Negros esquecidos na História: A saga dos caubóis que Hollywood não te mostrou
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“Muitos salões, salões de dança e casas de jogos, e muito pouco de qualquer outra coisa”, desta maneira o caubóis Nat Love descreve a vida em Dodge City, no Kansas, em sua autobiografia de 1907 ‘The Life and Adventures of Nat Love’.
Nat era como qualquer outro caubói. Cuidava de uma enormidade área de rebanho de gado, arrumava um tempo para uma bebedeira e, ainda, participava vez ou outra de tiroteios com povos indígenas que defendiam suas terras ao longo das trilhas.
Porém, apesar da vida semelhante a outros caubóis do século 19, Love tinha uma característica pouco associada ao povo do Velho Oeste: ele era negro. Embora esses homens sejam pouco retratados nesse período da história americana, uma matéria da revista Smithsonian aponta que um em cada quatro caubóis era negro.
Apesar do Texas ter tido uma cultura de criação de gado desde que foi colonizado pela Espanha, em 1500, a criação do animal na região só se tornou abundante por lá no final de 1800, quando, segundo o Smithsonian, milhões de gados pastavam pela região.
Com o intuito de evitar dívidas em sua terra natal, os brancos americanos passaram a ocupar o território espanhol — mais tarde mexicano — do Texas a partir da primeira metade do século 19. Por lá, apesar do governo mexicano se opor à escravidão, os donos de terra trouxeram escravos para estabelecerem suas fazendas de algodão.
Em 1825, os escravos já representavam cerca de 25% da população colona do Texas, sendo que esse número aumentou para 30% em 1860, quando o território passou a fazer parte da União. Nesta época, 182.566 escravos viviam por lá.
Quando a Guerra da Secessão estourou, em 1961, muitos brancos norte-americanos foram até o Leste lutarem com os confederados. Assim, os negros escravizados passaram a ser responsáveis por cuidar dos rebanhos de gado.
Com a obrigação, desenvolveram técnicas que, futuramente, se tornariam importantes para a indústria do gado no Texas pós-Guerra. Apesar da habilidade, como explica o Smithsonian, os vaqueiros viram a população de o gado crescer selvagemente, afinal, naquela época não havia maneira eficaz que conter os animais, já que o arame farpado, por exemplo, ainda não existia.
Sendo assim, quando os donos de terra voltaram da guerra, se depararam com seu rebanho descontrolado. Além disso, devido a ineficiências de suas técnicas, viram a situação piorar quando a Proclamação da Emancipação libertou os escravos. Agora, os fazendeiros se viram obrigados a pagar por uma mão de obra qualificada.
“Logo após a Guerra Civil, ser caubói era uma das poucas vagas abertas para homens de cor que não queriam servir como ascensoristas ou entregadores ou outras ocupações semelhantes”, explica o estudioso da história afro-americana Loren Katz no livro ’The Black West’.
Como consequência, os fazendeiros passaram a vender o gado para estados do norte, onde a criação era mais escassa, fazendo com que a sua carne valesse até 10 vezes mais. Sendo assim, os caubóis negros ficaram responsáveis por transportá-los fisicamente, já que as ferrovias ainda não abrangiam uma parte significativa do país.
Segundo Katz, os caubóis afro-americanos, além das condições ambientais adversas por onde passavam, também enfrentavam o preconceito e a discriminação pelas cidades que atravessavam.
O autor explica que eles foram proibidos de frequentar alguns hotéis ou de se alimentar em certos restaurantes, por exemplo. Entretanto, dentro de seus grupos, eram respeitados, gozando de um nível de igualdade.
A criação desenfreada de gado durou até a virada do século, quando melhores e maiores linhas de ferrovias abrangeram o Ocidente, além disso, agora, o arame farpado já era muito usado para delimitar as reservas, o que fez com que a necessidade de caubóis nas fazendas diminuísse consideravelmente.
Principalmente os negros tiveram dificuldade em comprar suas próprias terras, passando por um momento difícil de transição.