'Cheiro da morte': O perturbador Massacre de Sabra e Chatila
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Atualmente, o mundo todo observa o tenso conflito entre Israel e o Hamas — movimento islamista palestino de orientação sunita —, que completou uma semana neste sábado, 14. Entre os eventos que marcam a já declarada guerra, estão uma série de bombardeios e assassinatos de civis, por ambos os lados.
A declaração oficial de guerra partiu do Estado de Israel, pouco após o Hamas disparar uma chuva de foguetes em Israel, o que foi considerado por algumas nações um "ato terrorista". No entanto, o conflito entre israelenses e palestinos não é recente: a Faixa de Gaza já é palco de embates entre judeus e árabes há décadas, desde o surgimento de Israel em 1948.
Entre os trágicos eventos que precederam a atual guerra entre Israel e Hamas, um é o terrível e brutal Massacre de Sabra e Chatila, ocorrido entre os dias 16 e 20 de setembro de 1982 em Beirute, Líbano.
Mesmo hoje, 41 anos depois do atentado, sobreviventes não conseguem se esquecer das terríveis cenas que presenciaram naqueles dias, quando milicianos cristãos executaram palestinos e libaneses nos campos de refugiados de Sabra e Chatila. Um exemplo é Najib al-Khatib, que perdeu o pai e outros familiares na tragédia, e recorda do fedor dos cadáveres:
Durou mais de cinco ou seis meses. Um cheiro horrível. Eles pulverizavam produtos químicos todos os dias, mas o cheiro ficava", contou em entrevista à AFP em 2022, na época, com 52 anos.
Dias sombrios
Entre os dias 16 e 18 de setembro de 1982, um grupo de milicianos cristãos — e aliados de Israel na complexa questão territorial com a Palestina — entraram nos dois campos de refugiados palestinos de Sabra e de Chatila, próximo de Beirute, no Líbano, e mataram brutalmente entre 800 e 2.000 pessoas, além de cerca de outros 100 libaneses e sírios.
As tropas israelenses, que invadiram o Líbano no mesmo ano, em vez de intervir no massacre, apenas isolaram os campos, o que possibilitou aos milicianos prosseguir com as atrocidades contra civis palestinos desarmados. "Até hoje, o cheiro permanece nas nossas cabeças. O cheiro da morte", disse Najib al-Khatib à AFP.
Na mesma entrevista, ocorrida no próprio campo de Sabra, onde o homem vive com a família, ele apontava algumas das localidades e relatava o que viu naqueles dias terríveis: "Esta é a casa da minha avó", disse quando apontava para uma residência. "Durante o massacre, estava lotada de cadáveres. Estavam empilhados aqui. Cavalos e cadáveres, em cima uns dos outros."
Outra lembrança marcante de Najib foi quando encontrou o corpo do pai estirado na porta de casa, já sem vida. "Atiraram nas pernas dele e o atingiram na cabeça com um machado", recorda.
Cenas inesquecíveis
Outra moradora do campo, que sobreviveu ao massacre, Umm Abbas, de 75 anos, também relatou à AFP algumas das "cenas inimagináveis" que presenciou no terrível evento. "O que eu vi? Uma mulher grávida que teve o bebê arrancando do estômago e foi cortada ao meio", recorda.
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Impunidade
Na época, o Massacre de Sabra e Chatila, de fato, não pôde ser ignorado pela comunidade internacional, tendo gerado grande comoção. No entanto, até hoje ninguém foi detido ou mesmo julgado pela atrocidade.
De acordo com o UOL, o ataque ocorreu poucos dias após o assassinato do presidente eleito do Líbano, Bashir Gemayel. Vale destacar que ele era, para os cristãos que residiam no país, um herói — no entanto, também era odiado por muitos devido à cooperação com Israel.
Posteriormente, investigações até apontaram Ariel Sharon, então ministro da Defesa, com outros oficiais, foram responsáveis indiretos pelo ato. Além deles, o massacre também foi atribuído a Elie Hobeika, diretor de inteligência das Forças Libanesas, uma milícia cristã e de extrema-direita e aliada de Israel.
Desde então, o grupo permaneceu em silêncio, sem nunca responder às acusações de envolvimento com o massacre. Em 2003, um grupo de sobreviventes que viviam na Bélgica ainda tentaram iniciar um processo contra Ariel Sharon, mas o tribunal rejeitou o caso.