Como os romanos podem ter influenciado a autoimagem dos vikings
Aventuras Na História
Durante escavações realizadas no leste da Noruega, arqueólogos encontraram um túmulo datado do final da Era Viking — que se estendeu de 793 a 1066 — que se assemelhava muito aos descobertos pertencentes período do Império Romano — de 27 a.C. a 476 d.C.
Com essas descobertas, que foram publicadas no dia 15 de outubro de 2021 na Revista Arqueológica de Cambridge, pesquisadores apontam que, desde a época dos vikings, costumes do passado já influenciavam o presente, de forma que a história era, sim, valorizada por esses grupos.
Para embasar a afirmação, a coordenadora da pesquisa, Julie Lund, professora do Departamento de Arqueologia, Conservação e História da Universidade de Oslo, na Noruega, investiga a relação dos vikings com o passado e o conhecimento da história que tinham.
Cemitérios
Durante as pesquisas, Lund identificou o cemitério de Hunn, localizado em Ostfold, onde existem mais de 145 túmulos visíveis. O local, por sua vez, possui sepulturas que abrangem diversos períodos históricos, passando desde o Império Romano, até o Período das Migrações, a Idade do Ferro e a Era Viking.
Porém, surpreendentemente o estudo identificou grandes semelhanças entre duas sepulturas — o que, por si só, não seria exatamente impressionante, exceto pelo fato de que elas foram construídas com centenas de anos de diferença. A mais antiga pertencia ao período romano, e foi nomeada como Stubhøj; a outra, por sua vez, pertencia aos vikings, e foi batizada de Store Vikingegrav.
Em um comunicado, a pesquisadora relata que não somente o local de sepultamento foi copiado, como também objetos enterrados junto aos corpos eram semelhantes. Por exemplo, em alguns túmulos femininos itens de herança foram encontrados, como alguns tipos de joias, o que se assimilava aos costumes romanos.
O Hunn é um local de sepultamento especial, porque todos os períodos da pré-história estão representados lá. É um lugar que está em uso contínuo há milhares de anos. Há muitas camadas de história no local, mas os vikings optaram por copiar especificamente um túmulo da era romana", aponta Julie Lund. "Isso não é coincidência, na realidade indica que a era romana era um passado particular com o qual eles desejavam fazer conexões."
Outros túmulos
Apesar da afirmação de que os vikings se inspiravam grandemente nos romanos, após observação de um túmulo, não existiram muitas sepulturas vikings que copiavam os modelos do que foi um dos maiores impérios da história humana. Somente dois outros locais de sepultamento em toda a Noruega semelhantes aos túmulos de Hunn foram encontrados.
Nesses casos, além de as sepulturas serem mais bem-localizadas, tal como os romanos tinham o cuidado de ter, os vikings teriam copiado o túmulo mais chamativo, além de tentarem replicar alguns pequenos detalhes, como pedras encrustadas.
"O que é interessante sobre a Store Vikingegrav é que ela foi construída como uma réplica. Era para parecer que esteve lá ao longo dos tempos", acrescenta a pesquisadora.
Já em seus interiores, ambas as sepulturas abrigavam diversas armas, escudos, chifres raros e esporas, além de possuírem uma estrutura interna com câmaras funerárias mobiliadas, tal como os romanos faziam.
Explicação
Julie Lund explica ainda que não é possível garantir que a referência que os vikings fizeram era baseada em algo que viram — exceto pelo caso dos túmulos praticamente idênticos. A teoria mais provável, como ela aponta, é que o que eles copiaram, ou mesmo se inspiraram, advinha de histórias que eram transmitidas muitas vezes de forma oral.
Logo, como o Império Romano foi extremamente próspero e poderoso, não é improvável acreditar que histórias que detalhavam os rituais fúnebres eram contadas, ou mesmo sobre as relações criadas a partir dos presentes sepultados junto aos corpos.
Quando você usa elementos do passado, você faz com que eles existam ou sejam relevantes no presente. É assim que a cultura material afeta as pessoas, e vice-versa", finaliza Lund.