Por influência de Leopoldina, a independência do Brasil foi formalmente reconhecida
Aventuras Na História
D.Leopoldina (1797-1826) foi uma das mais notáveis mulheres da história brasileira, uma das principais articuladoras da Independência e a primeira governante do país.
Nascida arquiduquesa da Áustria, foi criada em Viena com excelente educação e desenvolveu uma cultura ímpar até mesmo para os padrões da nobreza. Além das ciências naturais, adorava física, geometria, filologia e numismática.
Em 1817, d. Leopoldina casou-se por procuração com o então príncipe d. Pedro. Entusiasmada e apaixonada pelo reino exótico que se oferecera como sua nova pátria, antes da viagem para o Brasil aprendeu o português e informou-se sobre a história, a geografia e a economia brasileiras.
Trouxe na bagagem, além do enxoval, uma pequena biblioteca e uma coleção de minerais. Para Viena, enviou diversos tipos de espécies animais, sementes, plantas e pedras raras do Brasil. Pouco depois de sua chegada, ela já havia despachado para a Áustria seis caixas com material coletado – o pai, imperador austríaco, criou um museu especial com as peças enviadas pela filha.
O entusiasmo logo se desfez, com as traições do marido e as decepções com a nova pátria, “um país onde tudo é dirigido pela vilania”, escreveu ela. Inteligente e observadora, previu antes do marido o desenlace entre Brasil e Portugal.
Anteriormente ao Dia do Fico havia-se decidido pela causa brasileira, mas temia o despreparo de d. Pedro para governar e decidir o futuro da nação. “O príncipe está decidido, mas não tanto quanto eu desejaria”, confidenciou ela a um amigo.
Determinada, na função de regente, enquanto d. Pedro estava em São Paulo, no dia 2 de setembro de 1822 ela presidiu o conselho de Estado, no Rio, e assinou uma recomendação para que o esposo declarasse a Independência, o que d. Pedro faria no dia 7.
“O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece”, escreveu ao esposo. Foi por influência dela que o país foi formalmente reconhecido no exterior como nação independente.
O conselheiro Vasconcelos de Drumond escreveu que, por isso, “o Brasil deve à sua memória gratidão eterna”. A “matriarca da Independência”, que preferia os estudos, livros e sua coleção de minerais a tudo mais, sofria quando o assunto era a aparência.
A opinião de alguns de seus contemporâneos é quase unânime: faltavam-lhe beleza e elegância. De toda forma, os brasileiros a idolatravam. “O povo amava a imperatriz e,
por toda a parte, era recebida com júbilo”, anotou um observador europeu.
Sua contribuição na construção do novo país, porém, não iria longe. Passados apenas quatro anos do Sete de Setembro, d. Leopoldina adoeceu. D. Pedro havia partido para o Sul, para a campanha da Cisplatina e ela, já enferma, presidiu a reunião do Conselho de Ministros. Dias depois, abortou o feto de um menino e não deixou mais o quarto.
Sofria de insônia, tosse, tremor nas mãos e gases. Quando se soube, pelos boletins dos médicos, do delicado estado de saúde, muita gente correu às igrejas para rezar. Em 11 de dezembro de 1826, d. Leopoldina faleceu.
Tinha apenas 29 anos. Nas palavras de um observador alemão, “caíra o mais lindo diamante da Coroa brasileira”. A amiga e confidente inglesa Maria Graham escreveu que todos lamentaram a perda da “mais gentil das senhoras, a mais benigna e amável das princesas”.
Em breve, com quase dois séculos de atraso, d. Leopoldina deve receber o merecido título de “Heroína da Pátria”: desde 2020, o Congresso Nacional analisa o projeto de lei que visa incluir seu nome no Livro de Aço, onde constam heróis e heroínas nacionais, localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade.
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