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Igreja Cristã se apropriou de elemento islâmico durante a Idade Média, revela estudo
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Igreja Cristã se apropriou de elemento islâmico durante a Idade Média, revela estudo

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Aventuras Na História
05/02/2025 18h00
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https://timnews.com.br/system/images/photos/16456348/original/open-uri20250205-17-184j7w6?1738778793
©Federica Gigante
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As interações entre as religiões, especialmente entre o Islã e o Cristianismo, têm gerado conflitos ao longo da história. No entanto, uma pesquisa recente revelou um aspecto menos conhecido dessa relação: a apropriação de elementos islâmicos pela Igreja Cristã durante a Idade Média.

O estudo destaca a prática dos cristãos em "reutilizar" têxteis islâmicos ornamentados, como a vestimenta sacerdotal utilizada por Thomas Becket, um dos mais importantes bispos da Inglaterra.

A investigação se baseou na análise de um afresco com mais de 700 anos que retrata uma tenda islâmica em uma igreja italiana. Os pesquisadores observaram que os soldados cristãos frequentemente capturavam essas tendas de inimigos islâmicos no campo de batalha como parte dos espólios da guerra.

Além disso, essas tendas eram enviadas à Europa como presentes diplomáticos. Um exemplo notável é a tenda enviada ao primeiro imperador do Sacro Império Romano, Carlos Magno, pelo sultão Harun al-Rashid, figura célebre das histórias das Mil e Uma Noites.

O afresco

A redescoberta do afresco na igreja do convento beneditino de S. Antonio em Polesine, Ferrara, levou à investigação. O afresco exibe uma tenda luxuosa em azul e ouro, que pode ter sido um presente do Papa Inocêncio IV.

Essa tenda possivelmente estava posicionada sobre o altar, servindo como símbolo da vitória cristã sobre os adversários muçulmanos nas guerras medievais e também para ocultar o sacerdote das celibatárias irmãs.

A historiadora Dr. Federica Gigante, da Universidade de Cambridge e líder do estudo, afirmou: "Tendas, especialmente as reais islâmicas, eram considerados presentes valiosos nas trocas diplomáticas, símbolos reais proeminentes em acampamentos e espólios cobiçados nos campos de batalha", repercute o Daily Mail. 

Embora não haja certeza absoluta, ela sugere que uma figura de destaque como o Papa Inocêncio IV poderia ter sido responsável pelo presente da tenda.

Os tecidos islâmicos decorados eram tão valorizados que figuras importantes, incluindo santos e governantes, eram envoltas neles após a morte. Esses têxteis frequentemente apareciam em pinturas italianas da Virgem Maria e do Menino Jesus durante os séculos 13 e 14.

A tenda islâmica, muitas vezes adornada com joias, representava troféus importantes obtidos durante as vitórias nas guerras ibéricas entre o norte cristão e o sul muçulmano. Alguns autores destacam que essas tendas eram exibidas sobre altares para perpetuar a lembrança do "triunfo de Cristo" entre os fiéis.

O afresco, recentemente examinado após séculos sob camadas de pintura representando cenas da vida de Jesus e da Virgem Maria, ilustra uma tenda nas cores reais azul e dourada.

Esse desenho é semelhante à tenda ornamentada com pavões e elefantes que se acredita ter sido transformada na casula de Fermo — a famosa vestimenta usada por São Tomás Becket durante a missa nos anos que antecederam seu assassinato.

A tenda representada no afresco possui um altar enfeitado e inscrições decorativas em uma forma aproximada de árabe que lembra a palavra "Alá".

Os pesquisadores indicam que esses itens islâmicos foram simplesmente "readaptados" para o uso cristão. Louis IX chegou a enviar uma tenda islâmica que possuía ao neto do guerreiro Genghis Khan no século 13.

A pesquisa publicada na revista The Burlington Magazine sugere que uma figura influente como o Papa Inocêncio IV poderia ter enviado essa tenda valiosa ao convento beneditino de S. Antonio.

No entanto, também é possível que tenha sido um troféu de guerra; Gigante acrescentou: "As tendas entraram na Europa como espólio. Durante as expedições anti-islâmicas, era comum pagar mercenários com têxteis, sendo a tenda o prêmio máximo."

O afresco se alinha às descrições das tendas reais islâmicas que foram apreendidas durante as guerras de expansão cristã em al-Andalus no século 13.

A tenda pode ter sido parte das cortinas do altar, composta por quatro pedaços de tecido chamados "tetravela". Se a tenda era utilizada apenas em ocasiões especiais como a Quaresma, o afresco pode ter sido pintado para lembrar aos fiéis sua esplendor em outros momentos.

"Muitas pessoas não percebem quão extraordinariamente avançada e admirada era a cultura islâmica durante o período medieval", finaliza a pesquisadora.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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