Há 5 anos, detalhe oculto fascinante era revelado em quadro do século 17
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Embora o quadro 'Moça com o Brinco de Pérola', de Johannes Vermeer, seja descrito como a 'Mona Lisa do Norte', o pintor holandês morreu no esqueciment, em dezembro de 1675.
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Um dos principais motivos é que Johannes jamais havia alcançado grande sucesso quanto seus contemporâneos, como Rembrandt, por exemplo. Como recorda a BBC, Vermeer era apenas mais um dos artistas da Idade de Ouro Holandesa.
Além do mais, ele não era tão prolífico quanto os outros: produziu 60 obras durante sua vida. Ainda usando Rembrandt como exemplo, o pintor foi responsável por cerca de 760 quadros. A diferença é gritante.
Por isso, Vermeer sequer foi referenciado nos livros sobre a pintura holandesa no século 17, só fora reconhecido mais cem anos depois de sua morte — em um processo que começou no fim da década de 1790 e durou até a primeira metade dos anos de 1840.
Apesar desse 'apagamento' que sofreu, e da poucas quantidades de obras, Johannes Vermeer guarda seus segredos. Uma de suas pinturas, além disso, levou consigo um mistério escondido por séculos.
O caso só começou a ser desvendado no final dos anos 1970 e uma resposta final só foi dada em meados de 2018 — o que mudou consideravelmente a interpretação da obra.
Um de brinde
Em 1742, Augusto, o Forte, príncipe da Saxônia e rei da Polônia, havia acertado a compra de 30 pinturas da coleção particular do príncipe de Cariñena em Paris para seu acervo pessoal. Com o alto valor investido, ainda ganhou um quadro de brinde.
A pintura mostrava uma jovem loira em seu quarto perto de uma janela que emanava luz para o cômodo. Em suas mãos, segurava uma carta. Mas o que dizia a missiva? Esse não era o grande mistério em torno da obra de Rembrandt. Pelo menos foi isso que se pensou naquele momento.
A única certeza sobra a origem do quadro, porém, é que tinha sido feito por um gênio. Um verdadeiro artista. A 'Moça lendo uma carta à janela', como a obra passou a ser chamada, só apareceu em um inventário anos depois, em 1747 — descrito, naquela ocasião, de um novo jeito: uma pintura "ao modo Rembrandt". Anos depois, aponta a BBC, sua autoria foi atribuída a outros artistas que frequentavam a escola de arte do holandês.
Em 1859, o historiador de arte e crítico francês Théophile Thoré estudou a pintura e confirmou que se tratava de uma representação feita por Vermeer — que inclusive havia assinado a tela.
Mas engana-se quem acredita que o grande mistério em torno de Moça lendo uma carta à janela se resume a isso. O segredo vai além. Pessoas passaram a notar um detalhe um tanto quanto chamativo: na parede ao fundo da mulher retratada havia sombras, como se um quadro estivesse pendurado por lá. Era comum que pinturas aparecessem dentro de outros quadros. Vermeer, aliás, já havia feito isso. Mas o que significava aquilo?
Em busca do segredo
O grande mistério só começou a ser esclarecido em meados de 1979. Naquele ano, um estudo com radiografia constatou que, de fato, havia uma imagem oculta na parede. Um quadro de um cupido nu havia sido apagado do espaço. Mas por qual motivo?
Há quem diga que a 'exclusão' do elemento se deu para tirar o erotismo da obra; ou apenas um mero capricho. Quem sabe? Será que o próprio Vermeer se arrependeu do cupido nu?
A última suposição não seria uma loucura, visto que análises no quadro ainda apontaram que o holandês havia feito três versões diferentes de sua composição final. Através de raios-x, uma delas destacou uma taça de vinho entre o espaço da beirada frontal da mesa e a borda inferior da pintura, por exemplo.
Assim surgiu um grande ponto: se, de fato, Johannes Vermeer havia decidido ocultar o elemento na parede, ninguém tinha o direito de se voltar contra sua vontade e resgatar o quadro dentro do quadro.
A questão se tornou ainda maior em 2017, quando se iniciou a avaliação do projeto para restaurar a 'Moça lendo uma carta à janela'. Após removerem a camada de verniz do século 19, os especialistas descobriram que as "propriedades de solubilidade" na parte central da parede não eram as mesmas do restante da tela. Além disso, existiam camadas de agentes aglutinantes e sujeira entre a representação do cupido e a superfície do quatro.
Ou seja, várias décadas se passaram entre o momento que Vermeer terminou a obra e a exclusão do elemento. Aquilo fora feito após a sua morte, portanto, contra sua vontade.
No ano seguinte, a instituição Staatliche Kunstsammlungen Dresden decidiu remover a camada pintada por cima da tela original. Com um trabalho minucioso, o trabalho foi feito por profissionais que usaram um bisturi fino e um microscópio.
Embora o quadro com o cupido nu fosse tão grande quando a figura da jovem, ele não tirava seu protagonismo, muito pelo contrário, ajudava a contextualizar aquele momento. Qual era o conteúdo da missiva?
Até então, uma interpretação dada por Norbert Schneider, importante historiador de arte, é que a janela aberta seria um símbolo do mundo exterior, que o quadro representava o "desejo da moça de ampliar sua esfera doméstica".
Mas o cupido mudou tudo. Schneider passou a entender o escrito como uma carta de amor, mas não qualquer tipo de paixão. Um amor proibido e sincero — visto que a figura alada aparece pisando em máscaras no chão; que seriam a representação do engano e hipocrisia. O amor supera tudo!