Causou polêmica 200 anos após a morte do imperador: A saga do esqueleto do cavalo de Napoleão
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Qual era a cor do cavalo branco de Napoleão? A pergunta com quê de piada não pode ser respondida com rigor científico e histórico, afinal, o imperador francês com certeza tinha muitos cavalos a sua disposição. O animal poderia se machucar, se cansar, e até mesmo morrer — ele não poderia depender de apenas um.
Segundo a professora da Unesp Beatriz Westin, autora do livro “A Arte como Expressão da Glória — Napoleão Bonaparte” (2011), “ele deve, sim, ter usado muitos cavalos brancos, mas trocava de montaria durante as batalhas, que eram muito longas". A cor, portanto, torna-se quase irrelevante.
O cavalo conhecido de Napoleão, cujo esqueleto temos até os dias de hoje, tinha, inclusive, pelo cinza claro. De nome Marengo, em homenagem à vitória de Bonaparte na Batalha de Marengo, na Itália, em 1800, ele foi o companheiro do imperador durante muitas campanhas entre 1800 e 1815, como relata o site do Museu Nacional do Exército.
Os restos mortais de Marengo causaram uma série de polêmicas ao longo dos anos. Antes de entrar em exposição no Museu Nacional do Exército, em Londres, onde está até hoje, o esqueleto estava em um estúdio em antigos edifícios agrícolas em Essex, onde não aparentava ter tanta importância quanto realmente tem.
Em 2016, Derek Bell, especialista em construção e conservação, e Arianna Bernucci, conservadora sênior do Museu de História Natural, desenvolveram um projeto para retirar o cavalo e levá-lo para um local adequado onde pudesse ser, de fato, preservado e mantido.
“Uma das razões para remontar o esqueleto é fazer com que o pobre Marengo se pareça mais com um cavalo. A cabeça caída e a peculiar posição rígida das pernas o faziam parecer mais uma mula”, disse Sophie Stathie, curadora do museu, segundo o The Guardian. Ela completou: “Ele era um animal notável e merece que o façamos melhor”.
O cavalo árabe acabou nas mãos dos britânicos após a derrota francesa em Waterloo em 18 de junho de 1815, depois de Napoleão ter sido enviado ao exílio. Ele morreu em 1831 e, ainda segundo o site da instituição britânica, seus restos mortais foram encaminhados para o Royal United Services Institute, onde foi preservado.
A polêmica mais recente de Marengo aconteceu ainda neste ano, quando, em maio, o artista contemporâneo Pascal Convert, desenvolveu uma instalação no Les Invalides, onde está o túmulo de Napoleão Bonaparte. Ele fez uma reprodução do esqueleto do cavalo preferido do imperador e o colocou suspenso sob a tumba de seu dono.
O projeto fazia parte da exposição “Napoleão? Outra Vez!” que celebrava o segundo centenário da morte do imperador, dirigido por Eric de Chassey, diretor do Instituto Nacional de História da Arte (INHA), que dá aos artistas participantes total liberdade para criarem suas obras.
A obra de Convert, porém, acabou causando controvérsias, como relatou a agência de notícias francesa AFP na época. Partidários do imperador não consideraram a instalação como uma homenagem a Napoleão.
Membro da Fundação Napoleão, o historiador Pierre Branda, descreveu a obra como “Grotesca e chocante” em um artigo publicado no jornal Le Figaro. Outras associações ligadas aos ideais da figura histórica também foram contra a obra de arte.
Convert relatou à AFP que sua intenção era retratar um rito descrito por Heródoto, em que os cavalos acompanhariam seus donos após a morte. Por isso, ele reconstituiu, em 3D, o esqueleto do cavalo e o colocou suspenso no túmulo do imperador francês.
"Eu sabia que esse trabalho poderia causar mal-entendidos, mas é tudo, menos desrespeitoso", disse. "Paradoxalmente, isso permite uma forma de reabilitação para Napoleão. A realidade da guerra é a morte. Desde os tempos antigos temos essa imagem de guerreiros que sobem ao céu a cavalo. Em túmulos antigos, o cavaleiro era sepultado com seu cavalo".