Há 76 anos, nascia Marsha P. Johnson, pioneira na luta pelos direitos LGBTs
Aventuras Na História
O Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo — segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) e do Instituto Brasileiro de Educação (IBTE), foram 124 assassinatos em 2019.
Nos Estados Unidos, o número é bem menor: foram por volta de 30, de acordo com a pesquisa Trans Murder Monitoring (TMM). A maioria era de mulheres trans negras.
Nesse dia, comemoramos o dia do Orgulho LGBT, após 51 anos da Revolta de Stonewall. Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, o bar LGBT Stonewall Inn, no bairro nova-iorquino de Greenwich Village, foi invadido por um grupo de policiais, que começou a reprimir e hostilizar as pessoas que estavam no local. Não era uma exceção: institucionalmente homofóbica e transfóbica, a polícia teve o papel de oprimir indivíduos e comunidades LGBT no geral.
Mas naquele dia, as coisas foram diferentes. Gays, lésbicas, trans, drag queens e pessoas marginalizadas por romperem com a conformidade de gênero, em um total de 200 indivíduos, reagiram à violência policial.
O clima de confronto foi acompanhado pela insubmissão às ordens dos agentes do Estado, que tentavam levar todos para a delegacia. Jogando copos e reagindo a prisão, a Revolta estava apenas começando.
Quem foi Marsha P. Johnson?
Mais do que um movimento, a história de Stonewall é composta por figuras que foram essenciais para o crescimento da revolta. Marsha P. Johnson estava na linha de frente dos protestos que saíram do bar fechado e tomaram as ruas dos Estados Unidos e, depois, do mundo. Mulher negra transgênero, trabalhadora sexual e drag queen, ela foi pioneira no movimento dos direitos LGBTs e seu ativismo ajudou e inspirou milhares de jovens.
Após completar o colegial em Nova Jersey, chegou a Nova York carregando consigo uma sacola de roupas e apenas 15 dólares, em 1963. Seis anos depois, se tornaria figura-chave de Stonewall, com apenas 23 anos, iniciando uma série de motins que inspiram o dia do Orgulho LGBT comemorado ainda nos dias de hoje.
Além de sua participação na revolta na rua Christopher, criou o STAR (Street Travestite Action Revolutionaries) junto de sua amiga, Sylvia Rivera, que também era uma transexual drag queen que passou a atuar em prol dos direitos trans.
A organização tinha como intuito apoiar jovens transexuais e também homossexuais que haviam sido expulsos de casa. Eles chegaram a coordenar um abrigo na East Second Street.
Em 1972, Johnson disse em uma entrevista que seu objetivo era "ver gays liberados e livres e ter direitos iguais aos de outras pessoas na América", com seus "irmãos e irmãs gays fora da cadeia e nas ruas novamente”.
Como qualquer sexualidade que rompesse com a conformidade de gênero ainda era proibida institucionalmente, a luta contra a violência policial foi muito importante para a construção desse movimento.
A ativista dedicou muito tempo de sua vida ajudando outras pessoas. Era conhecida por sua generosidade e força para batalhar pelo que acreditava. Mas, ainda que ela e Rivera fossem importantes lideranças no movimento transexual, eram, muitas vezes, excluídas por ativistas gays. Hoje em dia, ainda é possível perceber esse afastamento por parte da comunidade LGBT.
No entanto, ao longo dos anos, a marginalização e a constante luta por reconhecimento de sua existência passaram a gerar cicatrizes que eram difíceis de serem curadas. A militante sofria constantemente com problemas de saúde mental, fazendo com que a entrada e saída de hospitais psiquiátricos se tornassem parte da sua rotina.
Legado
No dia 6 de julho de 1992, o corpo de Johnson foi encontrado no rio Hudson, em Nova York. A morte foi definida como suicídio, mas pessoas próximas da ativista não acreditavam na versão oficial da polícia, relembrando que casos de ataque a pessoas trans eram comuns. Segundo a BBC, em 2012, vinte anos depois da morte, o departamento de polícia de Nova York reabriu o caso, depois de esforços da ativista Mariah Lopez.
O final trágico representa ainda hoje grande parte da vida e morte de pessoas transexuais, que, só em 2019, foram assassinadas 331 vezes no mundo, segundo o relatório Trans Murder Monitoring (TMM). Foi apenas no ano passado que a Organização Mundial da Saúde retirou a transexualidade da lista de doenças mentais.
Marsha sempre será lembrada por suas roupas cintilantes e extravagantes, por sua esperança, desejo de mudança e por sua generosidade. O pioneirismo da ativista na luta pelos direitos LGBTs é considerado inspiração para pessoas da comunidade, que continuam lutando pelos seus direitos até os dias de hoje.