Os ideais da Revolução Francesa ainda fazem sentido hoje?
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Aventuras Na História
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A Revolução Francesa foi um marco na história. Até hoje seus ideais persistem no imaginário dos povos, um movimento político e social que ocorreu na França entre 1789 e 1799.
O movimento foi inspirado pelos iluministas e resultou no fim do Antigo Regime e da monarquia absolutista. René Descartes (1596-1650), é considerado o pai do racionalismo moderno. John Locke critica a Teoria do Direito Divino dos Reis. Voltaire foi defensor das liberdades de expressão; religiosa, do progresso e da tolerância, em que propôs a monarquia parlamentar, que foi tentada neste período sem êxito, e a separação total entre Estado e Igreja, sendo, portanto, um dos primeiros defensores do Estado laico. Montesquieu propôs a divisão dos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
Os reis tinham o apoio do exército e da Igreja Católica sendo por essa considerados como enviados por Deus, portanto, não poderiam ser substituídos e o regime absolutista deveria se manter, pois era direito divino.
Antes da revolução a França estava em uma situação econômica ruim com dívidas devido a guerras. A burguesia alta e baixa, que hoje podemos considerar com alguma diferença classe média e média alta, era formada por negociantes e produtores, que pagavam os impostos enquanto o clero e os nobres não eram tributados. Muito semelhante ao estado atual onde o assalariado não tem como fugir dos impostos e os ricos pagam pouco.
Um termo, hoje tão difundido em nossa política “esquerda e direita” é um conceito sobrevivente e importante da Revolução Francesa, quando os membros da Assembleia Nacional se dividiam no Parlamento entre os partidários do rei, sentados à direita do presidente e os simpatizantes da revolução à sua esquerda. Ou seja, a nobreza à direita e os mais pobres à esquerda.
No Brasil, surgiu popularmente o termo “pobre de direita”, ou seja, cidadãos que pertencem a classe pobre e votam em candidatos da direita. Esses são estudados por cientistas políticos e sociólogos para entender o fenômeno, pois seria semelhante a um aldeão sentar-se entre os nobres. Vale ressalta que a esquerda é vista como comunista, algo que está longe de ser verdade.
Jacobinos e girondinos
Em outra fase da Revolução Francesa, dois grupos se diferenciaram: os girondinos e os jacobinos mais radicais, representados pela baixa burguesia, e que poderiam ser chamados hoje de esquerda. Esse grupo foi criado no século 18 por pequenos burgueses e proprietários rurais franceses, portanto a classe mais pobre, que queriam mudanças sociais mais intensas.
Durante a revolução, os jacobinos na Assembleia Nacional, sentavam-se ao lado esquerdo da sala de reuniões. Já os girondinos, que eram defensores de medidas mais conservadoras e poderiam ser considerados a classe mais rica, sentavam-se à direita.
Os jacobinos, assumiram o poder e, liderados por Maximilien de Robespierre, guilhotinaram milhares de opositores girondinos. Esse período ficou conhecido como “período do terror”. No entanto, eles defendiam o voto universal, a igualdade entre todos e a liberdade religiosa. Em 21 de janeiro de 1793 o rei Luís XVI foi executado e em 16 de outubro do mesmo ano foi a vez de sua esposa, Maria Antonieta.
Posteriormente os girondinos retomaram o poder, Robespierre foi morto e o general Napoleão Bonaparte foi convocado para apoiar o regime, tornando-se cônsul e depois imperador — praticamente voltando ao que era antes da revolução. Um líder absolutista.
Os ideais contemporâneos
Atualmente, vemos em nosso país, um Estado laico, sendo dominado por conceitos religiosos. Estamos regredindo na história aos princípios que culminaram com a Revolução Francesa.
Escutamos os termos “direita” e “esquerda”, além de “extrema esquerda” e “extrema direita” nos noticiários repetidamente. Ao longo da história a extrema esquerda pode ser representada por Stalin na Rússia e Mao na China. E a extrema direita por Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália. Estão surgindo outros líderes que pretendem dominar seus países por meio de um conservadorismo exagerado.
O lema da revolução "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" continua como uma utopia de todas as sociedades atuais. No entanto, colaborou para acabar com os regimes absolutistas na Europa e nos países da América do Sul.
*Antônio Carlos Brandão é médico com mais de 40 anos de experiência, doutor em Ciências da Saúde e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP); também publicou vários trabalhos na área científica. Em paralelo à carreira na saúde, também é escritor de literatura fantástica. Lançou o primeiro livro de ficção em 2015, “Murmúrio das Plantas”, que recebeu homenagem na Câmara Municipal de São José do Rio Preto. Agora, publica Verde, amarelo e outras cores, inspirado no realismo fantástico e na filosofia.
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