Quem é Julia Wandelt, jovem polonesa que afirma ser Madeleine McCann?

Em 3 de maio de 2007, Madeleine McCann, então com quase quatro anos de idade, desapareceu enquanto passava férias com a família na Praia da Luz, uma região turística no sul de Portugal. Naquela noite, seus pais, Kate e Gerry McCann, saíram para jantar com amigos em um restaurante a cerca de 50 metros do apartamento onde estavam hospedados, no complexo turístico Ocean Club.

Eles deixaram Madeleine e seus dois irmãos mais novos dormindo no quarto e, ao longo da noite, revezavam-se para verificar as crianças. Por volta das 22h, Kate foi até o apartamento e percebeu que a janela do quarto estava aberta e Madeleine não estava mais na cama.

O desaparecimento foi imediatamente reportado às autoridades locais, dando início a uma das investigações criminais mais midiáticas da história. Apesar dos esforços da polícia portuguesa e britânica, bem como de inúmeras buscas e teorias ao longo dos anos, o paradeiro de Madeleine McCann permanece desconhecido.

Mais de uma década depois, a história da menina desaparecida voltou a ganhar atenção quando em 2023 a jovem polonesa Julia Wandelt, também conhecida como Julia Wendell ou Julia Faustyna, afirmou nas redes sociais acreditar ser Madeleine.

‘Raízes traumáticas’

Em entrevista a BBC em janeiro de 2024, Julia contou que sua suspeita tem raízes em uma “infância traumática”. Ela disse que se sentia isolada na escola e que, quando criança, foi abusada sexualmente. 

Ao iniciar terapia por volta dos 20 anos, percebeu que suas memórias infantis eram fragmentadas, com espaços em branco que a impediam de se lembrar de partes de sua história. Com essa incerteza, ela começou a questionar se havia sido adotada e passou a pedir provas de sua origem para a família.

"Vocês podem me mostrar algumas fotos da infância? Alguma foto da gravidez?", perguntava. No entanto, segundo ela, sua família rejeitou suas preocupações e evitava responder. A atitude fez com que ela se questionasse ainda mais: e se não tivesse sido apenas adotada, mas sim sequestrada?

Buscando respostas, Julia se voltou para a internet e começou a pesquisar casos de crianças desaparecidas. Foi então que encontrou a história de Madeleine McCann. Ela disse à reportagem nunca ter ouvido falar do caso antes, pois na Polônia não havia sido uma notícia tão grande.

O que chamou sua atenção foi um dos esboços de suspeitos, que ela acreditava se parecer muito com seu agressor. Sua suspeita se intensificou quando notou uma semelhança física incomum entre ela e Madeleine: ambas têm coloboma da íris, uma rara anormalidade ocular que afeta um em cada 10.000 bebês. 

Julia entrou em contato com a polícia na Polônia e no Reino Unido, mas afirmou que "ninguém a levou a sério". Como não obteve resposta das autoridades, recorreu às redes sociais para divulgar sua história. Em pouco tempo, sua conta no Instagram explodiu em popularidade, atraindo mais de um milhão de seguidores.

O caso ganhou repercussão internacional e, em março de 2023, ela foi convidada para o programa Dr. Phil nos Estados Unidos. Durante a aparição, anunciou que havia feito um teste de DNA. Os resultados, porém, revelaram que Julia é polonesa, com ascendência lituana e romena. Em outras palavras, ela não é Madeleine McCann.

Na época, sua família divulgou um comunicado reafirmando que "sempre souberam que Julia era sua filha" e que tinham memórias e fotos para comprovar. Depois da revelação, ela publicou um pedido de desculpas aos McCanns, temendo que sua história pudesse ter causado mais sofrimento a eles. 

Novos resultados?

No início deste mês, Juliavoltou a insistir na suposta ligação com os McCanns. Em uma nova conta no Instagram, "@amijuliawandelt", ela divulgou resultados atualizados de DNA que, segundo ela, teriam sido analisados por um "especialista mundial". 

A jovem alega que certos marcadores genéticos, como estrutura dos olhos, dentes e padrões de voz, coincidem com os de Madeleine McCann. Porém, ela não revelou a identidade do especialista que teria realizado a análise.

Julia também declarou que novos exames indicam uma compatibilidade de 69,23% entre seu DNA e supostas amostras coletadas na cena do crime em Portugal. Segundo ela, as evidências genéticas sugerem que Gerry McCann poderia ser seu pai biológico. No entanto, os pais de Madeleine teriam recusado participar de um teste de DNA para verificar suas afirmações.

O porta-voz da jovem, Surjit Singh Clair, reforçou a exigência para que tanto os McCanns quanto os pais poloneses de Julia realizem testes de DNA. “Eles gastaram US$ 39,7 milhões nesta investigação e agora não vão gastar US$ 119 em um teste de DNA, embora ela tenha se oferecido para pagar por isso”, disse em entrevista ao Daily Mail.