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Mãe, historiadora e exterminadora de nazistas: conheça Lyudmila Pavlichenko
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Mãe, historiadora e exterminadora de nazistas: conheça Lyudmila Pavlichenko

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Aventuras Na História
27/02/2025 22h00
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Uma verdadeira máquina de matar. Quando tinha apenas 25 anos, a tenente do Exército Vermelho de Moscou, Lyudmila Pavlichenko, já era considerada a franco-atiradora mais bem-sucedida da história. A essa altura, havia sido responsável por 309 mortes — a maior parte de soldados nazistas de Adolf Hitler. 

Em agosto de 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial, Pavlichenko chegou como heroína em uma visita a Washington, onde foi rebebida na Casa Branca pelo presidente Franklin D. Roosevelt

'A Dama da Morte' (Bertrand Brasil),
'A Dama da Morte' (Bertrand Brasil),

Sua história de vida inspirou o romance 'A Dama da Morte' (Bertrand Brasil), escrito por Kate Quinn. O romance histórico imagina o lado humano da franco-atiradora; que ainda estudava para ser historiadora e era mãe solo. 

Enquanto dividia seu tempo entre os cuidados de seu filho pequeno e sua dissertação, Lyudmila Pavlichenko viu sua vida mudar quando a União Soviética é invadida pelos alemães. Com isso, ela decide atender o chamado e lutar por seu país.

"Lyudmila Pavlichenko era uma mulher muito calorosa, inteligente e espirituosa! Ela era uma amiga dedicada, uma mãe amorosa, uma filha afetuosa, uma estudante disciplinada e uma nerd descarada — ela amava história e não queria nada mais do que ser historiadora", conta Kate Quinn em entrevista à equipe do site Aventuras na História. 

A franco-atiradora

Conforme aponta matéria da BBC, Lyudmila Pavlichenko teve seu primeiro contato com armas aos 14 anos, quando vivia em Kiev — cidade que sua família se mudou após saírem da pequena Bélaia Tsérkov (também na atual Ucrânia). 

Seu pai era um soldado, e é claro que ela o admirava muito", contextualiza Quinn sobre o interesse de Pavlichenko por armas. 

"Ela se envolveu em um clube de tiro recreativo quando jovem e ia ao campo às vezes com amigos. Ela estava interessada o suficiente em tiro para se inscrever em um curso avançado de pontaria, mas claramente nunca esperava usar suas habilidades em nada além de alvos de alcance".

Quando os nazistas romperam o pacto de não-agressão e invadiram a União Soviética, em 1941, Lyudmila decidiu abandonar seu curso de história, na Universidade de Kiev, e se alistar no Exército. 

No começo, porém, acabou rejeitada, mas foi aprovada após passar por uma espécie de audiência para entrar no Exército Vermelho — onde ingressou na divisão de fuzileiros. 

A franco-atiradora participou de frente de batalhas na Grécia e também na Moldávia. Ela ainda atuou na Batalha de Odessa e na Batalha de Sebastopol. Este último conflito, aliás, ficou marcado por Pavlichenko ter se ferido em diversas ocasiões, como quando estilhaços se instalaram em seu rosto após os alemães bombardearem sua posição. 

"Lyudmila acumulou sua contagem de mais de 300 inimigos mortos enquanto lutava em duas campanhas brutais contra Hitler. Ela foi ferida e evacuada de Sebastopol antes de cair, e o escritório de propaganda soviético decidiu que uma soldado de sua reputação era valiosa demais para ser arriscado no campo novamente", conta a autora. 

Assim, em vez de voltar para combate, onde os alemães poderiam matá-la e usar sua morte como propaganda, os soviéticos decidiram cimentar a reputação da franco-atiradora e enviá-la para missões de boa vontade na América, Canadá e Inglaterra.

Lyudmila Pavlichenko lutou nas defesas de Odessa e Sebastopol — ambas campanhas brutais que ela chamou de batismo de fogo. Como palestrante na turnê da boa vontade na América, ela ajudou a dar visibilidade às terríveis perdas do Exército Vermelho, que estava lutando contra grande parte das forças de Hitler na frente oriental", explica Quinn.
A franco-atiradora Lyudmila Pavlichenko - Domínio Público

Amizade com a primeira-dama

Quando Lyudmila Pavlichenko foi enviada aos Estados Unidos, ela se tornou a primeira cidadã soviética a ser recebida por um presidente, neste caso, Franklin D. Roosevelt, aponta o The Smithsonian.

"Na época de sua visita, os Estados Unidos e a URSS eram aliados, mas os americanos consideravam os soviéticos com cautela, graças à desconfiança nacional desenfreada do comunismo", contextualiza a autora.

"Além disso, o presidente Roosevelt estava lutando contra facções internas que acreditavam que os Estados Unidos deveriam limitar a ajuda ao teatro europeu e se concentrar na guerra com o Japão". 

Porém, conforme a franco atiradora ficava cada vez mais popular no país, ajudou a criar um 'rosto humano' nos soviéticos, o que auxiliou o presidente Roosevelt em sua campanha para enviar ajuda americana à Europa.

Além disso, quando esteve na Casa Branca, Lyudmila Pavlichenko acabou criando uma amizade improvável com a primeira-dama Eleanor Roosevelt — que a convidou para fazer uma turnê relatando suas experiências como uma mulher soldado na linha de frente da guerra.

Pavlichenko com Eleonor Roosevelt e o o juiz Robert Jackson - Domínio Público

Kate Quinn destaca que a relação entre Lyudmila e Eleanor sempre foi muito calorosa e sincera, não importa o quão improvável possa parecer. "Eleanor Roosevelt tinha o dom de sair do tremendo pedestal de poder e privilégio em que vivia e fazer amizade com pessoas de origens e experiências muito diferentes", destaca. 

A ideia de que ela colocaria uma jovem ucraniana cansada da batalha sob sua asa e a ajudaria a encontrar seus pés no centro das atenções de um país estranho está absolutamente no personagem!".

Em contrapartida, aponta a autora, a franco-atiradora admirava o calor da primeira-dama, e também sua inteligência e compromisso na luta pelo avanço-social. "Ela registra muitas de suas conversas e interações interessantes em suas memórias. As duas continuaram a se corresponder depois que Lyudmila deixou os Estados Unidos". 

"Elas tiveram a chance de se encontrar novamente cerca de quinze anos depois na Rússia, quando Eleanor estava em uma turnê de boa vontade por conta própria, e aparentemente se cumprimentaram com abraços e risos", conta Quinn.

Uma lenda forjada? 

Apesar de sua importância no front de batalha, muitos especialistas e pesquisadores duvidam da proficiência de Pavlichenko — apontando que, na verdade, ela poderia ter sido uma lenda forjada pela União Soviética.

Kate Quinn, no entanto, contesta essa visão. "Porque sempre há aqueles que aproveitam a oportunidade para derrubar uma mulher espetacularmente bem-sucedida?", questiona a autora de 'A Dama da Morte'. 

"É verdade que provavelmente há partes do registro de Lyudmila que foram exageradas ou embelezadas pela máquina de propaganda soviética. Mas não há dúvida de que havia muitas mulheres atiradoras no Exército Vermelho — cerca de duas mil, muitas delas altamente condecoradas. Isso sem mencionar ainda mais mulheres soviéticas que serviram bravamente como pilotos de caça, pilotos de bombardeiros e motoristas de tanques. Suas histórias são surpreendentes, sem qualquer necessidade de embelezamento de propaganda".

Quando a guerra terminou, Pavlichenko terminou seu curso de historiadora. Entre 1945 e 1953, ela atuou como assistente de pesquisa na sede da Marinha Soviética. Mais tarde, ela foi ativa no Comitê Soviético de Veteranos de Guerra. 

"Ela se aposentou um pouco cedo de sua posição como pesquisadora do quartel-general da Marinha Soviética — ela tinha problemas de saúde contínuos devido a antigos ferimentos de guerra —, mas permaneceu ativa em seu trabalho com e para veteranos de guerra, defendeu meninas no esporte de tiro competitivo e escreveu um livro de memórias de seus anos de guerra. Ela se casou novamente, permaneceu uma heroína nacional, era próxima de seu filho e de sua nora e, aparentemente, também era uma avó dedicada", completa Quinn.

Lyudmila Pavlichenko morreu vítima de um derrame em 10 de outubro de 1974, quando tinha 58 anos. Ela foi enterrada no Cemitério Novodevichy em Moscou. Seu filho, Rostislav, está enterrado ao seu lado.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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