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Execução da tirania: Há 17 anos Saddam Hussein era enforcado
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Execução da tirania: Há 17 anos Saddam Hussein era enforcado

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Aventuras Na História
30/12/2023 03h00
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©Getty Images
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Cruel, tirano e autor de diversos crimes contra a Humanidade, o governo ditatorial estabelecido por Saddam Hussein no Iraque também perseguiu minorias étnicas, religiosas e opositores. 

Além do culto à sua imagem, o déspota também promoveu o uso do terror como máquina de controle público. Dados da Human Rights Watch apontam que seu regime de perseguição e tortura causou a morte de, pelo menos, 250.000 iraquianos

Por esse motivo, Saddam foi descrito pelo The Economist como "um dos últimos grandes ditadores do século 20, mas não menos importante em termos de egoísmo, crueldade ou vontade mórbida de poder."

A crueldade de seu governo também esteve envolvida em dois importantes conflitos: a Guerra do Irã-Iraque (1980-1988) e a Guerra do Golfo (1990-1991). O primeiro deles recebeu amplo apoio norte-americano, como forma de tentar impedir o crescimento da ideologia xiita no Oriente Médio por meio da figura do líder conservador aiatolá Ruhollah Khomeini

A invasão durou oito anos, resultando em mais de um milhão de mortes e diversos prejuízos financeiros às duas nações — sendo que nenhuma delas saiu vitoriosa da guerra. Após o episódio, Hussein passou a criar inimizades com outro país vizinho: o Kuwait.

Fotografia de Saddam Hussein/ Crédito: Getty Images

Os entreveros, que iam desde desavenças financeiras até questões sobre a exploração do petróleo, resultou na invasão do Kuwait em 2 de agosto de 1990. O Iraque passava a ser uma ameça às pretensões dos Estados Unidos no Oriente Médio — e todo inimigo da América precisaria ser neutralizado. 

Assim, há pouco mais de 20 anos, em 20 de março de 2003, os Estados Unidos invadiu o Iraque para colocar um ponto final nesta história. Saddam Hussein acabou capturado em 13 de dezembro de 2003, durante a Operação Red Dawn; sendo executado há exatos 17 anos, em 30 de dezembro de 2006. 

+ Queda do Ás de Espadas: Os 20 anos da captura de Saddam Hussein

"Saddam Hussein, assim como Osama Bin Laden anos depois, foi um símbolo a ser entregue como justificativa para as ações norte-americanas nos anos anteriores. Depois de tantas promessas de que o país caçaria os inimigos dos EUA, sua captura, julgamento e execução foram um gesto de satisfação diante do mundo e, em especial, para os próprios americanos", aponta Tanguy Baghdadi, co-fundador e co-host do podcast Petit Journal, em entrevista a equipe do site do Aventuras.

Últimos passos

O fato é que a Guerra do Golfo balançou as relações políticas outrora mantidas entre o Iraque e os Estados Unidos. Com isso, a país do Oriente Médio não só sofreu uma série de sanções como se tornou alvo de diversos ataques durante os anos 1990.

A situação ficou insustentável depois dos Ataques Terroristas de 11 de Setembro de 2001, quando os Estados Unidos decidiu a agir mais efetivamente para a derrubada de tradicionais ditaduras no Oriente Médio. 

Em 2002, os EUA começam a construir uma estratégia para retirá-lo do poder e instituir um governo mais afável aos interesses americanos. O governo de George W. Bush inclui o Iraque no chamado 'Eixo do Mal' e passa a acusar Saddam Hussein de manter armas de destruição em massa", contextualiza Tanguy

"O detalhe importante é que os EUA não tinham provas da existência de tais armas", salienta, apontando, entretanto, que a aposta até que fazia sentido, visto que os próprios EUA tinham cedido armas químicas para o Iraque durante a guerra contra o Irã. "As armas, no entanto, nunca foram encontradas, o que indica que o país já havia se desarmado".

A alta cúpula do governo norte-americano também passou a lançar acusações infundadas de que Hussein teria ligações com a Al-Qaeda, algo jamais comprovado. "Os anos pós-11 de Setembro, tornaram-se o momento propício para que os EUA combatessem seus velhos inimigos, em um grande acerto de contas. Os EUA já tinham invadido o Iraque em 1990, na Guerra do Golfo, mas não derrubaram Hussein", salienta o co-fundador e co-host do podcast Petit Journal.

Sendo assim, para combater uma das nações do chamado 'Eixo do Mal', Bush liderou uma invasão ao Iraque iniciada em 20 de março de 2003. As tropas norte-americanas desmantelaram as forças iraquianas em semanas e, após a queda de Bagdá, iniciou-se a busca por Saddam Hussein

Através da Operação Red Dawn, Hussein acabou sendo capturado em 13 de dezembro de 2003. Na ocasião, ele estava escondido em um buraco no chão perto de uma fazenda em ad-Dawr, perto de Tikrit (ao norte do país).

O ditador do Iraque foi transportado para uma base americana na região antes de ser levado até Bagdá. Documentos divulgados pelo Arquivo de Segurança Nacional detalham entrevistas e conversas do FBI com Saddam enquanto ele estava sob custódia dos EUA — além da divulgação de vídeos e imagens. 

Saddam Hussein após ser capturado/ Crédito: Getty Images

Apesar da barba cheia, os cabelos longos e as vestes maltrapilhas, o ditador foi considerado em bom estado de saúde. Julgado por crimes contra a Humanidade, Saddam Hussein foi condenado à morte por enforcamento, algo sacramentado em 30 de dezembro de 2006, há exatos 17 anos, quando ele tinha 69 anos. 

"A queda de Saddam Hussein, eu interpreto ela como iconográfica", diz Rodrigo Rainha, historiador e professor da Estácio. "Ela é linda nesse sentido de você pensar que ele caiu algumas vezes: ele cai ao ser mostrado no buraco fragilizado; ele cai ao ter seu palácio em Bagdá bombardeado; ele cai ao ver a população derrubando a sua estátua; ele cai diante da forca na frente de todos". 

Há um elemento iconográfico, de alguma maneira ela representaria uma resposta, um avanço a ser de vingança, que depois vai ser rematerializado com a morte do Bin Laden, por exemplo. Ela responde a um anseio de resposta que não necessariamente é o fim das dinâmicas políticas, muito pelo contrário", continua. 

O julgamento e execução

Mantido sob custódia, Saddam Hussein começou a ser julgado, em 30 de junho de 2004, pelas forças dos EUA na base dos EUA Camp Cropper (instalação em Bagdá), junto de outros 11 líderes do Ba’ath

Considerado culpado por crimes contra a Humanidade, Hussein acabou condenado à morte por enforcamento em 5 de novembro de 2006. Importante ressaltar que a forma que se deu seu julgamento é contestada até hoje — principalmente no que diz respeito à legitimidade da corte encarregada de julgá-lo; algo contestado por advogados iraquianos e famílias que perderam parentes enquanto Hussein esteve no poder.

"Como pode você me julgar numa corte instaurada pelas forças de ocupação?", chegou a questionar o próprio ditador a um juiz de instrução em uma audiência realizada em 1º de julho de 2004. 

As críticas vêm do fato de que seu julgamento foi iniciado com a certeza do resultado final. Não há dúvidas de que Saddam Hussein era culpado nos crimes cometidos contra importantes grupos do seu país, como a maioria xiita e a minoria curda. Mas o julgamento se deu em um ambiente midiatizado e sem direito a ampla defesa", aponta Tanguy.

Outro ponto de controversa foi sua execução em 30 de dezembro de 2006 — data em que se celebra o primeiro dia do Eid ul-Adha (ou a Festa do Sacrifício), dia sagrado de confraternização para os muçulmanos. 

Saddam Hussein momentos antes de ser executado/ Crédito: Getty Images

Na Arábia Saudita, onde está localizada a cidade sagrada muçulmana de Meca, um apresentador da estação de televisão oficial al-Ikhbariya interrompeu a programação programada para declarar: "Há um sentimento de surpresa e desaprovação pelo fato do veredito ter sido aplicado durante os meses sagrados e os primeiros dias do Eid al-Adha. Os líderes dos países islâmicos deveriam mostrar respeito por esta ocasião abençoada... e não menosprezá-la". 

Por fim, o vídeo da execução de Saddam Hussein acabou sendo gravado por um celular. Nas imagens, que acabaram viralizando na internet em poucas horas, é possível ouvir seus executores insultando o ex-ditador iraquiano.

O comportamento de Saddam ao ser levado à forca também foi discutido por Muafak al-Rubaie, ex-conselheiro de segurança nacional do Iraque que testemunhou os momentos finais do líder autoritário."Não vi nenhum sinal de medo", disse em entrevista à época. 

Claro que alguns gostariam que eu dissesse que desmaiou ou que estava drogado, mas esta é a verdade histórica. [...] Era um criminoso? Era. Um assassino? Certo. Um carniceiro? Certo. Mas foi forte até o fim [...] Não ouvi um pingo de arrependimento de sua parte, não o ouvi implorar misericórdia a Deus, ou pedir perdão." 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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