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Diários de Josef Mengele: O ‘Anjo da Morte’ nazista que não sentiu remorso
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Diários de Josef Mengele: O ‘Anjo da Morte’ nazista que não sentiu remorso

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Aventuras Na História
10/09/2023 17h00
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Entre os anos de 1939 e 1945, o mundo viveu um dos momentos mais tensos e trágicos de sua história: a Segunda Guerra Mundial. Neste conflito, duas coalizões se combateram, sendo os Aliados (formado pela Inglaterra, França, Estados Unidos e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e o Eixo (Itália, Alemanha e Japão), o lado apoiador do nazismo e dos horrores do Holocausto.

Entre a lista dos antigos líderes nazistas, o nome mais lembrado, geralmente, é o de Adolf Hitler, ditador da Alemanha Nazista de 1934 até 1945. E é comum tê-lo sempre como o maior vilão por trás de todo o conflito, tendo sido inclusive a sua morte, em abril de 1945, um dos maiores indícios de que a guerra chegava a fim.

Adolf Hitler, o antigo líder nazista
Adolf Hitler, o antigo líder nazista / Crédito: Foto por German Federal Archive pelo Wikimedia Commons

 

Porém, é importante lembrar que não foi um homem sozinho o responsável por todos os horrores cometidos pelos nazistas na Segunda Guerra, que incluíam experimentos com humanos e o extermínio em câmaras de gás. Um dos principais homens por trás justamente desses eventos foi o alemão Josef Mengele, que ficou conhecido inclusive como o "anjo da morte" nazista.

Quando oficial médico, Mengele foi o responsável por administrar o campo de concentração de Auschwitz, decidindo quais grupos de judeus morreriam, e quais sobreviveriam. Além disso, também foi lembrado por injetar produtos químicos nos olhos de crianças para torná-los azuis, remover órgãos de pessoas ainda vivas e, um de seus maiores fascínios, costurar irmãos gêmeos para 'produzir' siameses.

Diferente de Hitler, que encontrou seu fim ainda antes da Segunda Guerra acabar, depois da derrota alemã, Mengele ainda conseguiu escapar, tendo se refugiado em uma fazenda na Alemanha, disfarçando-se de agricultor.

Depois disso, ele veio até o Brasil, onde viveu até sua morte, em 7 de fevereiro de 1979, após sofrer um AVC e se afogar enquanto nadava no Distrito de Bertioga, em Santos, na época vivendo sob o nome de "Wolfgang Gerhard" — sendo Mengele, por sua vez, um dos líderes nazistas mais procurados do mundo.

+ O médico brasileiro que testemunhou a morte do 'Anjo da Morte' de Hitler

Curiosamente, em seus últimos anos de vida, Mengele aparentemente se aposentou dos experimentos que fazia no regime nazista. Seus momentos finais foram registrados em diários. 

O segredo 

Anos após a morte de "Wolfgang Gerhard" — nome este inclusive gravado na lápide do antigo "anjo da morte" nazista —, foi só em 1985 que a polícia descobriu sua verdadeira identidade. Foram encontrados em sua casa, em Diadema, São Paulo, mais de 3 mil páginas de escritos que chamam a atenção, pois, entre eles, há "uma autobiografia que oferece uma janela para análise da mente criminosa."

Mengele escreveu livremente e não sentiu necessidade de se preocupar com a opinião pública, que condenou os seus atos. E assim seu tom geral foi sincero ao avaliar sua vida e seus atos", afirma o professor de literatura da Universidade de São Paulo (USP) Helmut Galle, autor de um estudo sobre os escritos do 'anjo da morte', à Revista Pesquisa.

De acordo com a Revista Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a autobiografia escrita por Josef Mengele possui 500 páginas e se trata de uma narrativa em terceira pessoa, descrita como uma ficção, que acompanha o protagonista Andreas, o alter-ego do nazista. O site pontua ainda que o livro foi produzido por Mengele com a intenção de transmitir "bons conselhos" ao filho e justificar seus atos — o mais assustador, é que ele se isenta de qualquer culpa.

"É doloroso ler esses escritos. Há um silêncio incômodo sobre as atividades durante a guerra e uma vaidade horrivelmente satisfatória sobre a inutilidade de sua infância e de sua vida depois que ele fugiu em 1945", explicou Galle.

Josef Mengele
Josef Mengele / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

O anjo da morte

Para descrever seu nascimento e batismo, Mengele utiliza-se de 74 páginas em seus registros. O que é um paradoxo, considerando-se que, em contraposição, são poucas as referências feitas aos judeus, os quais ele foi responsável pela aniquilação de milhões.

Uma das referências, no caso, são de uma conversa entre o personagem Andreas com um fazendeiro, que acusou o dinheiro judeu de ser a razão para o início da guerra. "Embora haja um grande exagero aqui, parte disso deve ser verdade", escreveu Mengele.

Ainda assim, esta guerra que o judaísmo internacional impôs à Alemanha tornou impossível uma solução pacífica para a questão judaica. E se estes acontecimentos ocorreram em tempos de guerra, assumiram formas bélicas, influenciados por situações gerais alteradas e não, em última análise, por reações psicológicas", escreveu o nazista.

Luta pela sobrevivência

Outro fato que chama atenção nos escritos do "anjo da morte" nazista, é que ele afirma com bastante certeza que a razão para os nazistas sobreviverem, e não os judeus, era que estes apenas sucumbiam à luta pela sobrevivência, sugerindo que eles seriam, na verdade, apenas "mais fracos"- o que não é verdade, vale destacar.

+ A história obscura de Shiro Ishii, o "Josef Mengele" japonês da Segunda Guerra

"Não há sinais de empatia nas 500 páginas do livro", afirma Helmut Galle sobre o conteúdo da autobiografia. "Somente o sofrimento do protagonista pode ser visto junto com as acusações daqueles que lhe causaram sofrimento. Pode-se presumir que ele não possuía essa função cerebral."

O pesquisador ainda descreve o que considera "uma das cenas mais marcantes do livro": quando o protagonista sonha ser um bebê, que está sempre dormindo ou gritando. "Mengele se considera inocente e justo; ele imagina que é aquilo que nunca aceitou em si mesmo e que quis destruir em suas vítimas: a criatura física, nua e indefesa."

Richard Baer, Josef Mengele e Rudolf Hoss, três comandantes de Auschwitz, em fotografia tirada de 1944 / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Outros apontamentos

Embora Mengele tenha adotado o Brasil como seu último recinto, o que é curioso considerando-se sua história de miscigenação, as crenças do nazista apenas se reafirmavam quando ele descrevia o país. Ele escreveu: "O Brasil é um país agradável para se viver, apesar da mistura de raças. Mas há muitas pessoas que, como eu, acreditam e simpatizam com o movimento nazista e a ideologia racial."

Outro grupo ao qual ele demonstra bastante desprezo nos escritos é das mulheres, e ainda defende um tipo de "controle de natalidade" em prol dos "mais fortes": "A biologia não aceita direitos iguais. As mulheres não devem ocupar cargos de alto nível e o seu trabalho deve basear-se no preenchimento de uma quota biológica. Mulheres com genes deficientes deveriam ser forçadas ao controle da natalidade através da esterilização."

"Nossa experiência com raças falhou, mas medidas drásticas devem ser tomadas para combater os excessos humanos. Os humanos devem tomar uma decisão sobre como sobreviver nos tempos modernos. Dado que a eugenia não teve sucesso a curto prazo, temos de encontrar outra solução igualmente radical", comenta ainda sobre o aumento do número de indivíduos no planeta.

Mengele também relembrou dos tempos em que estudava, aplicando comentários relacionados aos seus estudos de genética e antropologia da década de 1930 sobre como se dá o processo de seleção natural de indivíduos, mais uma forma de justificar sua crença nos valores nazistas:

Sabemos que a evolução controla a natureza por meio da seleção e do extermínio. Aqueles que não conseguirem aceitar estas regras de humanos mais capazes serão exilados ou levados à extinção. Humanos mais fracos não deveriam ser autorizados a se reproduzir. Esta é a única maneira de a humanidade existir e se sustentar."

No fim, ainda hoje é apavorante pensar na existência de uma potência política e militar desenvolvida sob as crenças do nazismo. Aparentemente, Josef Mengele morreu sem qualquer remorso verdadeiro pelas ações que tomou em sua vida e o extermínio que promoveu, dando jus à alcunha de "anjo da morte" de Auschwitz.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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