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HBO: por que o canal produz séries tão premiadas e icônicas?
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HBO: por que o canal produz séries tão premiadas e icônicas?

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Tecmundo
13/12/2021 23h30
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Vivemos hoje a era do streaming. Muito do que assistimos em TV não está mais na TV – pelo menos, não na lógica da televisão aberta, regida por uma grade de horários a qual precisamos nos adaptar. Na época dos streamings, nós temos acesso às produções on demand, na hora que quisermos. Então é bem provável que você tenha escolhido alguns serviços para assinar: Netflix, Amazon Prime, Disney+, Globoplay, dentre vários outros cardápios disponíveis.

Um dos mais esperados serviços de streaming que foram lançados no Brasil é a plataforma do canal norte-americano HBO, o HBO Max. A expectativa era alta menos por causa da diversidade do acervo (característica mais forte em outros streamings, como a Netflix) e mais pelo histórico das séries produzidas pelo canal. São muitas narrativas antigas e novas, e que são reconhecidas, tanto pelos críticos quanto pelo público, como de grande qualidade dentro da teledramaturgia.

Um levantamento recente mostrou que, das 50 melhores séries produzidas em 2021, segundo ranking do site Metacritic, 9 são da HBO. Em seguida, aparece a Netflix, com 7 séries, e o Apple TV+, com 6. Outro ranking, montado pela BBC, listou as 100 melhores séries de todos os tempos, e coloca em primeiro lugar The Wire, da HBO. Entre as 10 primeiras posições da lista, ainda estão Game of thrones, I May Destroy You (lançado pela HBO e BBC simultaneamente), The Leftovers e Succession.

Daria para dizer, então, que, na era dos streamings, nós estamos passando a escolher o cardápio a partir do perfil geral do serviço e o que ele é capaz de nos entregar. Então, quando pensamos em séries memoráveis, por que será que a HBO é tão boa? Neste texto, procuro levantar algumas hipóteses que podem ajudar a explicar por que a HBO conseguiu criar um acervo de tanta qualidade.

Séries que não menosprezam o espectador

As produções da HBO são reconhecidas por conta da maturidade de suas narrativas e roteiros. Mas o que quer significa uma “série madura”?  Significa conseguir produzir histórias que invistam em estratégias menos batidas para contemplar o espectador. Em outras palavras, as séries da HBO buscam ousar em termos de formato e, por isso, arriscam perder a audiência não acostumada a estratégias consolidadas no mercado da teledramaturgia.

Um exemplo: The Sopranos, um dos grandes clássicos do catálogo do canal, é considerado uma espécie de marco na complexidade das séries, pois experimentou a criação de uma saga densa, com múltiplos personagens, e que trazia muitas cenas de "tédio", em que nada acontecia. Segundo o crítico Alejandro Chacoff, em análise publicada na revista Piauí, há bastante proximidade com recursos mais típicos da literatura, pois há muita atenção às vidas internas dos personagens – algo que parece bastante difícil de ser tratado na dramaturgia televisiva, que é, em essência, visual.

Família Soprano, a famosa série sobre famílias mafiosas em New Jersey, é reconhecida pela maturidade de seu roteiro.Família Soprano, a famosa série sobre famílias mafiosas em New Jersey, é reconhecida pela maturidade de seu roteiro.

Para voltar a um exemplo mais recente, podemos citar Succession, a série sensação atualmente na sua terceira temporada. Uma das grandes qualidades de Succession é o fato de que quaisquer personagens que funcionariam como um herói (todos os membros da família Roy e os demais agregados), são, na verdade, detestáveis. Curiosamente, isso não nos impede de torcer para um ou outro – mesmo sabendo que não há boas pessoas aqui.

Investimento em novos showrunners

Boa parte dessas séries só existe porque houve um investimento em “cabeças novas” que ainda não tinham espaço consolidado no olimpo televisivo. A HBO foi capaz de abrir espaço para novos showrunners – termo que designa o sujeito criador de uma série, mas que também pode atuar como produtor, roteirista e até diretor dos episódios. Apenas para citar alguns novos nomes lançados pela HBO, temos David Chase (criador de Sopranos), David Simon (de The Wire) e Jesse Armstrong (de Succession).

Michaela Coel, showrunner de I may destroy you, encontrou boas condições para lançar sua série na HBO.Michaela Coel, showrunner de I may destroy you, encontrou boas condições para lançar sua série na HBO.

Outro exemplo famoso é o de Michaela Coel. A jovem showrunner (que tem atualmente 34 anos) havia chamado a atenção por Chewing Gum, série de comédia lançada pelo Channel 4, na Inglaterra, em 2015, e posteriormente incorporada ao catálogo da Netflix. 

Michaela propôs à Netflix o roteiro de I may destroy you, uma minissérie dramática sobre uma mulher que tenta desvendar o próprio estupro que sofreu (baseado na história real da própria autora). Acabou rejeitando um contrato milionário com o canal de streaming pois teria que abrir mão de boa parte dos direitos autorais da obra. Acabou fechando acordo e lançando a série pela HBO, onde encontrou melhores condições de trabalho.

Pioneirismo

Vale lembrar que a HBO foi uma das primeiras emissoras a enxergar o potencial de crescimento de uma teledramaturgia mais madura, com o aumento de espectadores que gostariam de ser desafiados por aquilo que assistem. Isso significa que a HBO está já há muito tempo aprendendo a criar narrativas longas, desdobradas em muitos capítulos e temporadas.

Para ilustrar, vale aqui olhar para dois clássicos do canal. Entre 1997 e 2003, a HBO veiculou uma série meio “maldita” (por causa do tema) e que se tornou um pilar da dramaturgia televisiva, embora nem sempre seja lembrada como tal. Falo de Oz, que, durante seis temporadas, contou as histórias dos presos em uma penitenciária norte-americana. A série marcou época especialmente por sua crueza: era extremamente violenta, pesada, sem concessões para espectadores mais sensíveis.

Além de realista, Oz se propunha a fazer uma crítica do sistema legal americano, mostrando o quanto os presos eram condenados a penas pesadíssimas por crimes relativamente leves. O tempo em que passavam em Emerald City (que era, de fato, o nome da prisão apresentada na série, uma unidade experimental de encarceramento, que remetia ao texto de O mágico de Oz) mostrava a grande improbabilidade de que um preso se regenerasse no cárcere. 

Série pioneira na HBO, Oz mostrava a realidade duríssima em uma penitenciária americana.Série pioneira na HBO, Oz mostrava a realidade duríssima em uma penitenciária americana.

Oz também mostrava as tensões entre os burocratas do ambiente penitenciário, com personagens idealistas que buscavam ressocializar os condenados, mas quase sempre se davam mal.

O HBO Max, inclusive, também é dono de outros títulos muito bem avaliados, como Watchmen e True Detective, por exemplo, que também renderiam longos artigos sobre suas tramas densas e personagens memoráveis.

A verdade é que a HBO, sem dúvida, tem um catálogo invejável a muitos canais, e parece bem-disposta a explorá-lo com afinco no seu streaming. É quase como se muitos serviços oferecessem fast food, e a HBO, quase sempre, só filet mignon.

Maura Martins é jornalista, professora e editora do portal de jornalismo cultural Escotilha. No TecMundo, é colunista nos cadernos Minha Série e Cultura Geek.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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