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Dois meses antes de ser assassinado, JFK encenou sua própria morte
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Dois meses antes de ser assassinado, JFK encenou sua própria morte

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Aventuras Na História
21/11/2024 22h00
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©Wikimedia Commons
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O ex-presidente John Fitzgerald Kennedy encenou seu próprio assassinato apenas dois meses antes de ser morto por Lee Harvey Oswald em 22 de novembro de 1963 — data que completa 61 anos nesta sexta-feira.

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Na ocasião, o 35º presidente dos Estados Unidos e sua esposa, Jacqueline Bouvier Kennedy, decidiram passar o verão de 1963 na Hammersmith Farm — um complexo em Rhode Island da família de Jackie. O local serviu de cenário para um filme caseiro ao melhor estilo James Bond. 

John F. Kennedy - Domínio Público

Aquela altura, para muitos americanos, o assassinato de um presidente parecia algo inconcebível para seu tempo. Afinal, o último a morrer de tal forma havia sido William McKinley, em 1901. JFK, porém, não tinha essa ilusão. Em seus pensamentos, a ideia era totalmente plausível.

Bastidores do filme

Com cerca de 16 minutos de duração, um filme mudo foi filmado no final de semana de 21 e 22 de setembro de 1963. Conforme aponta artigo da Vanity Fair, um dos takes feitos no sábado mostra Kennedy sentado na cadeira do capitão no iate presidencial, o Honey Fitz.

O vídeo, disponível no site da Biblioteca John F. Kennedy, registra o presidente lendo as palmas das mãos de Anita Fay, esposa de seu amigo de guerra e subsecretário da Marinha, Paul 'Red' Fay. Kennedy, então, mostra suas próprias palmas para o casal, que interpreta as chamadas linhas da vida. Independente do que eles tenha visto ou dito, o fato é que dois meses depois, John Kennedy estaria morto.  

JFK nas filmagens - JFK LIbrary
JFK lendo as palmas das mãos de Anita Fay - JFK LIbrary
Anita Fay e Paul ‘Red’ Fay lendo a mão de JFK - JFK LIbrary

Por mais notável que o trecho seja, algo ainda maior seria gravado depois. A viagem à Hammersmith Farm havia sido acompanhada pelo fotógrafo Robert L. Knudsen; marinheiro designado pela Casa Branca para acompanhar a família durante as atividades daquele final de semana — que, além do passeio no Honey Fitz, culminou com a estadia na residência de Jackie onde o filme caseiro de espionagem foi filmado. 

A fazenda de 97 acres fica na Baía de Narragansett e foi a propriedade de veraneio da jovem Jackie; herdada de seu padrasto Hugh D. Auchincloss Jr., que se casou com sua mãe, Janet Lee, em 1942. 

Cerca de uma década depois, em 1953, Jackie e John se casaram nas proximidades do local, na Igreja Católica Romana de St. Mary, em Newport. Uma grande recepção aconteceu na Hammersmith Farm, com mais de 1.200 pessoas presentes. 

Jackie dirigindo Knudsen nas filmagens - Bob Knudsen/Arquivo Pessoal

Outro fato que ajuda a contextualizar o momento é a paixão de Jacqueline pelas artes, em especial as artes visuais. Grande parte disso se desenvolveu quando ela, ainda adolescente, fez um intercâmbio para a França. Época que considerou a mais feliz de sua vida. 

De volta aos Estados Unidos, seu primeiro emprego foi como jornalista e fotógrafa para o Times-Herald de Washington. Aquela altura, Jackie já era fissurada pela arte francesa, e tinha um fascínio especial pelo cinema experimental. Seu grande sonho, algum dia, era dirigir um filme. Mas sua perspectiva acabou mudando quando começou a namorar seu futuro marido. 

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As cenas

Mais detalhes daquelas 48 horas foram relembradas por Paul Landis — o agente do Serviço Secreto da primeira-dama, que lançou recentemente um livro de memórias, 'The Final Witness' — em conversa com James Robenalt, advogado, pesquisador da história de Kennedy e autor de artigos sobre JFK para a Vanity Fair. 

"Ele [Landis] lembra que a primeira-dama fez um pedido incomum. Ela explicou que ela e o presidente estavam fazendo um curta-metragem humorístico — uma espécie de filme de espionagem. E perguntou se os agentes não se importariam em participar", descreve Robenalt no artigo. 

Landis esteve acompanhado por outros oito colegas, incluindo Roy Kellerman, que mais tarde ficaria encarregado dos agentes em Dallas, viajando na limusine presidencial no banco do passageiro da frente; no dia em que JFK foi assassinado. 

Landis recorda que, em um ponto, Jacqueline pediu aos agentes que dirigissem apressadamente até a casa principal e reagissem como se tivessem acabado de ouvir tiros. 

Estamos fazendo um filme sobre o assassinato do presidente", disse Jackie aos agentes, repercute a Vanity Fair. "Gostaríamos que vocês e os outros agentes dirigissem até a frente da casa, depois saltassem e corressem em direção à porta".

Quando eles entrassem na casa, se deparariam com JFK caído no chão do saguão com sangue de ketchup espalhado nele; enquanto isso, Jackie estaria na escada dirigindo o restante da cena, no mesmo lugar onde ela e John foram fotografados no dia do casamento, uma década antes. 

Em outra variação da cena, Paul 'Red' Fay que estaria entendido ensanguentado no chão. Diversos outros takes foram gravados, como uma cena mostrando a comitiva presidencial deixando o Hiney Fitz, quando JFK, de repente, agarra o peito e cai para frente, como se tivesse tomado um tiro

Jackie dirigindo os Agentes Secretos - Robert Knudsen/Arquivo Pessoal
Cenas panorâmicas - Robert Knudsen/Arquivo Pessoal
Paul 'Red' Fay em cenas - Robert Knudsen/Arquivo Pessoal
Manchas de sangue - Robert Knudsen/Arquivo Pessoal

Uma última sequência mostraria um grupo de agentes passando por cima do corpo do presidente, mas Fay acaba tropeçando e cai sobre Kennedy, no momento em que "um jorro vermelho sai da boca do presidente", sujando a frente de sua camisa, descreve o artigo. 

Quando o filme foi concluído, Jackie ficou com uma cópia e Fay com outra — mas acredita-se que ele a destruiu após o assassinato de seu amigo de longa data e que não existam outras cópias das filmagens.

Retomando, Paul Landis ainda esclareceu que desde o princípio tratou a situação como uma grande brincadeira, visto que uma atmosfera de travessuras e brincadeiras era comum entre o casal. Segundo ele, todos aplaudiram e riram quando a filmagem foi concluída.

Premonição do fim?

Indo totalmente o clima das filmagens, dois meses depois as cenas registradas ganharam um significado mais sombrio. A brincadeira havia levantado sinais de alerta que Jonh Kennedy pode ter ignorado — e que podem ter sido cruciais para sua morte. 

O primeiro deles é a personalidade impulsiva de Kennedy, sempre disposto a assumir riscos físicos que os colocavam nos holofotes. Afinal, existe um debate sobre a imprudência de JFK insistir de andar em um carro de teto aberto durante sua carreata por Dallas. O presidente também havia impedido que agentes do Serviço Secreto ficassem na parte traseira da limusine, para não ficarem entre o presidente e o público.

Além do mais, a equipe de segurança temia que Kennedy estivesse muito 'solto' em suas horas vagas — desde suas ligações românticas extraconjugais até suas festinhas com familiares até tarde da noite. 

+ 'Todos os Kennedy são assim': Como Jackie encarava as traições de JFK?

Outro fato que parece ter sido uma premonição do que aconteceu era a famosa Maldição dos Kennedy. Visto que, em agosto de 1944, seu irmão mais velho, Joe — que o patriarca da família, Joseph P. Kennedy, esperava que pudesse se tornar presidente um dia — morreu após se voluntariar para uma ousada missão de bombardeio. Quatro anos depois, Kathleen 'Kick' Kennedy Cavendish, irmã mais nova e uma das mais próximas de JFK, morreu em um trágico acidente de avião na França.

Embora John Kennedy tivesse escapado com vida de uma missão durante a Segunda Guerra, ele suportou outras experiências de quase morte, recebendo os últimos ritos várias vezes, conforme apontam Bill O'Reilly e Martin Dugard em 'Os Últimos Dias de John F. Kennedy' (L&PM Editores). Como resultado, JFK supostamente manteve um ceticismo saudável sobre se ele algum dia envelheceria

O presidente John Fitzgerald Kennedy - Getty Images

A suposta premonição de Kennedy é debatida por Colm Keane, autor e apresentador irlandês. "Gradualmente, chegou à minha atenção que alguns daqueles que retornavam de jornadas de quase morte descobriram que tinham desenvolvido uma habilidade aguçada de prever acontecimentos que ainda não tinham ocorrido", diz à Vanity Fair.

E a tal desconfiança sobre sua própria morte prematura foi corroborada por pessoas próximas de Kennedy após a tragédia. Amigos e familiares, por exemplo, contaram que John tinha preocupações sobre a possibilidade de ser assassinado

Thurston Clarke, em 'JFK's Last Hundred Days', catalogou as declarações de Kennedy sobre o assunto. Uma delas aconteceu em uma viagem presidencial à Irlanda, em junho de 1963. 

Uma multidão animada cercou sua limusine e o forçou a andar. 'Multidões não me ameaçam', ele disse ao embaixador. 'É aquele sujeito parado no telhado com uma arma que me preocupa'."

Clarke também destaca que antes de morrer, Kennedy passou um tempo estudando a vida de Abraham Lincoln. O assunto foi tratado em uma entrevista com Jim Bishop no final de outubro de 1963, quando o jornalista escrevia uma matéria sobre 'um dia na vida de Kennedy'. 

Na ocasião, JFK questionou Bishop sobre seu livro, 'The Day Lincoln Was Shot', um relato minuto a minuto de 14 de abril de 1865, quando Lincoln foi assassinado. "Meus sentimentos sobre assassinato são idênticos aos do Sr. Lincoln", Kennedy. "Qualquer um que queira trocar sua vida pela minha pode aceitar. Eles simplesmente não podem me proteger tanto assim."

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Por fim, a fixação de Kennedy com sua morte veio a tona na manhã de 22 de novembro de 1963, no Hotel Texas em Fort Worth, conforme Jacqueline confidenciou mais tarde para o historiador William Manchester, que escreveu a crônica best-seller 'The Death of a President'. 

Sabe, a noite passada teria sido uma noite infernal para assassinar um presidente", disse JFK.

"Estou falando sério; havia a chuva, e a noite, e todos nós estávamos sendo empurrados. Suponha que um homem tivesse uma pistola em uma maleta. Então ele poderia ter largado a arma e a maleta e desaparecido na multidão".

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