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A jovem que sobreviveu ao incêndio da boate Kiss com ajuda de um freezer
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A jovem que sobreviveu ao incêndio da boate Kiss com ajuda de um freezer

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Aventuras Na História
29/01/2023 01h00
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©Wikimedia commons / Leandro LV
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Na última sexta-feira, 27 de janeiro, o devastador incêndio da Boate Kiss, que tirou as vidas de 242 pessoas, completou uma década. O episódio ocorreu em Santa Maria, cidade do Rio Grande do Sul, mas marcou o país como um todo. 

Além do alto número de vítimas, o desastre chocou por conta da rapidez no qual as mortes ocorreram. Informações repercutidas pela Faculdade Volpe Miele (FVM) estimam que as centenas de jovens foram sufocadas entre três e cinco minutos. 

A causa de morte foi inalação de fumaça, ou, mais especificamente, contaminação por cianeto, uma substância altamente tóxica produzida pela queima do material usado no isolamento acústico da balada, inapropriado para essa finalidade.

Tratava-se de uma espuma considerada "inadequada e irregular" pelo inquérito policial de 2013 a respeito da tragédia. Barata, ela era altamente inflamável, se enxameando após ser atingida pelas faíscas de umequipamento pirotécnico (que, aliás, não era apropriado para uso dentro de ambientes fechados). 

Uma combinação de fatores infelizes, muitos deles causados pela negligência dos administradores do estabelecimento com protocolos de segurança — como a ausência de saídas de emergência, o fato das janelas do prédio se encontrarem obstruídas, dificultando a ventilação, assim como a escolha de superlotar o lugar na noite do ocorrido — contribuíram para criar a terrível chacina.

Os perturbadores eventos ocorridos naquela fatídica festa da Boate Kiss foram registrados em detalhes pelo livro-reportagem "Todo Dia a Mesma Noite", da jornalista Daniela Arbex, e posteriormente inspiraram a criação da série ficcional de mesmo nome que estreou na Netflix na última quarta-feira, 25. 

A história de uma sobrevivente 

Fotografia de Ingrid Goldani (de preto) com sua família / Crédito: Divulgação/ Arquivo Pesoal

Tendo em vista a maneira como as condições dentro da casa noturna de Santa Maria foram propícias à disseminação de fumaça venenosa ao mesmo tempo que dificultavam a saída das vítimas, é quase uma surpresa que tenham havido sobreviventes.

Houveram 636 pessoas que saíram com vida do incêndio, com quase todos eles tendo precisado de assistência médica após escaparem do local, seja devido a queimaduras, problemas respiratórios ou lesões causadas por serem pisoteados pela multidão em pânico. 

Uma delas é Ingrid Goldani, uma estudante de enfermagem que foi entrevistada pelo G1 três meses após a tragédia. Ela trabalhava na Boate Kiss quando as chamas começaram, e tomou uma decisão rápida que pode ter salvado sua vida. 

Ao perceber que já não era possível respirar normalmente em meio ao ar fumacento do interior da balada, a moça, que estava atrás de um balcão servindo bebidas, foi até um freezer próximo de si. 

Ela abriu o eletrodoméstico e respirou fundo o ar fresco que estava ali dentro. Foi com esse fôlego que começou sua fuga frenética em direção à única saída do local. Ela chegou a cair no chão durante o processo, porém foi auxiliada por um conhecido que reconheceu quando já estava a salvo do interior fumacento do clube noturno. 

Ainda de acordo com o veículo, Ingrid ainda acabou precisando ser internada para tratar problemas respiratórios, felizmente recebeu alta em uma semana. Suas sequelas psicológicas, por outro lado, foram mais duradouras.

Na época da entrevista, a estudante lidava constantemente com as memórias dos falecidos, já que muitos deles eram pessoas que conhecia da faculdade, e achava difícil de ir em outras comemorações ambientadas em locais fechados sem sentir falta de ar. 

Isso não a impedia, todavia, de continuar se esforçando para voltar à normalidade: "Saí para um aniversário de uma amiga. Fiquei com medo, mas ficar trancada em casa não vai mudar o que aconteceu", narrou a moça. 

Seu maior refúgio das lembranças fumacentas da Boate Kiss seria o mundo dos sonhos, diferente da maioria dos sobreviventes que conhecia, que seriam atormentados por pesadelos.   

Todo mundo dizia que não conseguia dormir. Comigo é ao contrário. À noite entro nos sonhos e esqueço. No restante do tempo é impossível não lembrar", contou ela. 

Outro ponto curioso é que o incêndio presenciado por Goldani acabou reforçando sua determinação em se tornar uma enfermeira. 

Quando entrei na faculdade, foi meio no escuro, não sabia direito se era isso. O que aconteceu só confirmou. Mesmo na situação que eu estava no dia, eu quis dar minha parcela de ajuda", relatou ao G1.
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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