Poluição por chumbo dos romanos pode ter causado queda no QI da Europa
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Graças à ciência e à tecnologia modernas, hoje temos conhecimento de que elementos químicos como o chumbo é extremamente prejudicial à saúde a longo prazo. E segundo um novo estudo, foi a poluição do ambiente por esse elemento, causada pelos romanos, que afetou a Europa a longo prazo e levou ao declínio do QI dos europeus.
O estudo em questão foi publicado na última segunda-feira, 6, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Quem o lidera é o professor pesquisador de hidrologia da Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, Joe McConnell.
A pesquisa começou com a iniciativa dos pesquisadores de tentar compreender os níveis de poluição por chumbo no Ártico entre 500 a.C. e 600 d.C., período que engloba inclusive o surgimento e a queda do Império Romano. Para isso, realizaram uma análise de núcleos de gelo extraídos na região, que foi descrita no estudo.
"Este é o primeiro estudo a pegar um registro de poluição de um núcleo de gelo e invertê-lo para obter concentrações atmosféricas de poluição e então avaliar impactos humanos", explica McConnell em comunicado. "A ideia de que podemos fazer isso há 2.000 anos é bem nova e empolgante".
No estudo, conforme repercute a Revista Galileu, a equipe analisou amostras de gelo de áreas como a Groenlândia e a Antártida, que focam extraídas com enormes brocas que geraram colunas de gelo de até 3.400 metros — ou seja, nas investigações os pesquisadores também conseguiram alcançar as profundidades mais distantes da história.
Contaminação por chumbo
Proveniente da queima de combustíveis fósseis e mais processos industriais, o chumbo, quando presente no organismo humano, pode afetar gravemente o sistema nervoso, os rins e até causar danos ao cérebro. E após a coleta das amostras mencionadas, os pesquisadores puderam identificar a presença de isótopos de chumbo presente na atmosfera da época.
Após as investigações em laboratório, em conjunto com pesquisas históricas, foi descrito em um modelo de computador os níveis gerais de poluição atmosférica por chumbo do continente europeu. E foi então que os pesquisadores identificaram um aumento significativo dessa contaminação em torno de 15 a.C. — no fim da Pax Romana, um período de prosperidade e riqueza —, pouco antes da ascensão do Império Romano, em um pico que durou até 180 d.C..
Segundo o The Guardian, foi estimado que o Império Romano liberou mais de 500 mil toneladas de chumbo na atmosfera, muito provavelmente devido às minerações de prata da época, que utilizavam-se de um material abundante em chumbo para a extração do metal. E esse aumento na liberação de chumbo foi, inclusive, responsável por sérios efeitos na função cognitiva da população ao longo do tempo.
O que a pesquisa detectou foi uma provável queda nos níveis de QI da população em uma média de 2 a 3 pontos. "Sabe-se que o chumbo tem uma ampla gama de impactos na saúde humana, mas escolhemos focar no declínio cognitivo porque é algo que podemos quantificar", pontua Nathan Chellman, professor na Universidade de Nevada, também no comunicado.
Uma redução de 2 a 3 pontos no QI não parece muito, mas quando você aplica isso a praticamente toda a população europeia, é algo muito grande", acrescenta Chellman.
Vale mencionar que, segundo um estudo realizado em 2019 pelo Banco Mundial, estima-se que 5,5 milhões de pessoas com 25 anos já morreram no mundo por doenças cardiovasculares associadas à intoxicação por chumbo. Isso sem mencionar que este metal também se relaciona a problemas como infertilidade, anemia e perda de memória.
Por isso, os pesquisadores concluem que a quantificação da poluição de chumbo dos romanos, bem como seus impactos na antiguidade, demonstra de que forma "os humanos têm impactado sua saúde por milhares de anos por meio de atividades industriais".
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