Treino aeróbico noturno é melhor para hipertensos, indica estudo brasileiro
Tecmundo
Contrariando o senso comum, pesquisadores da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP) demonstraram que atividades aeróbicas noturnas podem trazer maiores benefícios cardíacos para aqueles que são hipertensos. O estudo, conduzido pelo pós-doutorando Leandro Campos de Brito, tinha como objetivo avaliar o impacto dos exercícios e seus benefícios cardiovasculares em geral.
A análise chegou à conclusão de que a taxa de recuperação cardíaca (TCR), tanto em sua fase rápida como na lenta, apresentou melhoria para o grupo que se exercitou durante a noite. O motivo ainda permanece incerto, mas há algumas hipóteses que tentam explicar esse fenômeno. Os benefícios para a saúde foram percebidos em todas as pessoas que se exercitaram.
Os resultados foram publicados na edição deste mês da revista científica Blood Pressure Monitoring .
Método e análise
É melhor fazer exercícios de noite ou de manhã? (Fonte: Pexels)
O experimento do estudante da EEFE-USP avaliou um grupo composto de 49 homens por 10 semanas. Todos tinham meia-idade e faziam uso de medicamentos para controle da pressão arterial há pelo menos quatro meses. Três divisões foram criadas: um de treino matinal (entre 7h e 9h), um de exercícios noturnos (entre 18h e 21h) e um grupo controle que realizava apenas alongamentos ativos.
A análise dos resultados permitiu a constatação de que a TRC dos candidatos que se exercitaram durante a noite teve uma resposta mais eficiente do que os outros dois grupos. E essa melhora foi percebida tanto no sistema autonômico cardíaco simpático (que acelera o coração) como no parassimpático (que desacelera o batimento), avaliados em períodos específicos após atividades aeróbicas.
Segundo o estudo, o fato de as duas fases (lenta e rápida) da TRC terem apresentado aumento com os exercícios noturnos indica que fazer treinos nesse período do dia pode melhorar os dois ramos do sistema autonômico cardíaco. Os resultados também revelam que o impacto positivo não fica limitado somente ao horário de exercício dos voluntários.
Possíveis explicações
Para o grupo de treinos noturnos, os resultados da TCR foram melhores. (Fonte: Pexels)
Essa melhora expressiva para o grupo de exercício noturno ainda é um mistério para os pesquisadores. A hipótese mais provável seria a de que a sensibilidade barorreflexa – mecanismo que controla a pressão arterial – foi aumentada durante os treinos à noite. Porém, segundo Brito, essa medida pode ter sido impactada de alguma forma pelas atividades do dia a dia da pessoa, como os desafios cognitivos, físicos e emocionais que enfrentamos em nossas rotinas.
O pesquisador destaca que a função cardiovascular de uma pessoa pode variar bastante em um período de 24 horas. Durante a manhã, os indicadores aumentam, atingindo o pico por volta das 10h. Existe uma redução por volta das 15h e um segundo pico a partir das 18h até às 20h. Brito diz acreditar que a atividade aeróbica noturna esteja se encaixando no que ele chama de janela de oportunidade para apresentar melhoras expressivas nos resultados.
De qualquer modo, os pesquisadores envolvidos no estudo chegaram à conclusão de que os exercícios físicos, realizados em qualquer período, trazem benefícios claros para a saúde. “É importante dizer que, quando o assunto é fazer exercício, qualquer hora é melhor do que hora nenhuma. Ou seja: é necessário se exercitar. O que tentamos neste trabalho foi maximizar as respostas”, disse Brito em entrevista à Agência FAPESP.
ARTIGO Blood Pressure Monitoring: doi: 10.1097/MBP.0000000000000545