Home
Notícias
Como o diário de Anne Frank sobreviveu à Segunda Guerra
Notícias

Como o diário de Anne Frank sobreviveu à Segunda Guerra

publisherLogo
Aventuras Na História
09/02/2025 21h00
icon_WhatsApp
icon_facebook
icon_email
https://timnews.com.br/system/images/photos/16459209/original/open-uri20250209-19-18jazu1?1739135021
©Domínio Público e Getty Images
icon_WhatsApp
icon_facebook
icon_email
PUBLICIDADE

Mais de seis milhões de judeus foram sistematicamente mortos durante o Holocausto; assim como cerca de 5 milhões de ciganos, negros, homossexuais, pessoas com deficiência, prisioneiros políticos e outros grupos minoritários. 

A onda de extermínio tomou conta da Europa, por mais de 40 mil campos de concentração, trabalho forçado, internatos ou pelos grupos Einsatzgruppen — nome dado aos esquadrões móveis que não só metralhavam comunidades inteiras como dispunham das vans de asfixia a gás. 

A Holanda foi o país com maior mortalidade de toda a Europa Ocidental: 80% dos judeus holandeses morreram. O que significa que da população de 107.000 enviada aos campos, apenas 5 mil saíram com vida

Em Auschwitz foram mais de 1,1 milhão de vidas ceifadas. 60 mil judeus holandeses foram enviados para lá, sendo que apenas 673 sobreviveram — o que inclui 127 homens e mulheres que estavam no mesmo transporte que a Família Frank quando chegaram lá, em setembro de 1944. 

Um destes sobreviventes foi Otto Frank, pai de Anne Frank. Otto só foi poupado por ser colocado no quartel dos doentes — que não foram para a Marcha da Morte — pouco antes que o Exército Vermelho libertasse o campo em 27 de janeiro. Ele foi uma das figuras fundamentais para a publicação do best-seller 'O Diário de Anne Frank'. 

Em busca de Anne e Margot

Era 12 de junho de 1942. Anne Frank recebia, em seu 13º aniversário, o presente que marcaria para sempre sua vida: um diário — a quem ela carinhosamente chamava de Kitty. Em poucos anos Anne sucumbiria a tifo no campo de Auschwitz, mas seus relatos se tornariam eternos. 

Anne Frank - Domínio Público

Quando deixou a Polônia ocupada, Otto Frank, que tinha quase 1,80 metro de altura, pesava pouco menos que 52 quilos. Aquela altura, ele sabia que sua esposa Edith estava morta. Mas mantinha as esperanças de reencontrar as filhas: Anne e Margot

Toda a minha esperança são as crianças", registrou em carta enviada à sua mãe, que estava na Suíça. "Eu me agarro à convicção de que elas estão vivas e que ficaremos juntos novamente".

Enquanto esteve fora, Miep Gies e Bep Voskuijl mantiveram sua fábrica, a Opekta, operando. Quando Jo Kleiman foi liberto do campo de concentração de Amerfoort, ele também voltou para o local. 

Com a Segunda Guerra caminhando para o fim e o avanço cada vez mais frequente dos Aliados, a Holanda continuava se deteriorando. A distribuição de alimentos e suprimentos já havia cessado, e os moradores tinham que cortar árvores e desmantelar casas para terem combustível. Mais de 20 mil holandeses pereceram ao chamado 'Inverno da Fome'

"Todas as conversas se concentravam em comida", relatou Miep. "As obsessões por comida estavam afetando todas as nossas mentes." 

Amsterdã só foi liberta em maio de 1945. No dia 3 de junho, Otto Frank tocou a campainha da casa onde viviam Miep e seu marido Jan Gies. A secretária amiga da Família Frank ficou sem palavras enquanto Otto lhe oferecia notícias de que Edith já não retornaria mais. Mas ele ainda tinha esperanças em ver as filhas. 

As memórias num Diário

A partir daquele dia, Otto foi abrigado pelos Gies, voltou para a Opekta e começou a colocar cartazes e anúncios em jornais em busca de respostas sobre Anne e Margot. No dia 18 de julho, ouviu de Jannie Brandes-Brilleslijper a única notícia que não queria. 

Eu mal conseguia falar porque era muito difícil dizer a alguém que seus filhos não estavam mais vivos", Jannie relembrou, repercute a Time. "Eu disse: 'Elas não estão mais [vivas]'. Ele ficou mortalmente pálido e desabou em uma cadeira".

Pouco depois, a Cruz Vermelha confirmou as mortes. Quando Miep soube que Anne não retornaria em busca de seu diário, ela revelou a Otto que havia guardado as 327 páginas escritas pela garota

Inicialmente, Otto ficou sobrecarregado em ler os relatos da filha, mas com o tempo foi aprendendo a vê-la de outra forma. Os registros eram "tão incrivelmente emocionante", como o próprio descreveu, que mal conseguiu largá-los.

Não apenas o diário, mas também todas as revisões que Anne fez enquanto nutria o sonho de escrever seu próprio romance e seguir sua carreira de escritora. Otto ainda se reencontraria com velhos amigos: Eva Schloss e sua mãe, Elfriede — sobreviventes de Auschwitz. 

Certo dia, Otto Frank chegou com um pacote embaixo do braço e mostrou o diário escrito por Anne. "Foi muito emocionante", disse Schloss à LIFE. "Ele leu algumas frases, mas sempre começava a chorar".

Ele já havia decidido que sua missão seria compartilhar com o mundo os registros feitos por sua filha. Assim, Otto buscou um editor. 

Imagem do diário de Anne Frank - Getty Images

De início o processo foi difícil, só se desenrolando após mostrar os registros ao historiador Jan Romein, que escreveu um artigo de primeira página com a manchete "Kinderstem" ("A voz de uma criança", em tradução livre) para a edição de 3 de abril de 1946 do jornal Het Parool. 

"Para mim, no entanto, este diário aparentemente inconsequente de uma criança", escreveu Romein, "gaguejado na voz de uma criança, incorpora toda a hediondez do fascismo, mais do que todas as evidências de Nuremberg reunidas". 

Em seguida, a editora Contact, de Amsterdã, concordou em publicar o livro. 'O Diário de Anne Frank' foi lançado em 25 de junho de 1947 — mas com o título de "Het Achterhuis" ("O Anexo Secreto"). 

Apenas dois anos depois do fim da Segunda Guerra, as pessoas começaram a se emocionar com a história da menina de apenas 15 anos que ainda acreditava que "as pessoas são realmente boas de coração".

A obra se mostrou útil na forma de personificar o Holocausto. Aquela altura, vale ressaltar, passou a ser conhecido e divulgado o número de 6 milhões de judeus mortos; com museus representando os horrores do conflito por meio do choque de quantidade; como pilhas de roupas, sapatos… 

"O rosto da Anne Frank foi um dos primeiros a se sobressair", explicou Carlos Reiss, Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História em 2021. 

"Os jovens que leem o diário reconhecem a voz dela, reconhecem seus pensamentos, seus desejos. O Diário é um espelho para a sociedade, para qualquer geração de jovens, de qualquer época, e é por isso que se transformou nesse fenômeno que é praticamente inesgotável".

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
icon_WhatsApp
icon_facebook
icon_email
PUBLICIDADE
Confira também