5 novelas censuradas pela ditadura que tiveram remake com roteiro original
Aventuras Na História
Durante os anos de vigor do Ato Institucional nº 5, as marcantes telenovelas brasileiras serviram como símbolos de entretenimento em meio a tempos de censura. Algumas dessas produções, conforme levantado pelo colunista Nilson Xavier, do portal de notícias UOL, tiveram cenas históricas ou até mesmo capítulos e exibições vetadas pelos censores do governo militar.
Contudo, anos depois, puderam ser refeitas respeitando os desejos originais do autor e sendo sucessos conforme planos iniciais. Sabendo disso, o Aventuras na História separou 5 telenovelas vetadas pela Ditadura que receberam remakes após a Nova República.
1. 'Meu Pedacinho de Chão'
Em 1971, a obra estreava como a primeira novela da faixa das 18h na emissora, antecedendo jornais locais e o Jornal Nacional. Com tom lúdico, sua censura se deu por fatores que beiram o bobo; cenas, como as de um personagem tocando o Hino Nacional no violão para caboclos, ou a de um aluno de uma escola cantando o hino com a bandeira do Brasil estendida sobre a mesa.
Censores afirmavam que os símbolos patrióticos não poderiam ser exibidos naquele ambiente e que a bandeira deveria aparecer apenas em “cenas especiais”. O remake de 2014, no entanto, foi refeito com uma ambientação fantasiosa, sem a necessidade das referências anteriormente censuradas, seguindo o roteiro de Benedito Ruy Barbosa.
2. Selva de Pedra
O caso mais famoso de interferência da Censura Federal ocorreu no esperado casamento de Cristiano (Francisco Cuoco) e Fernanda (Dina Sfat), na transmissão original de 1972. O personagem acreditava que sua primeira esposa na trama, Simone (Regina Duarte), estava morta após um acidente de carro. Os espectadores, no entanto, sabiam que ela estava viva.
Devido a esse fato, os sensores avaliaram que, pelo fato dela estar viva — mesmo que nenhum personagem soubesse — um segundo casamento resultaria no crime de bigamia, proibindo o roteiro e resultando no descarte de 22 episódios já gravados. Assim que a redemocratização ocorreu, em 1985, a Globo iniciou os preparativos para refazer a novela, que estreou no ano seguinte, dessa vez respeitando o interesse original do roteiro.
3. O Bem Amado
A cômica história protagonizada pelo prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) arrancou risadas do Brasil em 1973. Contudo, os termos "coronel", para se referir ao político, e "capitão", para referenciar o matador Zeca Diabo (Lima Duarte), incomodou os militares, que vetaram os usos das palavras e obrigaram a TV Globo a, cuidadosamente, remover as palavras dos áudios de 15 capítulos já gravados.
Em 2011, o filme 'O Bem Amado' foi lançado e, no ano seguinte, dividido em quatro capítulos numa minissérie exibido pela emissora carioca. Dessa vez, sem censura e com Marco Nanini no papel do quimérico prefeito nas aventuras para inaugurar o cemitério de seu município.
4. O Rebu
Inicialmente transmitido em 1974, foi a primeira novela a pautar a homossexualidade no Brasil, fato que os sensores não puderam ignorar; mesmo que implicitamente, o persoangem Conrad Mahler (Ziembinski) nutria sentimentos com Cauê (Buza Ferraz), rapaz bem mais jovem.
Nos primeiros capítulos, a Censura Federal exigiu que Cauê fosse abertamente tratado como filho adotivo, mas o carinho e proximidade de ambos continuou incomodando, posteriormente classificando ambos como um casal.
O mesmo fato ocorreu com a proximidade de Roberta e Glorinha (Regina Viana e Isabel Ribeiro), resultando na ordenação do corte de diversas cenas. O roteiro original pode ser finalmente seguido em 2014, quando a produção foi refeita como novela das 11h.
5. Roque Santeiro
Nesse caso, a novela original sequer chegou a ir ao ar; sua estreia, prevista para 27 de agosto de 1975, já era anunciada em jornais e na programação. Contudo, minutos antes de ter o primeiro capítulo exibido, Cid Moreira anunciou, no 'Jornal Nacional' que a produção havia sido vetada pelo Governo.
A justificativa era a seguinte: "A novela contém ofensa à moral, à ordem pública e aos bons costumes, bem como achincalhe à Igreja". Foram perdidos 10 episódios prontos e cenas de mais 30 capítulos. A novela só pôde ser feita no ano da redemocratização, em 1985, mas com outro elenco e sem aproveitar imagens da versão engavetada.