Mandíbula de Caim: O quebra-cabeça literário que fascina gerações
Aventuras Na História
Uma das coisas que mais fascina a humanidade, há séculos, é um bom mistério. Seja no cinema, video-games, séries ou em livros, uma história bem contada com viradas surpreendentes e de cunho investigativo sempre desperta a curiosidade das pessoas, que logo se envolvem e querem descobrir mais e mais, até solucionar o caso.
Porém, no início da década de 1930 — ou seja, há quase um século! — um homem chamado Edward Powys Mathersmudou o mundo dos mistérios. Um compilador de palavras cruzadas nato, ele decidiu escrever um mistério policial com seis assassinatos entrelaçados em uma história de 100 páginas: 'A Mandíbula de Caim'.
Porém, o livro possui uma peculiaridade que apenas esse formato permite: as páginas dessa história foram impressas aleatoriamente. Dessa forma, não somente a narrativa, como também a ordem dos fatos se tornou um mistério, que envolve cada vez mais todos os leitores que se arriscam em organizar os acontecimentos.
O início do mistério
'A Mandíbula de Caim' foi finalmente publicado em 1934, mas sua importância para a literatura ainda estaria apenas começando. Apaixonado por enigmas, Edward Powys Mathersdesafiou a todos que se arriscassem em sua história a desvendar a ordem em que as páginas foram escritas originalmente.
"Existe uma ordem inevitável, aquela em que as páginas foram escritas", alerta a obra original; porém, aquilo viria a se tornar um dos quebra-cabeças literários mais difíceis de todos os tempos.
A tarefa imposta é simples, o problema é sua execução: além de organizar a história, é preciso adivinhar, também, quem foram as seis vítimas da história e seus respectivos assassinos. Até hoje, somente três pessoas são conhecidas por conseguirem realizar a façanha.
Dessas três, duas delas completaram o desafio ainda na época em que foi publicado, quando Torquemada — pseudônimo utilizado por Edward Powys Mathers — lançou o desafio com o prêmio de 25 libras para quem o concluísse. No entanto, logo após isso, o livro saiu de circulação e foi quase perdido para sempre, até que voltasse à tona novamente, só em 2016.
Mistério em novos tempos
Foi neste ano que o museu inglês Laurence Sterne Trust recebeu um exemplar de 'A Mandíbula de Caim' e, com isso, promoveu um resgate do mistério. Então, em 2019, conforme matéria da revista Veja, a instituição se aliou à Unbound, uma editora independente, e lançou o novo desafio.
Nele, as páginas foram enviadas a quem comprasse a obra em uma caixa, e quem entregasse as respostas, de acordo com os mesmos requisitos do passado, receberia um prêmio no valor de mil libras — o que, na cotação atual, seria equivalente à cerca de R$ 6.400,00.
Ao todo, doze pessoas tentaram, mas somente o escritor inglês John Finnemore foi bem-sucedido na tarefa, sendo a terceira pessoa a ter conseguido completar o desafio.
Mas, como hoje vivemos em uma era digital, é mais difícil que obras assim sejam perdidas, e tudo pode ser resgatado com uma pequena viralizada no Twitter ou TikTok. Exatamente assim foi que o livro se tornou uma febre novamente, no fim de 2021, quando a jovem estadunidense Sarah Scannell publicou, em seu TikTok, um vídeo tentando solucionar o mistério.
Depois disso, uma grande onda de pessoas começou a se mobilizar para tentar desvendar os segredos da história, de forma que a hashtag '#cainsjawbone' bombasse e a editora norte-americana lançasse uma nova impressão, com o fim dos exemplares.
E no Brasil?
No Brasil, 'A Mandíbula de Caim' foi publicado pela editora Intrínseca, tendo como objetivo o mesmo: desvendar a sequência das páginas e o próprio mistério policial. Na nossa edição, as páginas são destacáveis e é necessário o envio de uma folha de respostas, que vem com a mesma, à editora, por aqueles que tentarem resolvê-lo.
O gabarito está guardado a sete chaves e com acesso restrito. Os poucos que sabem as respostas tiveram de assinar um acordo de confidencialidade", explica o editor Lucas Telles.
Porém, embora o país também seja berço de grandes mentes, até hoje nenhum brasileiro conseguiu solucionar 'A Mandíbula de Caim'. Porém, não por falta de tentativa: imortal da Academia Brasileira de Letras, o escritor Marco Lucchesi, de 59 anos, tenta desvendar a história desde sua republicação em inglês.
"Esse livro jamais termina. Há quatro anos adentrei a narrativa. Já não consigo, nem pretendo, abandoná-la", escreve o poeta na apresentação da obra.