Descoberta de ossada de guerreiros Han revela morte de 'forma humilhante'

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Uma antiga vala comum descoberta no sul da Mongólia revelou corpos desmembrados de guerreiros Han que enfrentaram o povo nômade Xiongnu no século II a.C., conforme aponta uma recente análise química.
Essa descoberta oferece novas percepções sobre a vida e a morte brutal desses soldados em um período crucial da história chinesa.
“A execução por desmembramento era considerada a forma mais desonrosa de punição”, afirmou Alexey Kovalev, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências, em entrevista à Live Science. “Esse tipo de execução era realizado pelos inimigos para impedir que as almas dessas pessoas renascessem.”
Kovalev e sua equipe examinaram mais de duas dúzias de esqueletos completos e parciais encontrados na vala comum localizada no sítio arqueológico de Bayanbulag. Essa área abrigava uma fortaleza construída pelo Império Han em 104 a.C., ao norte da Grande Muralha da China, visando conter o avanço do Império Xiongnu.
Origem
Em um estudo publicado recentemente no Journal of Archaeological Science, os pesquisadores realizaram análises genômicas e isotópicas para identificar a origem e a identidade dos indivíduos sepultados.
Análises antigas de DNA de 14 dos esqueletos revelaram que essas pessoas eram geneticamente mais semelhantes aos atuais Han e ao povo chinês do norte do que aos Xiongnu e outros antigos siberianos.
Da mesma forma, a análise de isótopos de estrôncio — que mede variações no elemento para revelar onde uma pessoa cresceu — mostrou que esses homens vieram para Bayanbulag de outro lugar, presumivelmente como soldados que participaram diretamente de uma batalha.

As Guerras Han-Xiongnu ocorreram ao longo de dois séculos (133 a.C. a 89 d.C.), com batalhas travadas no Planalto Mongol entre a civilização chinesa e os nômades Xiongnu. Como parte desse conflito, os chineses do norte construíram fortificações para conter a incursão Xiongnu, algumas das quais foram eventualmente incorporadas à Grande Muralha.
Este, no entanto, é o primeiro estudo a examinar um túmulo de soldados Han mortos pelo inimigo e enterrados por seus próprios camaradas, conforme escreveram os pesquisadores.
"É significativo que todos os pequenos pedaços de braços e pernas decepados, cabeças decepadas e outros fragmentos de corpos humanos tenham sido coletados para sepultamento", disse Kovalev ao portal.
Conforme as crenças dos chineses, é necessário enterrar o corpo do falecido em total integridade. Aqueles que enterraram esses soldados tentaram fazê-los se sentir bem na vida após a morte", acrescentou o pesquisador.
Contudo, nem todos puderam ser enterrados intactos. Um homem foi decapitado, mas sua cabeça nunca foi encontrada; acredita-se que tenha sido levada pelos Xiongnu como prova de vitória sobre os Han. "Quem exatamente matou os soldados Han enterrados na vala comum, só podemos adivinhar com base no contexto", disse Kovalev.
Michael Rivera, bioarqueólogo da Universidade de Hong Kong, que não esteve envolvido no estudo, afirmou à Live Science que a pesquisa combina de forma impressionante o contexto histórico com análises genéticas, arqueológicas e isotópicas.
"Os indivíduos neste enterro eram um grupo diverso de homens de todo o nordeste da Ásia que lutavam neste conflito", disse Rivera, acrescentando: "Podemos ver qual lado da batalha esses indivíduos representavam".
Mais trabalho precisa ser feito para entender completamente a vala comum de Bayanbulag, destacou Kovalev, especialmente devido à ausência de informações sobre os costumes funerários para pessoas comuns desse período. "Agora estamos estudando tal sepultura pela primeira vez, e, pela primeira vez, podemos reconstruir este ritual", concluiu ele ao portal.


