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O ilustre médico polonês salvou inúmeras pessoas dos nazistas com falso diagnóstico
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O ilustre médico polonês salvou inúmeras pessoas dos nazistas com falso diagnóstico

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Aventuras Na História
17/05/2023 18h45
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Um dos momentos mais violentos e perturbadores da história da humanidade foram os anos entre 1939 e 1945, quando o mundo todo observava, com medo, o desenrolar da Segunda Guerra Mundial. De um lado, estavam os Aliados (França, Inglaterra, Estados Unidos e, posteriormente, URSS), e do outro o Eixo (Alemanha, Itália e Japão), que promoveram uma grande perseguição, entre outros grupos, aos judeus por grande parte da Europa.

Porém, uma falha de interpretação muito comum de hoje em dia, é quando pensam que o mundo era dividido apenas nesses dois lados. Porém, da mesma forma como se observa em quaisquer conflitos políticos como esse, é importante notar que os civis do país em guerra são sempre os mais afetados, e que também nem sempre são coniventes com as decisões de seus representantes — tal como Hitler era o representante da Alemanha.

Um exemplo de figura muito importante nesse período, que hoje é bastante famosa, é a do industrial alemão Oskar Schindler, que durante o Holocausto — nome dado ao genocídio contra os judeus na época — salvou a vida de 1.200 pessoas, empregando-as em suas fábricas de esmalte e munições. 

O industrial alemão Oskar Schindler
O industrial alemão Oskar Schindler / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

No entanto, mesmo que Schindler tenha sido o mais famoso homem a salvar a vida de judeus, escondendo-os dos nazistas — história essa inclusive retratada no filme 'A Lista de Schindler' (1993), de Steven Spielberg —, ele não foi o único. Paralelamente, o médico polonês Eugene Lazowski também foi responsável por um feito heroico, mas utilizando-se de uma estratégia diferente. 

Ajuda secreta

Eugene Lazowski, que seria conhecido como 'Schindler Polonês' no futuro, tinha apenas 26 anos — já formado médico em Varsóvia — quando a Alemanha invadiu a Polônia, ação esta que serviu como estopim para a derradeira Segunda Guerra Mundial. Na época, serviu como segundo-tenente do exército de seu país, mas foi eventualmente capturado e preso em um campo de prisioneiros; mas eventualmente conseguiu escapar.

Após a fuga, como narra o The Times of Israel, mudou-se para Rozwadow — um subúrbio de Stalowa Wola, na Polônia —, onde começou a trabalhar na Cruz Vermelha Polonesa. Na época, como os judeus eram perseguidos e precisavam constantemente fugir de onde estavam, por todo o país havia se formado inúmeros guetos para esse povo e, adjacente ao quintal de Lazowski, haviam pelo menos 400 judeus.

Nos últimos meses de existência daquele gueto, antes de ser completamente dizimado pelos nazistas, Lazowski chegou a tratar judeus secretamente, além de ter fornecido suprimentos médicos. Nesse mesmo período, também foi ativo no Exército da Pátria, um movimento polonês de resistência aos alemães.

Porém, em julho de 1942, o gueto de Rozwadow foi completamente dizimado pelos nazistas, que mataram muitos judeus, enquanto outros foram levados aos campos de concentração para trabalho forçado. 

Eugene Lazowski
Eugene Lazowski / Crédito: Domínio Público

 

Plano mirabolante

Na época em que os nazistas estavam no poder da Alemanha, um grande medo existente entre as tropas era o tifo, doença transmitida por piolhos que chegou a dizimar regimentos do exército. E como eles pretendiam dizimar os judeus, e atribuíam a culpa de diversas coisas a eles, a propaganda antissemita retratava essas pessoas, de maneira geral, como portadores de piolhos infectados com essa doença.

Coincidentemente, um amigo de Eugene Lazowski, o médico Stanislaw Matulewicz, descobriu na mesma época da liquidação do gueto uma forma de fazer alguém testar positivo para tifo, mesmo que não tivesse a doença de fato. O método consistia em uma injeção de Proteus — o tifo epidêmico "morto".

Com o possível impacto da doença, quando um nazista se deparava com uma dessas pessoas, elas eram enviadas para a quarentena; exceto no caso dos judeus. Estes eram baleados no mesmo local e tinham a casa incendiada.

Então, com a descoberta, Lazowski e Matulewicz começaram a tentar ajudar as vítimas que viviam próximas, injetando tifo inativo em vários aldeões, poloneses e judeus. Alguns desses pacientes foram encaminhados para outras aldeias, onde testaram positivo e, pensando-se que se tratavam todos de poloneses, foram movidos a uma zona de quarentena. Somente 2 meses depois, 12 aldeias vizinhas foram incluídas nessa zona, mantendo de forma efetiva 8 mil habitantes — judeus inclusive — a salvo.

Stanislaw Matulewicz e Eugene Lazowski, respectivamente
Stanislaw Matulewicz e Eugene Lazowski, respectivamente / Crédito: Domínio Público

 

Suspeitas

Porém, como já mencionado, o tifo injetado nas pessoas não lhes causava nenhuma doença de fato, sendo assim inofensivo. Dessa forma, a falta de mortes naquela região, que os nazistas acreditavam ser extremamente infestada por uma doença extremamente letal, começou a levantar suspeitas.

Por isso, a Gestapo — polícia secreta nazista que monitorava e perseguia quem pudesse oferecer risco ao regime — enviou uma comissão de investigação à zona de quarentena, a fim de verificar os médicos. Porém, Lazowski era astuto, e adotou a mesma técnica que Oskar Schindler: nas visitas, mantinha a vodca, a música e a kielbasa (uma linguiça polonesa) sempre fluindo, distraindo os agentes.

O plano, por sua vez, deu parcialmente certo. Jovens médicos alemães foram até o local, coletaram amostras de sangue de alguns aldeões, que deram positivo para a doença do piolho. Mas, ao fim da ocupação da Polônia, um soldado alemão avisou Lazowski de que seria preso pela Gestapo, pois havia sido visto tratando de membros do Exército da Pátria. E foi nesse contexto que ele, junto de sua esposa e filha bebê, fugiu da cidade.

Fotografia antiga de judeus de Rozwadow em frente a sinagoga destruída na Segunda Guerra Mundial
Fotografia antiga de judeus de Rozwadow em frente a sinagoga destruída na Segunda Guerra Mundial / Crédito: Domínio Público

 

Depois da guerra

Durante longos 13 anos, Eugene Lazowski temia que suas atividades durante a guerra fossem descobertas, que o levaria a sofrer retaliações. Então, anos depois do fim do conflito e da morte de Hitler, ele foi para Chicago, nos Estados Unidos, em 1958, junto a sua esposa e filha.

Lá, estudou por mais uma década, e tornou-se professor de pediatria na Universidade de Illinois. Mesmo anos depois de sua aventura para salvar judeus, não contou a ninguém o que tinha feito.

Foi somente em 1993 que o médico polonês publicou um livro de memórias, chamado 'The Private War: Memoir of a Doctor Soldier' ('A Guerra Particular: Memórias de um Médico Soldado', em tradução livre), onde conta toda a sua trajetória e campanha durante a Segunda Guerra Mundial.

Alguns anos antes de sua morte — que se deu em dezembro de 2006 — Eugene Lazowski ainda retornaria à terra natal, para filmar um documentário em Rozwadow, junto ao amigo Matulewicz. No local, foram recebidos com muita comemoração e reuniões emocionantes.

Eu não era capaz de lutar com uma arma ou uma espada", disse na ocasião, como conta o The Times of Israel. "Mas encontrei uma maneira de assustar os alemães."
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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