Museu do Ipiranga veta distribuição de quadrinhos que criticam Bolsonaro
Aventuras Na História
O Museu do Ipiranga vetou recentemente a distribuição de uma história em quadrinhos a seu público, a qual faz referências a políticas bolsonaristas em tom de crítica. Apoiada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a HQ foi produzida pelo Instituto Ciência na Rua.
Criada pelo historiador da USP João Paulo Pimenta, junto às artistas Ana Cardoso e Hyna Crimson e ao roteirista Igor Marques, a obra 'Contra Tempo – Uma Viagem de Duzentos Anos' tem como protagonista Bia, uma estudante de história que vive em "um lugar distópico dominado pela violência e pela ignorância".
Assim, a personagem viaja para um Brasil do passado, em busca de respostas para a sua realidade e presenciando momentos históricos, conforme informado pela Folha de São Paulo.
Em meio a essa viagem, ela chega à "rua Coronel Ustra", a qual está repleta de policiais e igrejas evangélicas. No mesmo logradouro há ainda uma loja de armas e um painel que diz: "Deus, armamento e liberdade!", acompanhado da figura de um homem branco que faz sinais de armas com as mãos.
Vetada pela comissão do museu
A passagem foi o suficiente para que a obra fosse vetada pela Comissão de Cultura e Extensão do Museu do Ipiranga.
A HQ é construída com referências bastante explícitas e críticas à atual gestão do governo federal e a grupos religiosos. Há menções, por exemplo, às 'Igreja Deus é Amor' e 'Congregação Cristã do Brasil', além de uma ilustração de Jair Bolsonaro", aponta um parecer.
"Não estamos entrando no mérito em relação à concordância conceitual da equipe de educação sobre a proposta do material, mas entendemos que o Museu não tem se posicionado de forma tão enfática em outros espaços de comunicação, buscando evitar eventuais pontos de tensão com a atual gestão federal", continua o texto.
Por fim, o parecer indica que, no futuro, uma outra abordagem poderá ser dada ao material, como por exemplo uma leitura mediada por professores, "mas não nesse momento".
Segundo o museu, a decisão não foi tomada por receio de represália do governo federal, mas porque a instituição acredita que não deve tomar partido, por ser voltada à educação e à cultura.
O que sugerimos não foi um veto à publicação, mas que sua distribuição se desse de maneira mediada, em um ambiente onde fosse possível propor um debate e uma contextualização da proposta", disse o museu, em nota.