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SS Ventnor: A embarcação que ficou conhecida como 'navio dos caixões'
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SS Ventnor: A embarcação que ficou conhecida como 'navio dos caixões'

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Aventuras Na História
18/02/2023 23h00
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Quando se pensa em tragédia marítima, a primeira história que vem na mente da maioria das pessoas é a do RMS Titanic, o grande navio de passageiros britânico que naufragou em 1912 após ter atingido um iceberg. No entanto, o mundo está repleto de histórias semelhantes, ou até mesmo com peculiaridades mais chamativas que a do Titanic.

10 anos antes da tragédia marítima mais famosa da história, em 1902, um navio cargueiro da Nova Zelândia foi responsável pela criação de um dos cenários mais macabros que uma praia já abrigou na história. Confira, a seguir, a história do SS Ventnor, que ficou conhecido como 'o navio dos caixões' neozelandês.

Fotografia do SS Ventnor
Fotografia do SS Ventnor / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Grande carga 

Como conta o portal Histórias do Mar, na segunda metade do século 19 um grande número de imigrantes chineses viajaram em direção à Nova Zelândia, para trabalhar nas minas do país, devido à carência de operários que existia ali. Porém, o que deveria ter sido apenas uma viagem momentânea para juntar dinheiro culminou na morte de 499 desses trabalhadores.

Então, anos depois, o comerciante sino-neozelandês Choie Sew Hoy, que ficara rico graças ao trabalho dos imigrantes chineses nas minas, fez uma encomenda: pediu para que o corpo de todos esses 499 trabalhadores chineses mortos nas minas fossem exumados dos cemitérios e transportados de volta para a China, para que descansassem eternamente em sua terra natal no que chamam de "folhas caídas", expressão que remete à tradição chinesa de retornar os mortos ao seu local de origem.

Foi ele mesmo quem bancou tudo, desde a exumação dos corpos até o fretamento do fatídico navio que faria o transporte: o britânico SS Ventnor, construído na Escócia em 1901.

Naufrágio do "navio dos caixões"

Ironicamente, o próprio Choie Sew Hoy faleceu um pouco antes de a viagem do SS Ventnor ser realizada, de forma que ele ocupou a vaga de um caixão a bordo. Porém, o navio não chegou nem perto de seu destino final: ao chegar próximo aos recifes de Hokianga, na ilha norte da Nova Zelândia, ele bateu e, inevitavelmente, afundou.

A tragédia, que já parecia ruim o suficiente por ter culminado na morte de 13 tripulantes do navio, incluindo seu capitão, chocou a população local por fomentar a criação de um cenário macabro. Isso porque, com o naufrágio, todos aqueles 500 caixões com restos mortais ficaram à mercê das correntezas e, arrastados pela água, alcançaram as praias da região — sim, as praias foram ocupadas por centenas de defuntos, exceto por aqueles que permaneceram submersos.

Tripulantes do 'navio dos caixões' que escaparam do naufrágio
Tripulantes do 'navio dos caixões'  / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Porém, um elemento importante dessa história é a participação dos nativos da Nova Zelândia, os Maoris. Sensibilizados com a visão que tiveram de suas praias, e com a ideia de os corpos daqueles trabalhadores chineses não terem um enterro digno, eles começaram a recolher os ossos nas praias e enterraram-nos em seus próprios cemitérios, muito mais por uma questão de respeito, pois sequer sabiam de quem se tratavam.

E, dessa forma, permaneceram os restos mortais desta lamentável história, que ficou esquecida na história neozelandesa por mais de um século.

Identificação do SS Ventnor

Em maio de 2012, 110 anos depois do episódio do naufrágio, um grupo de mergulhadores amadores encontrou os restos do SS Ventnor, cuja localização exata ainda era desconhecida, a cerca de 150 metros de profundidade. Então, um deles, o cineasta neozelandês John Albert, teve uma ideia: filmar os destroços e produzir um documentário.

Porém, quando soube do achado e dos planos do cineasta, a empresária Jenny Sew Hoy Agnew — uma tataraneta do comerciante que fretou o navio mais de um século antes — iniciou um movimento, apoiada por diversos descendentes daqueles trabalhadores chineses, para impedir a produção do documentário, afirmando que filmar os restos do SS Ventnor, que já se tornara uma espécie de cemitério subaquático, seria equivalente a profanar sepulturas.

John Albert, por sua vez, insistia na ideia, afirmando que nenhuma ossada seria exibida em seu documentário e que o navio era parte da história da Nova Zelândia, e por isso sua trajetória precisava ser contada.

'Fallen Leaves'

Desde então, o caso do documentário sobre o SS Ventnor segue sem solução. Embora tenha sido de fato produzido, com o nome 'Fallen Leaves' — 'Folhas Caídas' em portugueses, em referência à expressão sobre tradição chinesa de regressar os mortos a suas terras de origem —, o documentário nunca foi exibido, graças à disputa na Justiça em que se envolve.

Porém, embora a disputa judicial tenha sido ainda infrutífera, sem algum resultado aparente, o retorno do caso às grandes mídias neozelandesas rendeu um fato positivo: os descendentes daqueles maoris que recuperaram os ossos e os enterraram em seus cemitérios, mais de um século antes, foram atrás de Jenny Sew Hoy Agnew e lhe contaram como aqueles restos mortais foram recolhidos e enterrados.

Com isso, uma cerimônia conjunta foi realizada alguns meses depois, tanto com a participação de descendentes dos trabalhadores chineses vitimados nas minas quanto com a de maoris. Com isso, aqueles chineses em solo neozelandês finalmente descansaram em paz, e, mesmo não retornando para sua terra natal, encontraram um novo lar.

Praia com bote de sobreviventes do naufrágio
Praia com bote de sobreviventes do naufrágio / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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