Em 1966, os Estados Unidos perderam uma bomba nuclear na Espanha
Aventuras Na História
Em 17 de janeiro de 1966, duas aeronaves militares das Forças Aéreas dos Estados Unidos sobrevoavam o território da Espanha quando se envolveram em um acidente fatal: elas colidiram uma contra a outra.
Uma deles era um bombardeiro de modelo B-52 e a outra era um avião tanque de modelo KC-135. O impacto se deu a 9.500 metros acima do solo e resultou na morte de 7 soldados entre os 11 que estavam a bordo das aeronaves.
Se o incidente é tão lembrado até hoje, porém, não é pelas vidas perdidas nesta fatalidade, e sim devido à carga do avião tanque: quatro bombas nucleares de hidrogênio.
Três das armas nucleares caíram sobre o terreno abaixo delas, a pequena cidade de Palomares, e uma se precipitou sob o mar mediterrâneo, a aproximadamente cinco quilômetros da costa espanhola.
Felizmente, elas não estavam armadas, motivo pelo qual não explodiram com o impacto. Vale apontar aqui que eram Bombas H, um tipo de bomba nuclear muito mais potente que aquelas que foram jogadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
Ainda assim, o episódio acabou deixando vestígios no local. Isso, pois, após um mal-funcionamento dos paraquedas, duas dessas bombas se espatifaram contra o chão de Palomares, espalhando por uma aérea considerável o seu conteúdo, que era feito de poeira de plutônio — um material altamente radioativo.
Desdobramentos
Após o acidente, o exército norte-americano realizou uma operação na cidade espanhola para tentar resolver o problema que haviam causado. Eles retiraram uma camada de solo de aproximadamente 7,6 centímetros de espessura, colocando-a em barris levados de volta para os EUA.
Apenas as regiões mais contaminadas receberam esse tratamento, porém, com parte do território afetado sendo deixado intocado — o que deixou a população de Palomares insatisfeita.
Em 2013, mais de quatro décadas depois, ainda havia pessoas da região denunciando a presença de "plutônio latente" em meio ao solo do local, conforme repercutido pela BBC em uma matéria daquele ano.
"A terra não pode ser movida lá porque o plutônio está latente no solo. Se perturbarmos o solo, o plutônio pode ser dispersado", explicou Carlos Sancho, um pesquisador que estimava ainda existirem entre 7 e 11 quilos de material radioativo no terreno onde caíram as duas Bombas H.
As especulações, aliás, são prejudicadas pelo fato do governo dos Estados Unidos nunca ter esclarecido qual a quantidade de plutônio dentro das bombas nucleares que derrubou. Era então a guerra fria, e informações a respeito dessas armas eram muito cobiçadas.
Tanto é que, a fim de recuperar a Bomba H que caiu no Mediterrâneo, as autoridades norte-americanas precisaram fazer uma busca extensa que durou quatro meses, envolveu 20 embarcações e custou cerca de 10 milhões de dólares.
Para dar uma ideia da quantidade de dinheiro que eles precisaram desembolsar a fim de reencontrar a arma nuclear, vale dizer que esta se tornou a operação de resgate mais cara da história das Forças Armadas estadunidenses até aquele momento.
O desenho dessas bombas era um segredo máximo. Quando eles estavam procurando, havia também navios espiões soviéticos circulando — e os soviéticos tinham tecnologia submarina", apontou Barbara Moran, que escreveu o livro "O dia que Perdemos a Bomba-H", ainda segundo o veículo.
Em anos recentes, houve rumores de que os governos da Espanha e dos Estados Unidos estavam firmando um acordo para a descontaminação de Palomares. Infelizmente, até março de 2023, ele ainda não havia sido completado, segundo repercutiu a AP na época.