Luiz Gama: a ilustre obra que resgata 42 artigos inéditos do abolicionista
Aventuras Na História
Considerado um dos maiores pensadores e ativistas do século 19, Luiz Gama (1830-1882) foi um advogado de escravos que defendeu fortemente o movimento abolicionista e republicano. Além disso, é conhecido por ter sido um dos primeiros jornalistas negros do Brasil.
Pioneiro ao abordar temas sociais, como a abolição da escravatura e Proclamação da República no Brasil, 20 anos antes de ocorrerem, Luiz Gama deixou um legado inestimável para a história nacional.
“Se algum dia [...] os respeitáveis juízes do Brasil, esquecidos do respeito que devem à lei, e dos imprescindíveis deveres, que contraíram perante a moral e a nação, corrompidos pela venalidade ou pela ação deletéria do poder, abandonando a causa sacrossanta do direito, e, por uma inexplicável aberração, faltarem com a devida justiça aos infelizes que sofrem escravidão indébita, eu, por minha própria conta, sem impetrar o auxílio de pessoa alguma, e sob minha única responsabilidade, aconselharei e promoverei, não a insurreição, que é um crime, mas a ‘resistência’, que é uma virtude cívica [...]”, disse Luiz Gama, no Correio Paulistano, em 10 de novembro de 1871.
Os seus memoráveis textos podem ser encontrados na coletânea “Lições de Resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro”, organizada por Ligia Fonseca Ferreira, especialista na vida e obra do escritor.
Lançada pela Edições Sesc, esta obra conta com o ilustre prefácio do historiador Luiz Felipe de Alencastro. Além disso, o livro conta com uma introdução e notas elaboradas feitas pela pesquisadora Ligia Fonseca Ferreira, que ajudam na compreensão de 61 artigos de Luiz Gama.
De acordo com a organizadora da coletânea, há 42 artigos inéditos do jornalista em “Lições de Resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro”, que foram publicados entre 1864 e 1882.
Considerado um homem além de seu tempo, o escritor foi um dos primeiros a pautar escravidão, liberdade, república, racismo, direitos humanos e liberdade de imprensa. Portanto, para Ligia Fonseca Ferreira, a importância do escritor para o jornalismo é inestimável.
“Além da habilidade retórica e das agudas análises político-jurídicas, Luiz Gama revela-se um mestre da narrativa jornalística, à qual imprime seu estilo pessoal, quase sempre em primeira pessoa, colocando-se ele mesmo em cena ao lado de seus outros personagens reais, dos escravizados aos seus algozes, dos pobres desprotegidos da lei às elites imperiais. A leitura de seus escritos é de surpreendente atualidade. Ele escreveu artigos até seus últimos dias, razão pela qual, poucos depois de morrer, foi saudado como um ‘trabalhador incansável do jornalismo’”, disse a especialista.