Joe Biden recorda legado doloroso da escravidão americana em visita a Angola
Aventuras Na História
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fará um discurso na terça-feira, 3, no Museu Nacional da Escravatura em Angola, abordando a história do país em relação à escravidão. Durante sua visita, Biden também deve destacar os recentes investimentos norte-americanos na região.
+ Escravidão mascarada: as inacreditáveis leis de Jim Crow, nos EUA
O museu, que abriga a Capela da Casa Grande do século 17, foi um local onde pessoas escravizadas eram forçadamente batizadas antes de serem enviadas através do Atlântico. Entre os séculos 16 e 19, aproximadamente 4 milhões de angolanos foram escravizados nas Américas, com a maioria indo para o Brasil.
Em 1619, os primeiros africanos escravizados nos Estados Unidos foram transportados de Angola para Hampton, na então colônia britânica da Virgínia. Dados do banco de dados Slave Voyages indicam que quase um quarto das 472 mil pessoas escravizadas nos EUA vieram da região ocidental e central da África, incluindo Angola.
Passado escravagista
Fundado em 1977 na antiga propriedade de Álvaro de Carvalho Matoso, um dos maiores traficantes de escravos africanos do século 18, o Museu Nacional da Escravatura é um símbolo importante dessa história. Na segunda-feira, dia em que Biden chegou a Angola, os EUA anunciaram uma doação de US$ 229 mil para apoiar a restauração e conservação do museu. Além disso, apoiaram a candidatura de Angola para que o corredor do Kwanza seja declarado patrimônio mundial pela Unesco.
Em comunicado oficial, a Casa Branca afirmou: "Compartilhamos o compromisso de lidar com a terrível história do comércio transatlântico de pessoas escravizadas ao reconectar culturas e celebrar a colaboração entre nossas nações... Hoje, há quase 12 milhões de americanos descendentes de angolanos."
Nos últimos anos, a história colonial de Portugal em relação à escravidão tem sido mais examinada. Portugal iniciou a colonização de Angola em 1575 com Paulo Dias de Novais estabelecendo Luanda. Estima-se que quase 6 milhões de africanos tenham sido escravizados pelos portugueses, representando quase metade das pessoas traficadas para as Américas.
Em abril, o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu os crimes cometidos durante o período colonial e sugeriu reparações, o que gerou críticas dos partidos conservadores portugueses. O presidente angolano João Lourenço declarou que não buscará reparações junto a Portugal, considerando impossível compensar o passado.
Biden em Angola
Na quarta-feira, Biden visitará o porto de Lobito para promover investimentos ocidentais em infraestrutura ferroviária e portuária, destinados a facilitar o transporte de minerais necessários para baterias e carros elétricos da República Democrática do Congo e Zâmbia via Angola.
Analistas veem isso como uma tentativa tardia dos EUA e aliados para competir com os investimentos chineses no continente. No entanto, tanto os EUA quanto Angola evitam enquadrar essa iniciativa dessa forma. Lourenço declarou feriados nacionais em 3 e 4 de dezembro em homenagem à visita de Biden e reafirmou que o país não se aliará exclusivamente aos EUA ou à China.
John Kirby, conselheiro de comunicações da segurança nacional da Casa Branca, afirmou que "não estamos pedindo aos países que escolham entre os EUA e Rússia ou China. Estamos buscando oportunidades de investimento confiáveis, sustentáveis e verificáveis". Ele também expressou esperança de que Donald Trump reconheça o valor do corredor de Lobito.