O homem que presenciou e fotografou o bombardeio de Hiroshima há 78 anos
Aventuras Na História
Existem muitas informações a respeito do que aconteceu com Hiroshima em 6 de agosto de 1945, quando a bomba atômica Little Boy (“Garotinho”, em tradução livre), desenvolvida pelos Estados Unidos, explodiu sobre a cidade japonesa.
Uma bola de fogo tomou o céu, produzindo uma nuvem de fumaça e destroços em formato de cogumelo. A destruição causada pelo calor e pela onda de choque se estendeu por 13 quilômetros quadrados, mas a pior região foi a um raio de 2,5 quilômetros do epicentro, onde quase nada sobreviveu.
Cerca de 100 mil pessoas morreram instantaneamente, e muitas outras faleceram no decorrer das horas seguintes, vitimadas por queimaduras extensas e outros ferimentos resultantes da detonação da bomba.
Em contraste com a vastidão de detalhes a respeito do que aconteceu naquele dia, existem apenas 5 imagens que mostram como, de fato, era estar em Hiroshima logo após o desastre. Todas elas foram tiradas por Yoshito Matsushige, um fotojornalista nascido na própria cidade que estava em sua casa quando se deu a explosão — ocorrida a apenas 2,7 quilômetros de distância dele.
Em um relato arquivado pelo site Atomic Heritage Foundation, o homem relembrou como foram os seus primeiros momentos após a detonação de Little Boy:
Eu tinha terminado o café-da-manhã e estava me arrumando para ir ao jornal quando aconteceu (...) Eu não ouvi nenhum som, mas, como eu posso dizer, o mundo ao meu redor se tornou branco brilhante. E eu fui momentanemanete cegado como se uma lâmpada de magnésio [usada para tirar fotografias antigas] tivesse se acendido na frente dos meus olhos. Imediatamente depois disso, veio a explosão”, disse ele.
“Eu estava nu da cintura para cima, e a explosão foi tão intensa que eu senti como se centenas de agulhas estivessem me perfurando de uma vez só. A explosão criou enormes buracos nas paredes do primeiro e do segundo andar. Eu mal podia ver meu quarto em meio à poeira”, acrescentou Matsushige.
O sobrevivente entrou procurou sua câmera fotográfica e algumas roupas, e saiu na rua, onde a cidade que existia ali mais cedo havia sido reduzida a ruínas.
Cenas de destruição
Ainda de acordo com o testemunho do fotojornalista, outro acontecimento chocante foi quando ele passou pela Ponte Miyuki, e encontrou um grupo de adolescentes em idade escolar que estavam na rua no momento da detonação.
Eles foram mobilizados para evacuar edifícios e estavam do lado de fora quando a bomba caiu. Tendo sido expostos diretamente aos raios de calor, eles ficaram cobertos de bolhas, do tamanho de bolas, nas costas, no rosto, nos ombros e nos braços. As bolhas estavam começando a estourar e suas peles se penduravam como tapetes. Algumas das crianças tinham até queimaduras nas solas dos pés. Eles perderam os sapatos e correram descalços pelo fogo ardente”, relatou o homem.
Matsushige ergueu sua câmera a fim de capturar as cenas de terror, mas precisou de cerca de 20 minutos para criar coragem de fazer o registro fotográfico. O motivo para sua hesitação é que ele apenas tinha ferimentos superficiais causados por estilhaços de vidro, enquanto as pessoas à sua frente "estavam morrendo".
"Foi uma visão tão cruel que não consegui me obrigar a apertar o obturador (...) Ainda hoje, lembro-me claramente de como o visor estava nublado com minhas lágrimas. Senti que todos estavam olhando para mim e pensando com raiva: 'Ele está tirando uma foto nossa e não vai nos ajudar em nada'", explicou ele.
Suas fotografias seguintes seriam tão difíceis quanto. Graças ao trabalho de Yoshito Matsushige, no entanto, existem documentos históricos hoje que nos permitem visualizar hoje a Hiroshima de 78 anos atrás, logo após o desastre.
Caminhei pela parte da cidade mais atingida. Caminhei por quase três horas. Mas não consegui tirar nem uma foto daquela área central. Havia outros cinegrafistas no grupo de transporte do exército e também no jornal. Mas o fato de nenhum deles ter conseguido tirar fotos parece indicar o quão brutal foi o bombardeio. Não me orgulho disso, mas é um pequeno consolo ter conseguido tirar pelo menos cinco fotos", concluiu o japonês ainda.