Durante o passeio, é possível conferir todas essas histórias e fazer fotos com instrumentos, inclusive um microfone original usado por Elvis Presley, Dura cerca de 30 minutos e é muito legal.

Ainda na trilha do Rei do Rock, não dá para sair de Memphis sem visitar Graceland. É possível ver a casa de Elvis por dentro, passando por diversos cômodos. Além disso, há um baita museu no local, onde dá para ver a trajetória, instrumentos, roupas e até os carrões do artista.

De noite, a Beale St. pega fogo, com muitas bandas de blues e rock tocando ao vivo em casas como o B.B. King Blues Club. Vale a pena pingar de uma para outra, com destaque ainda para o Blues City Café (o mais animado) e o Rum Boogie Cafe (o que costuma receber melhores músicos).

Rum Boogie Cafe, na Rota do Blues nos EUA | Paulo Basso Jr.

Há ainda muitas outras atrações em Memphis, como o excelente National Civil Rights Museum, erguido no hotel em que Martin Luther King Jr. foi assassinado. Aproveite e confira minhas dicas de onde comer em Memphis e o que fazer nos arredores da cidade.

Onde ficar em Memphis

O hotel mais icônico de Memphis é o Peabody Memphis. Elegante, fica muito bem localizado e oferece boas promoções ao longo do ano. Eu já fiquei lá e também no Sheraton Memphis Downtown Hotel, um pouco mais ao norte, mas com quartos amplos e com vista para o Rio Mississipi, o que é demais.

Vale considerar ainda o Comfort Inn Memphis Downtown, que fica perto dos principais pontos turísticos de Memphis e tem bom custo-benefício. Eu já fiquei no La Quinta by Wyndham Memphis Downtown, também, e gostei.

Memphis, em geral, é uma cidade mais barata que Nashville, então vale a pena caprichar no hotel ao ficar por lá.

MISSISSIPI

É em Mississipi que a Rota do Blues nos EUA ganha alma para valer. É lá, na região do Delta, que você visita museus, campos de algodão e as melhores casas de show do roteiro.

Ground Zero Blues Club, em Clarksdale | Paulo Basso Jr.

Para quem vem de Memphis, dá para seguir diretamente para Tunica, em um trajeto de apenas 50 minutos de carro. Da “porta de entrada” da Rota do Blues no Mississipi, são mais 40 minutos até Clarksdale, o melhor lugar para ficar na região e que serve de base para visitar os arredores, como Cleveland e Indianola, grandes pontos turísticos do trajeto.

Dali, antes de seguir para New Orleans, ao sul, há quem faça um desvio de duas horas para conhecer Tupelo, cidade onde nasceu Elvis Presley. Não há muito o que fazer por lá, embora a casa em que o Rei do Rock tenha vivido os primeiros anos da infância seja charmosa.

A casa em que Elvis Presley nasceu, em Tupelo | Paulo Basso Jr.

Como o caminho entre Clarksdale ou Tupelo e New Orleans é longo e passa das cinco horas de carro, há quem considere fazer um pernoite em Jackson, a capital do Mississipi.

Tunica

Tunica rede uma parada rápida. É lá que fica o Gateway to the Blues Museum and Visitor Center, espécie de portal de entrada da Rota do Blues propriamente dita. O local é pequeno, mas já traz uma mostra do que virá pela frente ao contar uma breve história do ritmo musical. Há diversos instrumentos históricos para apreciar por lá.

A cidade abriga também a placa azul da Highway 61 Blues, estrada que você percorrerá em todo o Delta do Mississipi e que é uma espécie de Meca para os fãs do ritmo. Não à toa, Bob Dylan tem um álbum chamado “Highway 61 Revisited”.

Acostume-se também às placas azuis que indicam os pontos históricos e deixam claro que, enfim, você está na Rota do Blues. Ah, se der fome, uma boa dica de restaurante em Tunica é o The Hollywood Cafe.

Clarksdale

Clarksdale é a grande joia da Rota do Blues dos EUA. Simples, marcada pela vida difícil que perdurou no sul dos EUA por anos e pela segregação, a cidade praticamente vive da música. Há bons hotéis por lá, assim como restaurantes e uma ótima cena noturna. Para se ter uma ideia, assim que cheguei no hotel recebi uma lista com todos os eventos que aconteceriam na cidade naquela semana.

O que fazer em Clarksdale

Uma das atrações de Clarksdale é o Delta Blues Museum, um dos melhores da viagem. Ali, é possível conhecer toda a história do blues, com seções específicas destinadas a grandes nomes do ritmo.

Clarksdale, na Rota do Blues nos EUA | Paulo Basso Jr.

A principal delas é dedicada a Muddy Waters, com uma réplica da cabana em que ele morava em uma plantação de algodão nos arredores e uma guitarra feita com madeiras originais da residência simplória do bluesman, criada por ZZ Top. Não é permitido fazer fotos no interior.

O maior ponto turístico de Clarksdale, porém, é a Crosswords. Trata-se do mítico cruzamento entre a Hwy 322/N State St. e a Desoto Ave. (antigas US Hwy 61 e Old US Hwy 49) em que, reza a lenda, Robert Johnson teria vendido a alma para o diabo em troca de receber o “dom do blues”.

A história, espalhada principalmente (e de forma humorada) por Son House, consiste no fato de que Robert Johnson era um músico apagado, pouco reconhecido na região. Até que ele sumiu por um tempo e, quando voltou, tornou-se um dos maiores bluseiros da história, criando a base harmônica que faria do ritmo um sucesso mundial e daria origem, futuramente, ao rock and roll.

Contribuiu para a lenda o fato de Robert Johnson ter sido uma pessoa calada e soturna, que tocava voltado para a parede e tinha muita facilidade em repetir na íntegra canções que ouvira uma única vez. Segundo o mito, o músico teria vendido a alma para o diabo com a condição de gravar apenas 30 canções.

A Crosswords de Robert Johnson | Paulo Basso Jr.

Há poucas fotos de Robert Johnson, mas gravações históricas de 29 músicas (veja só) perpetuam sua arte. Antes de gravar a 30ª canção, ele teria morrido aos 27 anos após beber uísque envenenado com estricnina. A bebida fora servida pelo dono de um bar chamado Three Forks, em Greenwood, perto de Clarksdale, que suspeitava que o músico havia mantido relações sexuais com sua mulher.

Com a morte, Robert Johnson teria dado origem ao chamado Clube dos 27, marcado pelo falecimento precoce, sempre aos 27 anos, de várias celebridades, como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Amy Winehouse.

Quem quiser pode ir a Greenwood visitar o túmulo em que Robert Johnson estaria supostamente enterrado. Supostamente porque há outros dois lugares que já foram indicados como o jazigo do músico, embora o de Greenwood seja o mais aceito pelos historiadores.

Blues no Delta do Mississipi

Tudo isso já rende muito pano para manga em Clarksdale, mas quem vai à cidade ainda pode curtir blues de primeira em bares como o Ground Zero Blues Club, que tem como um dos proprietários o ator Morgan Freeman, e o Red's Lounge.

Red's Lounge | Paulo Basso Jr.

O Ground Zero Blues Club é mais turístico, com uma baita decoração e um bom cardápio de porções e sanduíches, enquanto o Red's Lounge é pitoresco, simplório e até mesmo assustador. Basta ficar alguns minutos lá, porém, para fazer amizade com os músicos e funcionários e entrar no clima familiar. Trata-se de um bar bem pequeno, com um punhado de cadeiras circundando a área em que fica a banda e um bar que serve apenas bebidas. Ali, vi baitas shows de artistas locais, como Big T e Big A.

Outro lugar incrível para ouvir música na região é o Shack Up Inn. O hotel que já recebeu grandes artistas e tem uma área fechada, onde rolam shows. Eu dou mais detalhes sobre a hospedagem logo abaixo, já que ela é demais.

Na hora de comer em Clarkdale, há muitas opções. Para almoçar, não há nada mais clássico que a Abe’s BBQ, churrascaria típica do sul dos EUA que fica bem em frente à Crosswords – reza a lenda que Robert Johnson teria comido um sanduba lá antes de vender a alma para o diabo.

Jantei um dia também no Hooker Grocer & Eatery, mas não curti muito a comida. O som que rolava por lá, com uma dupla tocando blues, entretanto, valeu a visita.

No café da manhã, há duas boas opções: o Bluesberry Cafe, onde bandas de blues se apresentam enquanto o dono, o bluesman Watermelon Slim, vem bater papo na sua mesa, e o Our Grandma House of Pancakes, cujo nome já diz tudo: ali, são servidas deliciosas panquecas da vovó, um carinho típico que só o Delta do Mississipi sabe entregar para o viajante.

Onde ficar em Clarksdale

Shack Up Inn | Paulo Basso Jr.

Quem quer entrar no clima do blues pode ficar no Shack Up Inn, hotel famoso por abrigar uma área fechada para shows e um quintal enorme cercado de cabanas que remetem às residências simples das plantações, onde moravam os bluseiros quando tudo começou. Fica um pouco afastado do centro.

Para ficar perto das principais atrações de Clarksdale, optei pelo Travelers Hotel. Trata-se de um hotel muito estiloso, com quartos bem simples, sem TV, mas com um jeitão rústico único e um atendimento de primeira. Dali, dá para fazer quase tudo a pé, inclusive de noite. O Delta Blues Museum e o Ground Zero Blues Club ficam bem pertinho, assim como as panquecas da vovó.

Cleveland

De Clarksdale, são apenas 45 minutos de carro até Cleveland, onde fica a Dockery Farms, a plantação de algodão mais icônica da história do blues. Ali viveram, trabalharam ou frequentaram nomes como Charley Patton, Son House, Tommy Johnson, Howlin Wolf e Robert Johnson.

A entrada da Dockery Farms é marcada por um posto de gasolina antigo, que rende ótimas fotos. Lá dentro, o passeio é por sua conta. Dá para ver uma placa azul que conta a história do local, observar maquinários antigos e assistir a um vídeo que revela como era a vida por lá no auge do cultivo de algodão nos EUA.

Dockery Farms, o berço do blues | Daniela Piffer

Dá ainda para apertar uns botões espalhados em mesas nas edificações de madeira para que ótimos blues comecem a ecoar pelas caixas de som. Assim mesmo, do nada. Estava sozinho quando fiz isso, e a sensação foi indescritível. Vale muito a pena e é de graça – embora haja uma caixinha de coleta com incentivo a doações.

Na ida ou na volta de Clarksdale, dá para parar no Shack Up Inn e em diversos campos de algodão, para fazer fotos. Quando eles estão branquinhos, floridos, é lindo demais.

Stovall Plantation

Pouco menos de 15 minutos de carro separam Clarksdale da Stovall Plantation. Foi lá que Muddy Waters viveu a maior parte dos seus primeiros 30 anos e gravou sua primeira música, em uma traquitana instalada no porta-malas do carro de um empresário que procurava talentos na região.

Não há nada para fazer lá, a não ser ver a placa azul que indica que o bluesman viveu naquela plantação de algodão, a maior parte na cabana que foi reconstruída no Delta Blues Museum. No texto da placa, há um registro histórico: encantados com o som de Muddy Waters, certos ingleses resolveram batizar sua banda com o nome de uma das canções do ídolo: “Rollin' Stone”.

Stovall Plantation, onde morou Muddy Waters | Paulo Basso Jr.

Como não tinha ninguém por perto, resolvi parar o jipe no meio do campo do algodão, em frente à placa azul, com aquele mar branco se espalhando a perder de vista por todos os lados. Abri as portas, coloquei “Mannish Boy” para tocar e fiquei imaginando o Muddy ali, tocando guitarra só para mim. Que viagem.

Indianola

Outra parada da Rota do Blues nos EUA que precisa entrar no roteiro é Indianola. Afinal, é lá que fica o B.B. King Museum, um museu fantástico, moderno e com ótima curadoria, onde dá para aprender toda a trajetória do Rei do Blues.

Indianola, na Rota do Blues nos EUA | Paulo Basso Jr.

Não precisa nem conhecer tanto a carreira do músico para ficar boquiaberto com os detalhes. Passando pelas várias salas, você descobre que ele nasceu numa fazenda de algodão em Itta Bena, perto de Indianola,

De quebra, fica sabendo que a origem de seu nome artístico vem de sua passagem por Memphis, quando passou a ser chamado de Beale Street Blues Boy – alcunha que foi se reduzindo até virar B.B (King fazia parte de seu nome real, Riley Ben King).

Também entende como B.B. King levou o blues para as pessoas brancas dos EUA e se depara com várias Lucille, como ele chamava suas guitarras. O motivo que levou a isso é curioso (senta que lá vem história).

Em 1949, ainda em início de carreira, o bluesman fazia um show em Twist, no Arkansas, quando dois homens começaram a brigar e acabaram derrubando um tonel de querosene. O resultado foi um incêndio terrível na casa, do qual B.B. King escapou ileso.

Ocorre, porém, que ele resolveu voltar para o ambiente em chamas a fim de salvar sua guitarra, que custava cerca de US$ 30 à época e era seu bem mais precioso. Por pouco não perdeu a vida, mas escapou novamente e descobriu, no dia seguinte, que a briga teve início por conta de uma mulher, chamada Lucille. O resto é história...

B.B. King Museum | Paulo Basso Jr.

No fim do tour pelo museu, é possível ver a lápide de B.B. King, em um jardim. E, depois, passar por uma loja cheia de lembrancinhas legais.

Eu saí de lá com fome e passei no restaurante The Crown, no centrinho, para almoçar, A comida era simples, bem caseira e saborosa: arroz branco com peixe empanado e legumes. De sobremesa, tortas e um abraço da Sra. Evelyn Roughton, a simpática dona do estabelecimento.

Greenville

Uma cidade que vale a visita no Delta do Mississipi é Greenville, mais uma com diversas referências ao blues. Ali, há uma ponte linda que conecta o Mississipi ao Arkansas e um restaurante emblemático, o Doe's Eat Place, que serve bifes enormes desde 1941.

Jackson

Quem decide pernoitar em Jackson, capital do Mississipi, tem a oportunidade de conhecer o capitólio. A cidade concentra bons restaurantes, como o The Iron Horse Grill, e um divertido bar para ouvir blues, o Hal & Mal's.

A dica de hotel por lá é o Hampton Inn & Suites Jackson, confortável na medida certa para passar uma noite e, no dia seguinte, seguir viagem.

LOUISIANA

Ao adentrar a Louisiana, último etapa da Rota do Blues nos EUA, o ritmo nascido nos campos de algodão começa a ganhar ares de improviso e dar vida ao jazz.

O estado também é marcado por várias plantações, sendo que algumas delas se tornaram hotéis espetaculares, onde é possível mergulhar nas tradições do sul dos EUA. Entre os destaques do Plantation Country, onde há vários desses estabelecimentos, está a opulenta Houmas House and Gardens. Uma vez nela, visite a vizinha Whitney para conhecer o outro lado da história.

O destino final da jornada, e um dos mais esperados, é New Orleans, uma das cidades mais diferentes, saborosas e divertidas dos EUA. E é para lá que eu fui.

New Orleans

New Orleans é a terra do jazz, cuja maior influência vem do blues. Ali, o gênero musical ganhou o mundo, sobretudo nas vozes de lendas como Jelly Roll Morton, Sidney Bechet e, acima de todos, o filho mais ilustre da cidade, Louis Armstrong.

French Quarter | Paulo Basso Jr.

Há muitos pontos turísticos em New Orleans, começando pelo French Quarter, onde fica a Bourbon St. Mas vale a pena ficar mais tempo por lá e conhecer outras paragens.

O que fazer em New Orleans

O coração de New Orleans pulsa no French Quarter, o centro histórico que melhor retrata a colonização local. É uma delícia andar por lá e se deparar com sobrados avarandados com samambaias, lojas com referências ao voodoo, religião ainda muito praticada por lá, e restaurantes que servem pratos típicos (ah, a gastronomia de New Orleans... Que delícia).

É no meio do French Quarter que fica a Bourbon St, a rua mais famosa da região, que pega fogo dia e noite. Ali, não faltam bares e gente curtindo a vida como se não houvesse amanhã. No entanto, é bom se preparar: o lugar é extremamente turístico e um pouco sujo.

Bourbon St, em New Orleans | Paulo Basso Jr.

Para ouvir boa música na cidade, recomendo as casas de show Preservation Hall, a mais clássica de todas, a The Jazz Playhouse, mais moderninha, e o Maple Leaf. Esta última fica an Frenchmen Street. rua que atrai mais os moradores de New Orleans durante a noite e é mais tranquka que a Bourbon St, embora repleta de endereços com música ao vivo.

Lá, há um bocado de bares onde é possível se sentir bem na cidade do jazz, com destaque ainda para o Snug Harbor Jazz Bistro, o d.b.a. e o The Spotted Cat Music Club. Aqui, você confere cinco endereços para ouvir jazz em New Orleans.

Visitar as mansões do Garden District e mergulhar na origem do jazz em Treme (a casa de show mais tradicional do pedaço é a Kermit's Treme Mother In Law Lounge) são outros passeios legais. Há tantas atrações em New Orleans que criei um roteiro passo a passo de dois dias na cidade.

The Jazz Playhouse | Paulo Basso Jr.

A (boa) gastronomia é outro "esporte" local. O tempero cajun ou creole toma conta dos pratos, com destaque para os frutos do mar. Há uma enormidade de bons restaurantes, como Elizabeth’s, Cochon, Willie Mae's Scotch House, Drago’s Seafood, Loretta's Authentic Pralines, Red Grill Fish, Original Pierre’s Masperos, Desire Oyster Bar e Verti Marte (este é um lugar bem tradicional, onde vale comer o poboy, sanduba típico da cidade).

E ainda é preciso colocar na lista o Café du Monde, que serve o tradicional begnet, espécie de bolinho de chuva que é a cara de New Orleans. Não saia de lá sem provar.

Onde ficar em New Orleans

Neste link você confere alguns hotéis de luxo em New Orleans, com destaque para o Four Seasons. Ele fica fica às margens do Rio Mississippi, no início da Canal Street. Dali, é fácil chegar ao French Quarter, o bairro mais turístico da cidade, ou ainda ao Warehouse District, palco de lojas e galerias descoladas.

Se a ideia é gastar menos, a dica é o Hotel Peter and Paul, perto da Frenchmen Street. O estabelecimento ocupa um prédio que já abrigou uma antiga escola e uma igreja. O conceito incrível, assim como o atendimento. Há alguns anos, passei duas noites no The Old No. 77 Hotel & Chandlery e também gostei bastante.

No French Quarter, há muitas opções de hospedagem. Uma que vale ser considerada é o Hyatt Centric French Quarter New Orleans, com bom custo-benefício.

Playlist

Antes de encerrar, vou deixar aqui algumas playlists com músicas para curtir na Rota do Blues nos EUAMississipi Blues Trail,Mississipi Delta Blues e Ground Zero Blues Club.

DICAS PARA VIAJAR AOS EUA

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