Pela primeira vez em 60 anos, Miss Brasil terá candidata trans
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O concurso Miss Brasil terá pela primeira vez uma mulher transexual na disputa. Dentre as 48 candidatas, Rayka Vieira, 26, irá protagonizar esse marco nesta quinta-feira, 19.
Desde o anúncio de sua candidatura, em setembro do ano passado, na coluna “de faixa a coroa”, do jornal Folha de São Paulo, a vida da goiana mudou com a repercussão da notícia.
“Demorei para assimilar. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer na minha vida, já que oportunidades são raras para a comunidade LGBTQIA+. Hoje já absorvi melhor e posso dizer que estou muito feliz de viver este sonho”, contou a candidata que irá defender a faixa de Miss Centro Goiano.
Vieira se assustou com quando seu número de seguidores dobrou no Instagram, contabilizando quase 12 mil, e chegou a se afastar das redes sociais. Porém, em meio a conquista, ela também foi alvo de preconceito e discursos de ódio.
“Chegaram até mim inúmeras críticas, ofensas, piadas, ironias, agressividades, machismo. Isso me deixou mais assustada, e, com certeza, contribui para minha ausência momentânea da internet. Tive receios de postar qualquer coisa, me posicionar, falar...”, relatou Rayka à coluna da Folha.
Além disso, a faixa de miss criou oportunidades de trabalho, como modelo e influenciadora social. Para Vieira, a quebra de paradigma em relação à sua imagem pode beneficiar as modelos trans.
No âmbito pessoal, ela diz que sua timidez foi substituída por uma mulher muito mais segura, que quer lutar para ajudar outras. A modelo também afirma que está “preparadíssima” para vencer e representar o Brasil no mundial.
Rayka diz que não quer ser vista apenas como uma mulher trans, mas está orgulhosa disso. “Quero deixar um legado de que o inimaginável pode ser imaginável. Acho que os concursos de beleza nunca mais serão os mesmos depois de mim. Sou a primeira mulher trans em um concurso de Miss Brasil, mas espero que não seja a última.”
O evento do Concurso Nacional de Beleza de 2021 acontece dois anos após sua última edição, já que foi adiado três vezes devido a pandemia da Covid-19. Em 60 anos de realização, o Miss Brasil, criado e pensado para mulheres cisgênero, será o primeiro concurso a receber uma trans, inclusive comparado a versão Mundo, Universo, Terra ou qualquer outra edição. Antes de Rayka Viera, a carioca Náthalie de Oliveira disputou o estadual Miss Rio de Janeiro, na versão Universo, em 2019, mas não se classificou.
“Que a participação de mulheres trans em concursos tradicionais possa ser algo natural, e que meu único atributo não seja ser trans. Eu tenho um sorriso bonito, eu sou engraçada, brincalhona, amiga, dedicada, inteligente, resiliente, não desisto dos meus sonhos e sou muito família”, acrescentou Vieira.
Além dela, as participantes do concurso apresentam maior diversidade neste ano, como uma representante dos imigrantes coreanos no Brasil, uma miss com ascendência indígena, cinco candidatas afrodescendentes e uma deficiente auditiva.