'Era Trump' traz à tona antiga discussão: Istambul ou Constantinopla?

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Desde que retornou à Casa Branca, Donald Trump tem causado polêmica ao mudar nomes históricos e geográficos de locais em todo o mundo. A mais polêmica dessas modificações foi a troca do nome do Golfo do México para "Golfo da América" e do Monte Denali de volta para "Monte McKinley".
Embora tais ações possam parecer apenas simples questões de nomenclatura, elas têm gerado discussões profundas sobre a maneira como os nomes carregam o peso de identidades, histórias e narrativas políticas.
A mudança mais recente gerou uma onda de apoio de seus seguidores, que expandiram a lista de locais a serem renomeados. Um dos alvos dessa campanha foi a maior cidade da Turquia: Istambul. Inspirados pela política de Trump, muitos internautas republicanos começaram a usar o lema "Make Istanbul Constantinople Again" nas redes sociais.
A hashtag, que é uma brincadeira com o slogan de Trump de "Make America Great Again", defende que Istambul volte a ser chamada Constantinopla, nome original da cidade antes de sua modernização pela República da Turquia, em 1930.
Istambul ou Constantinopla?
A mudança de nome de Istambul remonta à era do Império Otomano, que conquistou a cidade em 1453, até a fundação da República da Turquia, após a Primeira Guerra Mundial. O objetivo da troca de nome foi simbolizar a ruptura com o império decaído e a ascensão de um novo país moderno, com um olhar voltado para o futuro.
Mas, para muitos, a ideia de reverter a cidade para seu nome histórico parece refletir um desejo de reviver uma era gloriosa, ligada ao passado cristão bizantino da cidade, que foi originalmente fundada como Constantinopla pelo imperador romano Constantino, em 324.
Especialistas, como a professora de Relações Internacionais Dominique Marques, da UFRJ, apontam que a questão dos nomes vai muito além de uma simples mudança de etiqueta. "Os nomes carregam identidades, e trocá-los é uma forma de reescrever a história. Eles refletem as narrativas que um povo quer contar sobre si mesmo", disse ao UOL.
Soft Power
Para ela, o pedido de renomeação de lugares como Istambul e o Golfo do México não é apenas uma questão de nostalgia ou descontentamento com o presente, mas uma estratégia de poder sutil, chamada de "soft power".
Essa ideia de "soft power" se manifesta quando um grupo usa a mudança de nome como ferramenta para influenciar a percepção de outros países ou populações sobre o domínio e a identidade de uma região.
Por exemplo, se a mudança do Golfo do México para "Golfo da América" se consolidar, daqui a 50 anos, as gerações mais novas poderão ser ensinadas que o Golfo é, de fato, uma região dominada pelos Estados Unidos.
Além de sua relevância geopolítica, as trocas de nomes também refletem tensões culturais e religiosas, como a disputa entre Grécia e Turquia sobre a cidade de Constantinopla.
Para os gregos, a cidade ainda carrega um simbolismo profundo, sendo chamada de Constantinopla até hoje em documentos oficiais da Igreja Ortodoxa Grega e em textos históricos. A troca de nome, portanto, não é vista como algo meramente técnico, mas como parte de uma longa disputa por identidade e legado entre os dois países.


