O Brasil reconhece que Zuzu Angel foi morta pela ditadura?
Aventuras Na História
A vida da estilista Zuzu Angel mudou drasticamente quando seu filho Stuart Edgar Angel Jones despareceu em 1971. O jovem integrava o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que lutava contra a opressão da ditadura militar, instaurada anos antes no país.
Mineira, a carreira de Zuleika havia decolado e ela era respeitada até mesmo fora do Brasil. Casada com o norte-americano Norman Angel Jones, ela também era mãe de duas meninas: Hildegard e Ana Cristina.
Depois do sequestro de Stuart, pelos agentes da ditadura militar, Zuzu fez da busca por seu filho o principal objetivo de sua vida. Utilizou suas criações e desfiles de moda para protestar e, através de seu marido, contatou senadores americanos para chamar atenção para o que estava acontecendo em seu país.
Uma carta entregue à Zuzu, pelo guerrilheiro Alex Polari no Dia das Mães, descrevia a morte de Stuart. O jovem afirmava que também estava preso quando viu o militante ser torturado e então levado sob a posse dos militares.
Ainda assim, Angel queria saber onde seu filho estava, precisava do último adeus. A estilista juntou ainda mais forças e pressionou as autoridades brasileiras e internacionais por uma resposta; o que recebeu, no entanto, foi algo bem diferente.
Em 14 de abril de 1976, Zuzu dirigia na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro, quando sofreu um acidente que lhe tirou a vida. Enquanto passava pelo túnel Dois Irmãos sentiu um impacto em seu veículo. Aqueles foram seus últimos minutos.
Quem matou Zuzu Angel?
Por anos a morte da brasileira foi tratado como um mistério sem solução. Enquanto alguns acreditavam na hipótese de um acidente automobilístico comum, outros tinham certeza do envolvimento da ditadura militar, o que seria uma foram de aniquilar os protestos e calar Zuzu.
Angel morreu sem jamais saber o que acontecera com o filho, sem poder lhe dar um enterro digno. Este parecia ser o mesmo destino reservado para Zuzu, visto que nenhuma autoridade se dirigia ao assunto e nem mesmo uma investigação na época buscou saber o que acontecera com a estilista.
Todavia, sua história mudou em 1998, quando a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu a interferência militar no episódio. Documentos da Comissão da Verdade, trouxeram à tona detalhes sobre o fatídico acidente.
Em setembro de 2019, quase 50 anos depois da morte da mãe, a jornalista Hildegard Angel recebeu duas certidões de óbito — de Zuzu e de Stuart —, em que constava: “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada a população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”, emitido pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, trecho repercutido pelo Instituto Zuzu Angel.
Eugênia Gonzaga, ex-presidente da Comissão, havia declarado: “A Justiça autorizou a retificação de que Zuzu não teria morrido acidentalmente, mas em razão de perseguição política, como reconheceu a Comissão Nacional da Verdade”.
Zuzu e Stuart se tornaram mais duas vítimas do sistema opressor que comandou o Brasil por duas décadas. Porém, diferente de Angel, o corpo do jovem torturado segue desaparecido, mesmo que 50 anos tenham se passado.