A polêmica entrevista em rede nacional com Suzane von Richthofen
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Ré confessa da participação no assassinato dos pais, Suzane Louise von Richthofen passou nove meses em liberdade provisória — entre 2005 e 2006 — por, segundo o Superior Tribunal de Justiça (STF), não representar riscos à sociedade.
No entanto, o status da pena mudou no dia 10 abril de 2006. Na ocasião, Suzane retornou a prisão a pedido do Ministério Público, que considerou plausível a possibilidade dela fugir, além de representar um risco para seu irmão, Andreas — testemunha do crime e beneficiário dos bens de Manfred e Marísia.
Assim, Suzane se entregou por volta das 20h no 89º DP, no Portal do Morumbi, zona oeste de São Paulo. De lá, ela foi transferida até o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde ficou até o fim do dia.
Mas por que houve essa reviravolta? Tudo começou em 9 de abril de 2006, um dia antes da prisão, quando o programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu uma entrevista exclusiva com Suzane.
A reportagem mudaria drasticamente esse cenário de liberdade da moça. Usando roupas com estampas infantis — visual de praxe da assassina — Suzane foi flagrada pelas câmeras do programa recebendo instruções de Denivaldo Barni, procurador jurídico, para chorar durante a entrevista: “Fala que eu não vejo... chora...”.
Suzane rebate: “eu não vou conseguir”, então Barni encerra: “Você está feliz? Então você está feliz. Está feliz? Acabou”.
Em outra entrevista, o microfone colocado em Suzane revela ela recebendo informações do advogado Mario Sérgio de Oliveira sobre o que falar dos irmãos Cravinhos e de como se comportar diante da câmera.
“Acabou. Mais nada. Começa a chorar e fala: ‘Não quero falar mais'. [Fala que] ele mandava, sempre dizendo que se eu o amasse, era pra fazer, e eu nunca quis. E [encerra com] ‘pelo amor de Deus, não quero mais tocar nesse assunto, que me faz muito mal’. Chega”.
Com isso, o promotor Roberto Tardelli usou a entrevista para justificar o pedido de prisão de Suzane. “A possibilidade de fuga era iminente. Descobriu-se a farsa. O tiro saiu pela culatra e ela poderia fugir porque tem pouco a esperar do julgamento [que estava marcado para 5 de junho daquele ano]”, declarou na época, conforme repercutido pelo Observatório da Imprensa em 2006.
Segundo Tardelli, a ré conseguiu ficar “ainda mais antipática para a sociedade”, o que poderia complicar sua situação — já que ela seria julgada por júri popular. O promotor também alegou que a liberdade de Suzane poderia colocar em risco a vida de Andreas.
“A permanência da ré em liberdade coloca em risco a vida de testemunha do feito, no caso, seu irmão, Andreas von Richthofen. Tornaram-se públicas as divergências havidas entre Suzane e seu irmão, ora por desacordo na partilha de bens dos falecidos pais, vítimas”, disse.
Para o MP, a entrevista evidenciou uma armação da defesa de Suzane. “Foi uma encenação de péssima qualidade”. Posteriormente, o novo advogado de Suzane, o advogado Mauro Otávio Nacif, admitiu a farsa em uma entrevista à Folha de S.Paulo. "Aquilo é tudo artificial”.
Nacif prometeu que o comportamento de Suzane seria diferente no dia de seu julgamento. "Nada de periquito no ombro, nada de sandália de pantufa, de coelhinho. [Suzane] é uma moça normal de 22 anos, inteligente, poliglota. Eu não era advogado dela na época [da entrevista]. Se eu fosse, jamais ela apareceria de blusinha do Mickey, sapato de coelho”.