O homem condenado que negou ter enganado o 'Quem Quer Ser Um Milionário?'
Aventuras Na História
Entre as noites de 9 e 10 de setembro de 2001, a população do Reino Unido acompanhou, em rede nacional, a segunda pessoa a atingir o prêmio de 1 milhão de euros no programa "Quem Quer Ser Um Milionário?", por lá transmitido pela ITV.
Na ocasião, o participante Charles Ingram, ex-major do Exército, se destacou na trilha das 15 perguntas do programa e conseguiu o prêmio máximo que dá nome a atração, respondendo as questões do apresentador Chris Tarrant durante dois episódios consecutivos.
No início da atração, ele participou de uma dinâmica junto de outros candidatos, onde o mais rápido a acertar a primeira pergunta seria selecionado para as questões individuais. Na quinta questão, o episódio teve de ser encerrado pelo limite de tempo, com Tarrant o convidando para concluir a jornada ao milhão no dia seguinte.
Porém, no segundo dia, uma suposta tentativa de trapacear acabou ganhando a mídia — tanto por outros presentes no estúdio, quando por telespectadores, que fizeram questão de ligar para a produção do programa e denunciar o episódio, como revelou o jornal britânico The Sun.
O que aconteceu?
Quem acompanhava a transmissão com mais atenção notou uma estranha coincidência; diversos tossidos ocorreram antes de respostas que, apesar da demora do participante, eram respondidas corretamente.
O método apontado era descrito com Charles repetindo, em voz alta, quais eram as alternativas, até ser correspondido com um tossido para a opção certa.
Pouco após o termino da atração, as câmeras do estúdio conseguiram capturar de quem partiu os sinais; alguns deles foram realizados por sua esposa, Diana, mas grande parte por Tecwen Whittock, um professor que compunha a plateia junto com a companheira do participante, mas afastados fisicamente.
Nas 15 perguntas, contando as múltiplas repetições do participante, 19 tossidos foram compatíveis com alternativas corretas, sendo reunidas em vídeo e entregues pela emissora à polícia, alegando "fraude ao obter título valioso".
A condenação
Assim que passado para a polícia, o pagamento foi suspenso até que a ocorrência fosse avaliada e repassada ao juizado responsável. Amplamente comentado em jornais do país, o caso seguiu para a Corte de Wouthwark, em um julgamento que durou quatro semanas entre março e abril de 2003.
As três pessoas acabaram condenadas a prisão, com o casal tendo de cumprir 18 meses de reclusão e Whittock apenas 12. Além disso, cada um foi multado em 15 mil euros e condenados a custear o processo, estimado em 10 mil euros. A multa e custos foram anulados no ano seguinte sob a justificativa de que a pena já estava sendo cumprida a rigor.
Tendo de abrir mão de seu título no Exército pelo crime na esfera civil, Charles participou de outros programas nos anos seguintes, ainda alegando sua inocência até os dias atuais.
Novas versões
Em 2020, a dupla foi até o tribunal e pediu que a condenação fosse anulada. Como justificativa, foi dito ao The Guardian que novas análises nos áudios mostrariam que o caso fora injusto.
O veículo conversou com Rhona Friedman, que representou o casal na época. Ela acredita que eles foram alvo de um erro judiciário, pois, os áudios teriam sido alterados antes mesmo de serem levados ao júri.
“Falando com eles e conhecendo-os, só sei que eles não fizeram isso”, explicou Rhona ao jornal. Ela disse que o caso seria arquivado e uma audiência realizada no final do ano passado.
Friedman relata que técnicas modernas mostrariam que as tosses que levaram a condenação, na verdade, eram do público, assim contradizendo a acusação divulgada em 2003.
“Existem algumas anomalias realmente estranhas. Existem algumas omissões gritantes. Você tem microfones diferentes captando pessoas diferentes. Existem inconsistências entre o que está em uma fita e em outra", afirmou Friedman.
“A ideia é que Charles foi preparado para aparecer na TV pela primeira vez na vida, na frente de milhões de pessoas, sabendo que ele ia trapacear, com um cara sentado atrás dele que ele não conheceu tossindo para indicar um responder, sem dar qualquer reação. Teria sido o desempenho de uma vida inteira e ele não é capaz disso", finalizou.