Opções menos eficazes: Como fazíamos antes da brilhantina?
Aventuras Na História
Apsicologia talvez nunca explique o mecanismo mental que nos faz festejar um determinado penteado como a melhor expressão estética possível do couro cabeludo, enquanto a moda que era considerada o máximo até o dia anterior passa a ser criticada imediatamente como ridícula e de mau gosto. Mas moda não se discute.
E talvez uma das vogas mais marcantes para os cabelos tenha sido a de deixá-los bem assentados e com um aspecto de molhados, o que era conseguido com os mais variados produtos, alguns dos quais seriam considerados até mesmo repugnantes hoje em dia.
Gorduras vegetais, como azeite de oliva e de palma, foram populares para aqueles interessados no look molhado. Mas havia ingredientes mais inusitados: uma receita europeia, desenvolvida em torno de 1300, recomendava misturar gordura de lagarto e fezes de pombo e aplicá-los sobre as madeixas revoltas.
Na África, usava-se uma mistura de gordura animal com mel ou ocre, para dar cor. Na Ásia, os elaborados penteados da nobreza eram erguidos com o auxílio de pentes e uma pomada à base de cera. Na América do Norte, a substância mais popular era o óleo de urso, refinado a partir da gordura do animal.
O uso das pomadas comerciais se popularizou em meados de 1800, mas foi no início do século 20 que ingredientes como goma de petróleo e cera de abelhas substituíram a gordura animal. Em 1900, o perfumista Edouard Pinaud introduziu um novo produto à sua linha de cosméticos capilares, chamado Brillantine, a brilhantina.
O óleo perfumado deixava o cabelo ou bigodes com aspecto molhado e permitia modelá-los. Alguns anos mais tarde, em 1929, o Brylcreem foi criado na Grã-Bretanha. O creme se tornou tão popular que, na Segunda Guerra Mundial, um tubo era incluído no kit de cuidados pessoais dos soldados.
Foi na década de 50, no entanto, que a brilhantina explodiu. Os topetes de Elvis Presley e James Dean serviram de inspiração para uma tribo de jovens chamados de greasers (engordurados). O estilo foi relembrado no musical Grease, em que John Travolta protagoniza um jovem que ouve rock’n’roll e esculpe cuidadosamente o cabelo.
No Brasil, um dos produtos mais populares era o Gumex. A goma vinha pronta ou em pó solúvel em água. Precisava ser aplicada rapidamente, pois logo endurecia. O bordão do produto, o non sequitur “Dura lex sed lex, no cabelo só Gumex”, ou, “A lei é dura, mas é a lei, no cabelo...” foi criado pelo compositor Ary Barroso, em uma partida de futebol financiada pela marca.
Por causa do aspecto gorduroso, gírias como “engomadinho” e “lambido” foram associadas aos penteados. A brilhantina foi utilizada em larga escala até meados dos anos 60, quando os topetes elaborados caíram em desuso e produtos menos densos, à base de gel ou água, a substituíram.
Mas, quando se trata de moda, não se deve nunca desconsiderar algo que esteve em voga no passado. Uma prova disso? O costume de usar produtos gordurosos para assentar e dar volume aos cabelos. O uso de óleos, cremes e pomadas para modelar as madeixas e providenciar brilho data de pelo menos 3,5 mil anos atrás, época em que os antigos egípcios aplicavam gordura animal nos cachos, para garantir sua fixação.
E esses cuidados iam além de garantir uma boa figura no dia a dia e miravam a eternidade: a substância foi encontrada em diversas múmias — afinal, se queria causar uma boa impressão ao chegar ao além. Acredita-se que, em algumas múmias, o corpo tenha sido escalpelado e o cabelo preparado separadamente.