Por que os egípcios colocavam línguas de ouro em algumas múmias?
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O Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito anunciou no fim de último mês de novembro ter descoberto várias múmias com línguas de ouro em um cemitério nas proximidades da antiga cidade de Quesna (ou Quwaysna), habitada no período entre 300 a.C. e 640 d.C.
Os restos mortais, que são datados de cerca de 2 mil anos atrás e infelizmente estão em mau estado de preservação, se encontravam em caixões de madeira, tendo sido enterrados com uma série de artefatos.
Entre os bens funerários, estão cerâmicas, colares e amuletos de ouro em forma de flor de lótus ou besouro (também conhecidos como escaravelhos).
O órgão governamental do Egito ainda não divulgou qual a quantidade de múmias desenterradas ou se já temos pistas a respeito de suas identidades, conforme repercutido pelo Live Science.
O que sabemos é que os achados não são os primeiros em que pesquisadores descobrem lascas de ouro onde deveriam estar as línguas — em 2021, houveram duas outras descobertas.
Vale mencionar que, em todos os casos, os corpos mumificados remontavam ao período em que a região estava sob dominação greco-romana.
O curioso ritual funerário pode ter a ver com as intrincadas crenças do Império Egípcio a respeito da vida após a morte, conforme especulado por especialistas.
O significado da prática
De acordo com a egiptóloga paquistanesa Salima Ikram, repercutida pelo Live Science, a troca da língua pelos objetos de ouro se destinaria a permitir que os mortos pudessem se comunicar no pós-vida.
Isso, pois, Osíris, o deus que reina sobre o submundo na mitologia egípcia, seria avesso a barulhos, de forma que ordenou o completo silêncio em seus domínios — por vezes chamados, inclusive, de "Terra do Silêncio", conforme informações apuradas pelo Science Alert.
A língua dourada, nesse contexto, poderia ser vista como uma maneira de garantir que o falecido fosse capaz de falar sem fazer ruídos após acordar em sua nova existência.
Segundo apontado por Ikram, também temos registros de múmias com olhos de ouro, juntamente à língua, o que, dentro da lógica das crenças egípcias, garantiria uma experiência ainda melhor no mundo dos mortos: "permitiriam que o falecido falasse, visse e saboreasse a vida após a morte", descreveu a especialista.
O metal dourado seria visto inclusive como "a carne dos deuses" pela antiga civilização, de forma que a substituição de partes do corpo de um cadáver por ouro poderia simbolizar "manifestações da transformação dos mortos em seres divinos".
Já o motivo pelo qual apenas alguns corpos embalsamados ganharam a característica, e não todos, prossegue sendo um mistério, uma vez que o ouro não era escasso no Império Egito, sendo frequentemente empregado na confecção de ornamentos funerários.